Sonho meu – Samba nosso

Foto: César Romero

Era 1978, na madrugada calorenta e melancólica do Rio de Janeiro, Dona Ivone dividiu com Délcio Carvalho a honra de, em linhas e rimas, construir o mais lindo poema que o samba conheceu. Puro e marcado de amor, o sambinha fala de esperança. De se guiar pelas estrelas e um desejo.

Sonho meu o futebol ser tipo música. Você sente, constrói e celebra. Sonho meu que uma noite do meu time fosse leviana tranquila, cervejinha e torresmo. Sorriso, paz e prazer. Sonho meu que verde fosse a cor da esperança. Sonho meu que meu maior amor fosse sereno, seguro, sem stress. Sambinha.

Por uma pechincha, o boteco me abrigaria pra um jogo de roda e bilhar. Insisto, bobo, em te ver. Sonho meu que você correspondesse. Sonho meu, também, que eu visse em você um nau alinhado à bombordo e à estibordo. Me parece, pesadelo meu, que não tem nada em ordem, ouro e puro desalinho. Refrão desafinado, dando água.
Afundando.

Se acabou o gás, o show tem que continuar. Os ingressos vão se esgotar, quando voltar, mas até lá, não seja tão pouco. Sonho meu que fosse tudo mais vistoso, mais arroz com feijão e farofinha. De vez quando é caviar, de vez em sempre é de desanimar. Sonho meu que a conquista não só fosse maquiagem. Sonho ainda que acabe em pizza. E vinho. E taça.

Meu nome não é favela, mas em desalinho, ficou meu coração. Tem ficado. Todo dia. Não pense que meu coração é de papel. Não brinque com meu interior. A gente tem deixado a vida levar, mas não quero que nosso amor acabe assim. Só não faça gato e sapato de mim. Não maltrate linhas cores.

Camarão que dorme, a onda leva
Não leve, por favor, o sonho
Sonho meu!