Palmeiras diferente vence com menos bolas de lado e mais bolas para frente

O torcedor palmeirense se identificou com o que viu nesse domingo no Allianz Parque. A euforia e os aplausos após os 90 minutos permitem essa conclusão. O 3 a 0 diante do Paraná sob o comando do técnico interino Wesley Carvalho mostrou alguns atributos que o torcedor queria ver nos tempos de Roger Machado:

1 – Ideias novas no time titular
2 – Vontade de ampliar o placar transformada em gol
3 – Resultado elástico

– IDEIAS NOVAS NO TIME TITULAR

A entrada da joia da base Artur mexeu com o torcedor logo no anúncio da escalação, que vibrou com a novidade. Pela direita, o jogador tem características parecidas com aquelas de Keno, o último titular da posição, e bem diferentes de Scarpa, que não se destacou por ali desde o retorno da Copa do Mundo. Questionei o próprio Artur ao fim da partida se ele poderia ser considerado o “novo Keno” e recebi em resposta um sorriso e as palavras de que o futebol pode ser considerado parecido.

O resultado do jogador foi a demonstração de uma velocidade impressionante pelo lado do campo, desejo incessante de buscar a bola, vindo ela de uma roubada ou de um passe, além de bons dribles e arremates. Tão bons que um deles gerou o rebote que valeu o segundo gol de Bruno Henrique no jogo.

– VONTADE DE TRANSFORMAR O PLACAR TRANSFORMADA EM GOL

Roger Machado trabalhou durante toda a pausa da Copa do Mundo sob a responsabilidade de tornar o time forte o suficiente para não desperdiçar pontos como desperdiçou contra Botafogo, Ceará e Flamengo, quando a equipe saiu na frente, mas não conseguiu sustentar a vantagem. Após o Mundial, nova frustração para a torcida diante do Santos. Contra o Galo a situação só não se repetiu por conta de um gol no último minuto da partida. Diante disso, a derrota para o Fluminense decretou o fim do ciclo de Roger.

Vale observarmos a diferença de comportamento da equipe nos três jogos que disputou antes do confronto com o Paraná e comparar com os números atingidos na vitória por 3 a 0 sobre o Tricolor.

Palmeiras 1 x 1 Santos – 49% de média de posse de bola. 366 passes certos e 46 errados. 8 finalizações certas e 5 erradas.
O time abriu o placar com seis minutos, deixou a bola com o Santos e desperdiçou diversas oportunidades de matar o jogo em contragolpes. No fim, levou gol em bola aérea e desperdiçou três pontos em um clássico disputado fora de casa.

Palmeiras 3 x 2 Atlético-MG – 48% de média de posse de bola. 317 passes certos e 42 errados. 5 finalizações certas e 4 erradas.
Contra o Atlético-MG, mais uma vez abriu o placar nos minutos inicias da partida, mas não conseguiu administrar a vantagem que conseguiu abrir duas vezes durante o jogo. Precisou de um gol no último minuto para conquistar a vitória dentro de casa.

Fluminense 1 x 0 Palmeiras – 59% de média de posse de bola. 412 passes certos e 47 errados. 3 finalizações certas e 9 erradas.
Diante do Fluminense, obteve maior posse de bola por ter saído atrás no placar no fim do primeiro tempo. O adversário passou a jogar mais atrás na partida, porém o Palmeiras não conseguiu ter sucesso em 12 conclusões a gol nos 90 minutos.

Palmeiras 3 x 0 Paraná – 55% de média de posse de bola. 404 passes certos e 34 errados. 12 finalizações certas e 11 erradas.
Contra o Paraná, o Palmeiras abriu o placar na primeira etapa e não optou por esperar o Tricolor para contra-atacar, como foi diante de Santos e Atlético-MG. Assumiu a responsabilidade de construir uma vantagem maior e finalizou 23 vezes a gol. Foi o jogo em que o time mais concluiu em todo o Brasileirão. Ainda assim, trocou praticamente o mesmo número de passes do jogo em que perdeu para o Fluminense, quando ainda obteve maior posse de bola, mas finalizou praticamente a metade das vezes.

– RESULTADO ELÁSTICO

A insistência em bater no gol deu resultado, já que o time venceu por 3 a 0, fato que não acontecia desde a 6ª rodada do Brasileirão. Entretanto, naquela partida a equipe concluiu apenas 14 vezes, praticamente a metade, embora tenha encerrado a partida com média de 54% de posse de bola, praticamente a mesma do duelo diante do Paraná.

O QUE FEZ O TORCEDOR ENXERGAR ISSO?

O torcedor deixou o Allianz Parque com a sensação de que algo mudou. Na zona mista, Willian deu uma longa resposta para mim quando foi questionado sobre a mudança de postura que o presidente admitiu querer ao demitir Roger Machado. O resumo dela é que houve, sim, uma conversa interna com os atletas sobre o assunto.

Difícil imaginar que apenas dois dias de treinos com Wesley Carvalho possam ter mudado tanto o Palmeiras, embora certamente haja uma parcela de seu trabalho nisso. Esses três pontos observados pelo torcedor e analisados aqui podem ser o primeiro passo para que o técnico Felipão assuma uma equipe com a cara mais próxima daquilo que a arquibancada do Palmeiras gostaria de ver.