Palmeiras na veia, a grande alma verde

A pessoa que me mostrava o futebol, que sentava e me convidava para ver todos os tipos de esporte, mas nenhum deles era igual o Palmeiras

Para começar a conversa, essa é a alma mais verde que eu já conheci, acho que é assim que posso explicar essa pessoa. Desde pequena, cresci grudada com ele, falam que geralmente acontece quando as filhas são mulheres, parece que elas buscar ter mais tempo com o pai.

Nasci e cresci ao lado dessa alma verde, que, a cada dia mais, aumentava a minha paixão pelo esporte que é presente até hoje em nossa televisão e que me convida a sentar ao seu lado e assistir. Mas tudo era diferente quando era o Palmeiras.

Quando era o Palmeiras, o choro escorria, a risada e os xingos tomavam conta do ambiente, é com o coração que a alma verde, a minha alma verde, vive cada momento desse.

Minha alma verde é meu pai, é toda a minha inspiração e todo meu amor por esporte e jornalismo. Meu palmeirense é de sangue verde, descendente de italiano, daquele bem escandalosos, sabe? É, coitado dos vizinhos…

É o que cara que eu busco para tudo, fã do Mauro Beting, conhecedor e apreciador de todos os esportes que você possa imaginar, uma pessoa muito emocional e palmeirense de carteirinha, com todo seu louco amor.

Papai tem histórias engraçadas, boas histórias, que eram contadas com toda naturalidade em todos os churrascos de família. O palmeirense louco é tão louco que trabalhava durante o dia e pela noite, além da faculdade, mas sempre que podia, arrumava um tempinho para fugir e ver seu time.

A alma verde tomava conta do ambiente. O pai já quase apanhou também, aí você me pergunta o porquê e foi simplesmente por acertar um 5 a 0 do Palmeiras. Mas não foi básico não, o palmeirense acertou o placar, os jogadores que iam marcar e a ORDEM! Sim, até a ordem! Me fala se esse cara não é de sorte?

Papai é um colecionador de memórias, pergunta para ele qualquer coisa sobre o Palmeiras, está na ponta da língua para responder. Sempre falo que ele deveria ser comentarista ou escritor, são hobbies que carrega na vida. Mas não sei se saberia deixar de lado tão bem o seu Palmeiras.

A primeira Libertadores, 1999, eu não era nem planejada para nascer, vim ao mundo somente em 2001. Mas ele estava lá, comemorando e chorando, como sempre foi. A primeira e tão sonhada obsessão estava brilhando nos olhos dele. Agora, 21 anos depois, é até engraçado pensar que ele ainda fica arrepiado e chora por causa de 99, da primeira.

Meu pai sempre fica bravo por eu não me controlar vendo futebol, por eu ficar tão nervosa. Só que ele entendeu, em algum momento, o que isso significa, porque significou para ele. Após o sufoco contra o River, olhei para ele e só falou: “Eu nunca mais faço essa merda de novo”, acho que ele queria dizer sobre sofrer.

Logo depois, o sorriso já estampava o rosto e os olhos brilhavam de pensar. “A gente tá na final da Libertadores, vamos comemorar, para de chorar”, foi essa a ordem que escutei quando a ficha dele realmente caiu.

Pai já teve altos e baixos, sempre quando fica nervoso fala que não vai mais ao estádio, que não vai ver mais jogo e nem comprar camisa. Ele faz tudo diferente! A coleção de camisa é IMENSA, os copos? Nem se fala, tem TODOS do São Marcos, o seu maior ídolo. É meu sonho fazer papai conhecer o santo! Eu acho que eu não conseguiria falar, imagina ele, ia levar e já chamar a ambulância.

Em 2015, na Copa do Brasil, fomos furtados antes do jogo, ele entrou querendo cancelar tudo, falando que não ia mais gastar dinheiro com Palmeiras, que não ia mais ver jogos e muitas coisas. Quando o grito de campeão ecoava a sua garganta, o senhor Leandro esqueceu de todas as falas e só vivia aquele momento dentro do Allianz Parque, no gol sul. Viu de perto o Prass marcar.

Ah, e quase me esqueci, por falar em camisa ele tem aquela famosa de 1999, a da obsessão. Mas não é qualquer uma, é uma camisa autografada por ninguém mais que Evair, um cara que o palmeirense conhece só um pouco, né? Ficamos na fila do shopping esse dia, mamãe estava grávida e lá estávamos nos esperando para conhecer o cara de 99. Essa camisa é o xodó, ele não usa, ninguém pode mexer. A favorita eu não sei, pois existem muitas, mas a mais marcante, com certeza!

Papai é um palmeirense amado por todos, que fala sobre todos os times, mas até que alguém fale algo do seu Palmeiras. Desce a boa cerveja que a conversa vai ser longa e boa.

Conhecido como Fiori, o sobrenome bem famoso na Itália, ele não nega nenhum traço da sua alma e sangue esverdeados. O famoso Leandro Fiori, meu pai, é conhecido pelo seu fanatismo, pela sua sinceridade, amor e compaixão. É o exemplo que todo mundo quer ter.

Meu pai é o que chamo de famoso morde e assopra, ele sempre cobra o melhor, porque, como o próprio diz, vou ser a melhor. E a gente aprende a lidar com ele. O coração é o maior do mundo, é inspiração diária para seguir com tudo e é a força que vai estar do meu lado nessa Libertadores. Vinte e um anos depois, aos seus 41, eu ainda acho espetacular vê-lo chorar pelo seu time. Eu te amo e te dedico isso!