Palmeirense de cor

Jairo Papini foi conselheiro do Palmeiras por dois anos. Diretor do tênis de mesa do clube, trouxe Hugo Oyama para ser campeão pelo clube do coração. Pai da Bia, do Léo e Tati, fez todos palmeirenses. Como ele e a mulher Mara. Filha mais velha de um palmeirense que a levou sempre ao estádio.

A paixão pelo futebol e pelo esporte fez com que fizesse a Tatiana tão palmeirense quanto esportista. Ginasta torcedora, sócia e atleta palmeirense.

Paixão de criança do Jairo. Desde criança. Como criança o Palmeiras o levou nesses últimos 11 anos com mal de Alzheimer. Ele mal conversava. Mas quando falava, só falava de Palmeiras. Só queria vestir Palmeiras. Quando a Mara colocava outra roupa, ele voltava ao quarto pra se vestir de verde. Muito jovem teve a doença, com apenas 55 anos. Mais jovem se sentia quando o Palmeiras o levava.

Todo dia ele perguntava quando a gente jogaria No dia de jogo ele ficava mais feliz. Agitado. Comia rápido para ir ao estádio. Por lá mal sentava. Batia palmas o jogo todo. Chorava com o time. Cantava o hino. E voltava a ser uma criança como todo torcedor. Todo Jairo.

O Palmeiras o reconectava. As lembranças de cor voltavam. A dor da família amenizava. Dia de Palmeiras para os Papini era dia do Jairo voltar a ser o que todos somos. Uma criança gritando Palmeiras. Cantando Palmeiras. Como se fossem as Academias que ele viu ainda mais jovem. Como ficava nos últimos 11 anos.

Ninguém merece mal algum. Mas eu que prezo, vivo e trabalho a memória, imagino o que deva ser a perder. O que seria olhar quem ama e não saber quem é.

Mas o futebol é tão poderosos que casos como o de Jairo são usuais. As mais antigas e incondicionais paixões sobrevivem. Como se fossem um HD interno protegido numa nuvem que se acessa pelo toque do que mais nos toca.

Hoje ele nos deixou. Nestes dias em que gente jovem nos deixa. Em que mal podemos dar adeus.

Mas fica aqui meu abraço. Porque Jairo me inspirou para um projeto que deve sair do papel em breve. Para trazer mais gente que perde a memória mas segue ganhando o Palmeiras ao novo Allianz Parque. Ao velho Palestra. Ao eterno Pacaembu.

As lembranças mais profundas são as incondicionais. Amor de Mara, Bia, Léo e Tati. Amor de Palmeiras. A nossa paixão de cor. De "cor" como eu "sei essa escalação de cor". Como Jairo ainda cantava o nosso hino, como no vídeo. Como Jairo foi assim internado pela última vez.