Por que a mídia não fala das boas ações das torcidas organizadas?

Poucas coisas são organizadas no futebol brasileiro. As torcidas são das mais, tanto as organizadas quanto as profissionais. A esmagadora maioria da violência no futebol, dentro e fora dos estádios, parte dela – ou da minoria violenta delas. Caso de polícia. Mas quando as torcidas fazem grandes ações sociais, a mídia não dá bola. Ou a compara com as benemerências da Máfia.

No domingo, a Mancha Alviverde arrecadou mais de 100 toneladas de alimentos, máscaras e outros produtos em live solidária no YouTube de mais de sete horas (com a ajuda da Crefisa que patrocina o Palmeiras e também banca o Carnaval da torcida/escola). Foram 25 no domingo, e mais 75 toneladas em outras ações sociais anteriores.

Quem na mídia deu bola?

Quem noticiou?

Eu mesmo só estou escrevendo agora. Mas exatamente por esperar a repercussão quase zero a respeito na "grande" mídia. Nós. Os responsáveis.

Claro que no mesmo horário havia alguns torcedores ligados à torcida, a outras facções, e a outros credos, que estavam na Paulista para pegar na porrada gaviões da fiel que se manifestavam contra o governo. Mais do que um combate entre palmeirenses e corintianos, a treta era entre torcedores de direita e de esquerda.

Isso foi mais noticiado do que a grande ação promovida pela torcida e também escola de samba.

Nenhuma das duas deve ser escamoteada. Escondida pela imprensa. São fatos. São feitos. Alguns mal feitos. Mas é o que há.

Mas há uma gigantesca prevenção da mídia em falar coisas boas das torcidas. E uma enorme intenção de noticiar qualquer um dos zilhões de escorregões de seus MEMBROS.

Mais do que das torcidas.

Não confundamos um, ou alguns, com todos. Em qualquer lugar, em qualquer situação. Nas urnas e ruínas.

Conheço razoavelmente bem as organizadas. Por dever de ofício desde 1990, por frequentar arquibancadas desde 1972.

Já vi, já senti, já sofri, já fui ameaçado várias vezes, nas ruas, nas redes antissociais, nos estádios, nas cabines, e até mesmo algumas vezes (muito menos) nas próprias quadras. Tanto como já fui homenageado algumas vezes por elas, com enorme honra. Já recebi muito carinho de muitos membros. Já recebi muito respeito e mesmo carinho de organizados/uniformizados de torcidas de outros clubes.

Um dos maiores prêmios que tenho como jornalista e como pessoa foi ter um texto meu afixado na Gaviôes quando o Corinthians fez 100 anos.

Deploro sempre quando qualquer torcedor é mais Mancha do que Palmeiras. Mais Gaviões do que Corinthians. Mais qualquer torcida do que o próprio clube. Grita mais o nome da torcida na arquibancada do que do time que realmente nos une.

Tem muita coisa errada nas organizadas. Criminosa mesmo, e não apenas pela virulência e violência. Como tem muita coisa errada em qualquer campo de atividade. Criminosa mesmo.

Mas, insisto, por primos e amigos e colegas e conhecidos que são das torcidas: a esmagadora maioria é gente do bem.

E, mesmo se não fosse, quando faz o bem, merece o crédito. Merece a notícia.

Não o descaso. Não o receio.

Não o preconceito.