PPP: Parceria Palestra-Palmeiras
A maior obra pública do Palestra Italia é ser tão brasileiro. E também da capital Brasília. O nosso superfaturamento é de títulos nacionais.
Thiago Morais tem nome de zagueiro do Palmeiras deste século. Ele é arquiteto. O TCC de formatura foi projeto de estádio de futebol. Também por isso ele e o pai Dantas trabalharam na construção do mais lindo elefante verde-amarelo do Brasil: o Mané Garrincha. Obra de craque como o gênio das pernas tortas. Um desperdício de recursos como o nome de batismo.
“Cada dia que chegava pra trabalhar eu pensava: ‘será que um dia verei meu Palmeiras aqui?’”
O pai de Thiago foi chefe de medição na construtora Andrade Gutierrez por 47 anos. Entrou na empresa por jogar bem. Em Minas, onde nasceu, vários empregados eram contratados para jogar pelo time da construtora. “Meu pai era craque. Mas não quis ser jogador. Preferiu seguir na empresa”‘. Por ela seguiu em obras pelo Brasil. Thiago é amazonense de berço. O irmão mais novo é paulista de Araraquara. Onde o pai pegou birra de um colega de trabalho que era “corintiano demais”. Por isso ele virou ainda mais palmeirense.
A família mudou para Brasília quando Thiago fez seis anos. O pai seguiu construindo pelo país. Os filhos ficaram na capital. O caçula virou Flamengo. Thiago não pôde seguir com o pai pelo Brasil. Mas seguiu o coração alviverde paterno. Um jeito de ligá-los tão forte como o cimento que construiu o estádio da Copa. Alicerce que os uniu na obra. “Tive a felicidade de trabalhar com meu pai e ídolo na construção do estádio”.
Um sonho realizado. Faltava agora ver o time na casa que ajudou a erguer. “Eu nem dormi direito na véspera da partida contra o Flamengo, pelo turno do BR-16! Sabendo que no estádio que leva meu nome e do meu pai, em uma das paredes que homenageiam todos os funcionários que trabalharam lá, meu time do coração vai pisar!”.
E jogar bem. Gabriel Jesus começou o serviço na primeira bola. Thiago não conseguiria calcular as curvas do golaço do ex-alviverde Alan Patrick no empate. O pai talvez pudesse ajudar o árbitro a medir que só a mão do zagueiro Leo Duarte teria desviado aquele cruzamento do Luan. Mãos do zagueiro César Martins que impediram o segundo gol de Jesus. Mas não o de Jean, o da vitória palmeirense.
Thiago sofreu no pênalti. Mas menos que em dezembro de 2015. Quando viu Prass defender um e converter o gol do tri da Copa do Brasil. Era a estreia dele na nova casa. “Se meu Palmeiras não vem até Brasília, eu vou até São Paulo! E fui na loucura, no bate-volta para a final. Minha primeira vez no Allianz no dia mais feliz da minha vida”.
Palmeiras de pai para filho. Família que torce e trabalha unida não tem preço. Sei disso. Superfaturado ou não. “Não foi fácil construir o Mané Garrincha. Pressão para a Copa. Valores altos. Para nós que trabalhamos, criamos carinho por esta arena, mesmo que digam que é um elefante branco. Neste domingo de 2016 ela foi um elefante branco, verde e vermelho. Vou contar aos meus filhos e netos que pude ver meu Palmeiras campeão no Allianz na minha estreia e vi meu Palmeiras ganhar na primeira vez que jogou no estádio que ajudei a construir”.
Não eram só muitos palmeirenses dividindo o estádio da capital com a maior torcida do país. Eram gritos multiplicados de quem ergueu aquele colosso reverberando. Nossa casa não é só o Palestra que é nosso desde 1920, com dinheiro nosso e de nossos parceiros, sem doação e nem danação pública. Nossa casa não é só o Pacaembu público e também nosso patrimônio por uso-campeão. Nosso lar também é de quem o construiu na raça. Caro de tão querido. Nossa casa por não ter Palmeiras visitante. É sempre mandante.