Que Palmeiras é esse?

Foto: Marcelo Brandão/ Click Parmera

Em algum ponto desse processo, a gente deixou cair um bem precioso, quase que uma pedra fundamental sobre o que somos, o que queremos e como fazemos. Não deixamos cair um cheque em branco ou alguns milhões de reais, não deixamos pra trás um acordo que chocou o mundo, um balanço de contas que assombrasse os rivais. Deixamos pelo caminho da vida e do futebol, a nossa essência de ser Palmeiras, ser o clube que reagiu a sistemas, que contestou os padrões, que teve sempre dificuldade pra conquistar, mas que sempre conquistou o amor de seu torcedor por ter essência, ter o que hoje eu não vejo mais.

Lembro com imenso carinho de uma disputa longa, quase infinita e penosa de série B, mas dos jogos em que fui, ao lado de muitos mil como eu, que estavam lá pelas cores, pela camisa, pela história, pelo pai que ensinou e pelo filho que estava aprendendo. Nunca fomos pelo SIM, pela modernidade ou pelas pizzas, mas fomos pra defender nosso bem precioso dos olhos do mundo que queria que a penitência durasse mais. Pra conduzir à fórceps os que jogavam por nós.

Lembro com imenso orgulho da nobreza de uma administração que contestou a senhora do cubo mágico, que criou um sistema para que nós, e somente nós, abastecêssemos o clube e o que víamos em campo. Que esmurrou a mesa para defender que o coronelismo não nos tiraria da luta por um campeonato que tanto buscávamos. De quem jamais chamou em diminutivo um torneio que virou uma das maiores músicas de arquibancada alviverde. Eles não sabem o que é isso, e isso é um enorme problema. Foi em 93.

Como não se orgulhar de quando nosso time era triste com a bola nos pés, mas era uma academia de coração, uma seleção de desejo. Como se esquecer do comando de testa franzida e bigode no rosto que tirou leite, café, pão e taça de quem poderia apenas dar água, em nada. A essência de ser Palmeiras sempre morou na falta, nunca na abundância. Ou quase. Ter raiva dessa porra de Coooo, crise, é fundamental, é nosso. Isso sim, com sobra.

As alamedas da esquina mais verde do mundo são complicadas demais para uma prancheta explicar, uma planilha falar ou o dinheiro comprar. Pôjétos funcionam porque tem, sob a casa, uma alma que sabe onde está, sabe o que representa e por quem joga. Telefonemas, um cartão de crédito e uma sacola de fundo falso com presentes a todo dia, não. Camarão é coisa séria, não se pode substituir por um quilo de pescado. Comprar, pra nós, não é a melhor solução. O Palmeiras nunca teve preço.

Por mais que estejam colocando as etiquetas, por mais que sejamos mais um refrão de rock, piada no exterior, talvez vá ficar rico, vai faturar um bilhão. Quando vendermos nossas almas, a nossa essência num leilão.

Não ainda. Nós temos valor. Que saiam vocês!