Quem ama não mata

Quem ama não mata
por Mauro Beting em 19.nov.2012 às 10:46h
Clovis Rossi,

quem ama não mata.

Quem ama cuida. Na alegria da Academia, na dor de qualquer divisão.

Quem torce pelo time da hora e da onda é o leitor de best-seller, é quem só assiste a blockbuster, é quem só ouve o primeiro lugar na parada.

Não é o caso do Clovis, claro. Sujeito brilhante, jornalista respeitabilíssimo, que viveu na Espanha, e que, como eu, ama o TIME do Barcelona. Não necessariamente o clube.

Natural.

Mas torcedor que deixa de torcer não é normal.

Não é torcedor.

(Perdão, amigos de todos os credos e cores, pelo meu desabafo a respeito do desabafo de Clovis na Folha de S.Paulo desta segunda a respeito do meu desabado time – não mais o dele.

Vou tentar desabafar com o respeito que o colega não teve com o Palmeiras e com os palmeirenses. Pior: com os torcedores de qualquer clube.

Muito da minha dor tem a ver por Clovis ter escrito no espaço que o jornal havia convidado meu pai para escrever.

Seu Joelmir não pôde escrevê-lo nesta segunda dos infernos. Está hospitalizado. O que me deixa ainda mais irado a respeito de um texto inteligente – como de hábito de Clovis. Irônico, até, com humor palestrino típico. Mordaz. Mordido. Corneteiro. Exigente. Intolerante.

Um brilhante jornalista que virou um quinta-colunista torcedor, que faz troça quando troca de paixão. Ele merece respeito. Jamais compaixão.

Espero que ninguém da família dele fique “doente e feio” para que ele não o troque por alguém belo e jovem. Espero que ele não venha ao meu velório para fazer piadas infelizes. Ele só parece gostar de quem ganha, não de quem joga, de quem perde, de quem empata, de quem vive.

Espero que ele ainda possa ter algum amor na vida. Por que dos poucos incondicionais ele perdeu. Nem Paolo foi uma arma Rossi tão letal quanto o único ex-palmeirense que conheço. Se é que um dia ele foi.

O que ele disse não pode ser dito nem para o travesseiro. Muito menos escrito para um jornal. Nem sob violenta emoção. Jamais como um jornalista profissional e um amador palmeirense.

Uma pena. Clovis seria entrevistado nos filmes que roteirizo e dirijo do Palmeiras. Uma pena.

Permita-me, caro colega, ser igualmente baixo e indigno expondo as minhas entranhas que suas estranhas explanações atropelaram e dilaceraram.

Ciao, bello!

E me desculpo com os torcedores de derrotas e empates por não ter mais argumentos rasteiros para desabafar contra o mais estúpido desabafo já feito por um torcedor inteligente. Mais inteligente que torcedor, certamente, caro Clovis.
 
Espero que você ainda possa encontrar o amor que você acabou de perder com minha admiração.

(Esta foi minha resposta alguns minutos depois de ler os coliformes excretados na FOLHA. Fox SPORTS me pediu para entrar no ar, por telefone, para debater com ele. Pela primeira vez me recusei a conversar com alguém.

Seis anos depois, relendo o texto dele e a minha resposta, achei que tivesse superado. Não consegui. Quem me conhece sabe que não tenho e não guardo rancor. Mas esse texto deplorável ainda me vira a vida. Ainda mais porque mais uma semana o meu pai teria um AVC. Mais 10 dias morreria.

E o que seria seu último texto dado pela FOLHA onde cresceu de 1966 a 1991 virou espaço para a mais deplorável manifestação de um torcedor de qualquer time – reiterada um ano depois quando ele voltou a escrever que o Palmeiras voltaria para a Segundona em 2015.

Quase que dessa vez ele acertaria. Mas como nem isso ele conseguiu, caro colega, seis anos depois, só posso lastimar que eu ainda não consiga esquecer. Talvez pela morte do meu pai. Talvez pelo passamento do meu respeito.

Enfim, pra você, aquilo que você não tem: meus sentimentos).