Quem é o Roger Machado que o Palmeiras aposta

O desafio de Roger Machado ao assumir o Atlético Mineiro em dezembro de 2016 era transformar o Galo de melhor ataque (até a última rodada do Brasileiro) em uma equipe mais equilibrada. O time de Marcelo Oliveira teve a sexta defesa mais vazada na competição em que terminou em quarto lugar. Saldo de apenas 8 gols. Quase nada.

O Palmeiras eneacampeão era o exemplo de campanha que pretendia, como explicou ao blog de Renato Rodrigues, na ESPN. Melhor ataque ao final das contas (Atlético teve um jogo a menos), e também melhor defesa, junto com o Atlético Paranaense. Saldo de 30 gols. Mais do que suficiente.

Roger queria isso no Galo, e mostrou parte disso no Grêmio, seu primeiro trabalho em grande time, a partir de maio de 2015, quando substituiu Felipão: uma equipe que ataque com muita gente, e gente próxima uma da outra. Não só pra criar. Também para impedir a saída rival em contragolpe. Dando o bote em caso de perda de bola. Diminuindo e racionalizando espaços.

Roger é um treinador moderno. O que não necessariamente é elogio. No caso, vale. Até porque procura conhecer muito. E nas melhores fontes. Diz se inspirar e estudar o futebol brasileiro nos anos 70 e 80. Quer saber mais de Telê Santana, de brilhante passagem no Palmeiras em 1979-80 que o levou à Seleção, e frustrante em 1990 (que acabaria o levando ao São Paulo multicampeão…). Roger gostaria de emular uma equipe que atacasse com o DNA ofensivo brasileiro e se defendesse com a organização e método italiano.

Ótima escolha: Itália e Brasil. Palestra e Palmeiras!

O JOGO APOIADO

Roger é mais Eduardo Batista que Cuca. Mas é muito mais preparado que EB. Gosta de trabalhar a bola, apoiar o jogo, aproximar jogadores para construir e defender. Encurtar distâncias e espaços. Linhas de passe, criação entre as linhas, aproximação de jogadores. Aprecia passes curtos e lances rápidos. Variações de jogadas. Infiltrações. Treina e trabalha para isso.

Mas tem o fundamental para dar mais certo do que aconteceu em Belo Horizonte em 2017: ele pretende se adaptar ao elenco que tem. E não colocar uma camisa de força tática na equipe. Algo que também aprendeu com o treinador que o transformou de lateral-esquerdo em zagueiro pela esquerda no 3-4-2-1 do Grêmio campeão da Copa do Brasil de 2001. Treinador que o indicou ao Corinthians em 2016 quando ele foi chamado para assumir a Seleção: Tite.

Roger gosta de marcação por zona, sem longas perseguições individuais. Assim como Valentim e EB. Algumas das ideias de jogo ele toma emprestado de outros esportes, como confessou a Renato Rodrigues. Ele gosta de ver rúgbi. E se interessa também por futebol americano, basquete e handebol.

No Palmeiras, com os titulares de 2017 mantidos, e com alguns (poucos) reforços chegando, ele deve ir além do que não conseguiram Eduardo, Cuca e Valentim.

COMO FOI NO GRÊMIO (maio de 2015 a setembro de 2016)

Foram 93 partidas desde que assumiu no lugar de Felipão uma equipe que flertava com a zona de rebaixamento, com elenco limitado. Conseguiu 48 vitórias, 21 empates e 24 derrotas. Ótimo aproveitamento de 59%, com 137 gols a favor e 92 contra.

Deixou o clube em setembro de 2016, na oitava posição do Brasileiro, depois de uma derrota para a Ponte Preta de Eduardo Baptista. 3 a 0 em Campinas. Roger preferiu deixar o comando. Os jogadores não quiseram a sua saída. Edilson disse que a culpa não era dele. O elenco era reduzido e tinha muitos meninos. Logo os atletas se conformaram. Renato Portaluppi assumiu e foi campeão da Copa do Brasil de 2016. O primeiro título nacional tricolor desde aquela Copa do Brasil de 2001. Ganhando justamente do Galo que havia acabado de anunciar Roger.

Grêmio campeão em 2016 também com algumas sementes plantadas pelo ex-treinador.

Roger fez um trabalho excelente de recuperação em 2015, levando o Grêmio ao terceiro lugar no BR. Mas, em 2016, mesmo mais rodado, com a base do elenco mantida e reforçada, não deu liga. Na Primeira, caiu cedo, na fase de grupos. Não chegou às finais do RS-16. Foi eliminado nas oitavas da Libertadores para o ótimo Rosario. Foi caindo pela tabela no BR-16 depois de bom turno. Perdeu Giuliano e o time se desestruturou. Insistiu demais com alguns titulares. Trouxe reforços discutíveis no início da temporada como o zagueiro Fred e o atacante Negueba. Algumas mudanças durante os jogos foram muito contestadas. Maus desempenhos fora de casa. Falhas individuais e estruturais nas bolas paradas defensivas foram dizimando o trabalho que ele optou por encerrar.

COMO FOI NO ATLÉTICO MINEIRO (dezembro de 2016 a julho de 2017).

Foram 43 partidas. 23 vitórias, 9 empates e 11 derrotas. Ótimos 60% de aproveitamento. Campeão mineiro contra o Cruzeiro. Melhor campanha da primeira fase da Libertadores em grupo tranquilo.

Mas poucas partidas dignas de nota no desempenho de um elenco que mais uma vez deu pra trás. Antes e depois de Roger. No BR-17, quatro derrotas em 8 jogos em casa. Ele foi demitido depois de 0 a 2 no Independência para o Bahia, pela 15ª rodada. Saiu com o Galo em 11º lugar, depois de passar duas rodadas na zona de rebaixamento.