Queria sua saída, Felipão. Mas você não sairá do nosso coração verde
(Foto: Cesar Greco/Agência Palmeiras/Divulgação)
Felipão,
Eu queria que você saísse. Ontem citei Belchior: o passado é uma roupa que não nos serve mais. As coisas não estavam se ajeitando bem. O time claramente não evoluía, não atacava, não se impunha. Foi um chocolate do Flamengo no Maracanã. Um show de horrores – também – a entrevista coletiva. Apático. Talvez apático seja o termo mais próximo do que aconteceu no final de semana. E você nunca foi apático. Scolari é explosão. É luta. É guerra. É título.
Queria sua saída, Felipão. Domingo mordi os dedos, engoli as unhas, bati o pé em casa. Morri de raiva. Amor e ódio são sentimentos opostos, mas que andam juntos. São extremos. Te amei em 99. Te amei e te odiei em 2012. Só fui campeão por sua causa em 2018. Mas agora não dava mais. A vida segue.
A vida seguiu em dois mil quando você deixou o Palmeiras. Seguiu em 12 quando o nosso alviverde estava virtualmente rebaixado. Seguiu nos mais de 16 anos sem troféu. Seguiu pós-Parmalat. Vai seguir depois da Crefisa, do Galiotte, do Dudu. E do Prass, Gustavo Gómez, Dracena. E vai seguir – de novo – sem Felipão.
Há quem diga que você não é a cara do Palmeiras. Que joga retrancado, defensivo, com certo receio exagerado do adversário. Mas é inegável que a Libertadores de vinte anos teve sua cara. Sua força, seu berro, seu grito. O futebol é assim. Coisas resolvidas se tornam questionáveis. Ano passado já é passado. Seu grupo é muito mais o quinto colocado do que o atual campeão.
Queria sua saída, Felipão. Mas admito certa tristeza. Você foi o técnico que me fez gostar de futebol. Suas broncas no Paulo Nunes, sua insistência no Oséas, sua crença em são Marcos. Sua corrida para os gandulas depois de Zapata bater pra fora. Seu esticar de braços depois do santo saltar e evitar o sorriso de Marcelinho. Scolari é parte importante na história do Palmeiras. Na minha história. Na de todos que cantaram e vibraram por você. Com você.
O Palmeiras segue. Segue com bom time, com ambição, com vontade de ganhar. Precisa – talvez – de outra cabeça para planejar. Jogar melhor. Pensar maior. Queria que você saísse, Felipão. Ontem citei Belchior para dizer que 2019 não estava se ajeitando no seu espírito. O passado realmente é uma roupa que não nos serve mais. Mas nós sempre seremos você. Sempre amaremos o que foi construído.
E, ainda segundo Belchior, amar e mudar as coisas me interessa mais.