Rodada 22 do BR-16: Fluminense 0 x 2 Palmeiras

 

 

 

 

Foi o primeiro jogo do Vinícius Silvestre no banco, como reserva do Jailson. Mina e Gabriel Jesus estavam de volta do Rio-16. O menino não fez gol, mas desorganizou a defesa menos vazada do BR-16. Com ele em campo, o Palmeiras ganhou 72% dos pontos. Sem o menino, 44%.

 

Mais uma vez o líder levou mais gente ao estádio da capital do Brasil. Torcida que cantou e vibrou no gol acrobático de Dudu. Um mortal carpado com Dragulescu do atacante que tem jogado também para armar e passar bolas.

 

O segundo gol é uma história à parte. Que conto lembrando outro momento de torcedor.

Superstição, você sabe, explica mais o futebol que tantas coisas que nós não sabemos. Sobretudo nós, jornalistas esportivos. Pagos para tentar escrever e descrever o indescritível.

 

No Brasileiro de 2009, faltavam sete rodadas para o fim do campeonato que seria conquistado pelo Flamengo de modo alucinante. O Palmeiras patinava. Perderia feio o título. Nem para a Libertadores se classificaria. Precisava ganhar do Goiás no velho Palestra. Jogo duro. Eu não estava comentando pelo rádio. O primeiro tempo, depois de muito tempo, pude ver em casa, com meu caçula Gabriel vestido de Cleiton Xavier, ausência sensível no meio-campo (como Love, como Pierre, como Maurício Ramos, como tantos no Palmeiras).

 

No intervalo, fui pegar o filho mais velho, o Luca, na balada. Eram quatro minutos e eu entrei no túnel da Juscelino Kubitschek. Na hora lembrei do que o companheiro Zé Paulo de Andrade havia comentado comigo dias antes. Ele evitava túnel para o São Paulo dele não sofrer gol. Eu não tive dúvida. Se vinha duvidando do Palmeiras, como jornalista e, mais ainda, como palmeirense, não tive um segundo de hesitação: vai sair o gol do Verdão. Tá na cara! A minha superstição – que não existia – será entrar no túnel! A bola vai entrar no gol do Goiás! Vai ser gol do Palmeiras!

 

 

Segundos depois, o som da rádio voltou no fim do túnel. Não havia uma luz no fim dele. Havia um som. Um gol. O celular tocando com o meu Gabriel berrando de casa e anunciando a ótima nova. Gol de Obina. 1 a 0 Palmeiras. Seria 4 a 0. Eu ganhava uma superstição.

 

Eu e o doutor Rubens Sampaio, ortopedista do Palmeiras. No dia seguinte ele leu no meu antigo blog a história. No domingo tinha Dérbi em Presidente Prudente. Pelo rodízio, outro médico do Palmeiras estaria no banco ao lado de Muricy. Rubão teria de ficar em casa, vendo pela TV. Mas o coração não deixou. Ele pegou o carro e saiu pelas ruas paulistanas. Tentou não ouvir rádio. Não aguentou. Ligou na rádio onde eu comentava. O Corinthians vencia por 2 a 1. Faltava pouco tempo. O desespero bateu. Rubão não teve dúvida. Pensou qual era o túnel mais longo ali perto. O Ayrton Senna, sentido aeroporto. Lá foi ele sem direção, mas com propósito. Acelerou até chegar. Quando entrou no túnel debaixo do Parque do Ibirapuera, tirou o pé. Quanto mais tempo passasse por ele, mais “chance” teria de o Corinthians cometer uma falta tola, Figueroa cruzar para a área e Mauricio empatar o jogo de novo, aos 38 do segundo tempo.

 

Rubão saiu do túnel em uma das 79 letras O narradas pelo narrador antes de gritar ”do Palmeiras”. O doutor Sampaio nem precisou ouvir que time havia marcado. Ele “sabia” que era gol do Palmeiras. A superstição que ele ”aprendera” comigo e que eu copiara do Zé Paulo se confirmara em Presidente Prudente. Entrou no túnel saiu gol do Palmeiras. Palavra de médico.

 

Túnel prefeito Marcello Alencar, em agosto de 2016, no Rio de Janeiro. Não conseguia ver o jogo no aplicativo no celular. Nem acessar o minuto a minuto do portal. Quando tentei ligar para o mesmo Gabriel de sete anos antes, ainda mais palmeirense, entrei no novo túnel. O maior urbano do Brasil.

 

 

No momento só pensei que demoraria mais um tempo para saber como estaria o jogo de Brasília, onde de novo o Palmeiras se sentiu mais em casa que o mandante Fluminense. Pelo que tem jogado o time de Cuca, e por aquilo que tem gritado o palmeirense.

 

No meio do túnel lembrei do Rubão. Da zica do Zé Paulo. Do gol de Obina em 2009. Não aquele contra o Fluminense… Mas do primeiro contra o Goiás. O do túnel. Vai que no Mané, de repente, o Jean pega um rebote tão lindo como aquele mortal do Dudu no primeiro gol. Vai que a Lei do Ex será do ex-tricolor Jean, não dos Henriques, Marquinho, William Matheus, Cavalieri…

 

Saí do túnel. O táxi ouvia o Flamengo vencendo a Chapecoense quando o plantão informa que Jean amplia no Distrito Federal: 2 a 0 Palmeiras. 2 a 0 túnel.

 

Meu 4G seguiu pifado e morto. Mas eu mais vivo pelos Gs que gritei saindo pelo centro do Rio.

 

É a melhor e mais convincente “explicação científica” pela grande fase palmeirense. O túnel. Incluindo o túnel do tempo.

 

Parece 2009. Até pela força do Flamengo. Mas vejo mais a luz verde nesse túnel que em 2009.

Podemos discutir. Mas qualquer coisa, eu vou para o túnel.

 

Sim. Aquela vitória me deu mais esperança de título. Não via mais luz no fim do túnel. Eu só via que não tinha ninguém à frente. Ou tinha. Mas a gente acertava o pé como no sem-pulo do Jean. Que golaço marcou! E que megadefesa o Jaílson ainda faria no fim do primeiro tempo, salvando um gol certo, com muita velocidade e elasticidade.

 

O Palmeiras via a luz. Mesmo que cheirassem e aspirassem outra coisa no Rio.