Rony revela história de superação e conta que passou fome antes de brilhar pelo Palmeiras

Em entrevista à Revista Palmeiras, o camisa 7 expôs as dificuldades pelas quais passou em sua trajetória de vida

A 59ª edição da Revista Palmeiras, publicada bimestralmente e concedida a sócios do programa Avanti, conta a história de vida de Rony. O atacante, hoje peça importante do Verdão, chegou a não ter o que comer durante sua infância, mas foi capaz de atravessar todas as dificuldades em seu caminho até se tornar destaque na elite do futebol brasileiro.

No relato, o jogador recorda de uma frase dita por sua irmã, de apenas seis anos à época, que o marcou profundamente. “Rony, hoje a gente não tem o que comer”, disse na ocasião. Segundo ele, em sua casa não havia nada além de uma pequena quantidade de farinha de mandioca e sua barriga doía pedindo comida.

– Eu me lembro como se fosse hoje do dia em que escutei essa frase horrível. Devia ter uns seis anos e estava com o corpo todo pintado de catapora. Uma das minhas irmãs, Rafaela, tinha acabado de voltar para casa. Ela me falou que o dono do mercadinho não queria mais nos vender comida porque o meu avô, Miguel, tinha uma dívida grande com ele. Eu estava com muita fome, criança sente muita fome!

– Minha barriga doía pedindo alimento, mas tudo o que tínhamos era um pouco de farinha de mandioca. Vendo o meu choro de desespero, a Rafaela misturou a farinha n’água, colocou açúcar para dar algum sabor e fez o que, no Pará, chamamos de chibé, um prato de origem indígena. Devorei aquele chibé como se estivesse comendo a refeição mais gostosa do mundo – revelou o jogador.

A situação, no entanto, foi apenas uma das mais árduas que viveu. Ainda criança, Rony foi abandonado pelo pai e, por ser o caçula, passou a morar por um tempo com sua mãe e seu padrasto. Porém, depois da morte de sua avô, voltou para a cidade onde moravam todos seus irmãos e foi afastado também de sua mãe. O cenário agravou-se quando seu avô mudou-se de casa. Desde então, Robson, o irmão mais velho, com 17 anos, foi quem passou a cuidar da família.

– Meu pai nos abandonou quando eu ainda era bem pequeno; pouco tempo depois, minha mãe se casou de novo e foi viver com o marido em outra cidade. Como era o caçula, morei um tempo com ela e o meu padrasto, enquanto os meus irmãos ficaram com os meus avós. Voltei para a Vila Quadros depois que a minha avó faleceu. Mal conseguimos nos despedir. Quando o meu tio nos avisou de que a saúde dela tinha piorado, já não podíamos fazer muita coisa.

– Após o enterro, minha mãe e meu padrasto foram embora e eu fiquei com os meus irmãos. Nunca passamos tanto aperto quanto naquela época. Pararam de pagar a aposentadoria da minha avó e o meu avô saiu de casa. Aos 17 anos, o Robson virou o chefe da família – contou.

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O episódio do falecimento de sua avó evoca uma lembrança ainda mais triste para o jogador, devido à história por trás dos últimos momentos vividos por ele logo antes de sua partida.

– Logo que chegamos (à cidade), tentamos levá-la ao hospital, mas a ambulância estava sem gasolina. Tinha no bolso R$ 15, dinheiro que a minha avó havia me dado para comprar uma bicicleta. Entreguei os R$ 15 para a minha mãe colocar combustível na ambulância. Uns cinco minutos depois de entrarmos no hospital, a minha avó morreu.

Líder da família, Robson é, até hoje, motivo de grande inspiração para Rony. Além de ter sido fundamental para garantir seu desenvolvimento, foi quem o introduziu ao mundo do futebol. O ponta opinou, inclusive, que o irmão era melhor que ele quando criança e disse que ele merecia ter se tornado jogador.

– Costumo dizer que era para o Robson ser jogador de futebol, não eu. Ele jogava muita bola! Atuava como ponta ou centroavante, igualzinho a mim. Todos os times da região iam atrás dele, mas o Robson não pôde levar a carreira adiante porque, ainda moço, precisou trabalhar para colocar comida na mesa.

– Quando menino, queria ser conhecido como o meu irmão. Meu sonho era que os times das vilas vizinhas também fossem à nossa casa me buscar. Jogava todo dia com a bola que eu mesmo fizera, enchendo de papel as sacolas de plástico que sobravam no mercado. O campo era de barro, então me ralava todo, mas nem ligava – brincou.

Em sua chegada ao Palmeiras, o camisa 7 demorou para marcar seu primeiro gol e deslanchar pelo clube. Acerca desse período complicado, ele ressaltou que foi um problema ínfimo comparado aos demais percalços de sua trajetória.

– De vez em quando, alguém me pergunta como consegui dar a volta por cima no Palmeiras depois do início complicado que tive no clube. Sendo sincero, as dificuldades que encontrei aqui foram pequenas perto de tudo o que precisei passar até me tornar jogador – afirmou.

Rony passa por processo de recuperação de lesão neste momento para poder voltar a atuar pelo Alviverde. Na temporada, o camisa 7 contabiliza até aqui oito gols, quatro assistências em 23 jogos disputados.

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