Saudades de Dudu

Foto: Danilo Martins Yoshioka

  • Pai, o que é saudade?

  • Filho… Saudade é amar tanto o que temos e o que não podemos mais ter. Saudade é aquele meu primeiro jogo no velho Palestra. Aquela menina de olhos e coração verde sorrindo pra mim cantando “Andança”. É aquela volta olímpica campeã. Aquele beijo roubado. É aquele gol do Evair neles. Aquele abraço quando doía. Aquele pênalti batido no Marcos. Aquele sol batendo no cabelo dela. Aqueles chapéus do Alex. Aquele bonezinho dela protegendo do sol o narizinho dela quando a vi. Aquela sua primeira roupinha verde que pendurei na porta da maternidade. Aquele final de tarde com ela. Aquele chapéu do Dudu. Aquela noite agarradinho no meu amore sem conseguir dormir. Aquele pênalti do Prass. Aquele primeiro sorriso que parecia o de quem amo. Aquela defesa de peito do Zé Roberto. Aqueles seus bracinhos pra cima me pedindo colo no peito. Aquelas coberturas contra eles. A primeira vez que você falou Babbo pra mim. A sua alegria sem entender pelas ruas no enea. Aquela vez que ela falou tudo e curou tudo só de me olhar. A sua alegria gritando “Palmelas” no deca. Aqueles todos dias em que ela me trouxe café mais gostoso só porque era o dela. A primeira vez que você foi ao Allianz Parque. Aquele cafuné que só ela sabe fazer e me acalmar. Quando você viu o Dudu de perto pela primeira vez. Quando ela me toca e só ela me toca assim. Quando você viu várias vezes tudo que nosso time já conquistou no YouTube. Quando ela deita e dorme no meu ombro. Quando ela, você e eu acordamos e ficamos tristes naquela segunda-feira pela manhã, quando o nosso 7 foi embora e nos deixou como se esperava desde o dia 7 do 7.

  • Mas saudade não é só de coisa boa, pai?

  • É, filho. Mas quando alguém como o Dudu vai embora, fica sempre tudo que ele fez guardado nos olhos. Até o de ruim. Até o que não sabemos, e precisamos respeitar todo mundo, da nossa família e de todas as outras famílias. O seu avô disse que ele tinha ficado assim em 1975 quando o Luís Pereira e o Leivinha foram pra Espanha. Foi a primeira vez que ele sentiu a perda de alguém.

  • Eu também fiquei triste, Babbo… Mas eu não sabia que isso chamava saudade.

  • Dudu, sabe que tem algumas línguas que não têm nem palavra pra explicar o que é saudade?

  • Então eu posso chamar isso de “Dudu”, Babbo?

  • Duduzinho, você pode falar do jeito que você quiser. E só você pode dizer qualquer coisa. Só quem ama sabe. Só quem tem saudade ama ainda mais. Ídolo é de cada um. E de todos nós palmeirenses.

  • Babbo, por que você me chama de Dudu se meu nome é Marcos Ademir?

  • Duduzinho, dar o nome do que a gente sente não precisa explicação para quem é. Para quem não é, eles vão continuar sem entender nada. Já falou um grande palmeirense.