E se fosse o último

Foto: Rodrigo Gazzanel/Futura Press

De repente, esse pode ser meu último. E se for o de vocês? E se um erro colocar ponto final na história? E se for a última noite dele, que te amou por toda vida? E se ela esperou até aqui pra que fosse o melhor, ainda que o definitivo. Um Derby não é um questão de vida ou de morte. É muitíssimo mais do que isso.

E fosse a última vez que você fosse ao campo pra defender essas cores? Se fosse preciso dar a vida pela vitória, você daria? Quem está do lado de cá da televisão, daria. Da televisão, do celular, do rádio. De quem já está, há meses, sonhando e delirando por esse dia. Acordando por esse momento. O que é seu emprego, é o sentimento mais vital que milhões tem pelas cores que vocês chamam de uniforme.

O que você chama de salário, a gente chama de preço do amor. É o que a gente PRECISA pra sobreviver. Quando você cai, a gente te levanta. E se fosse a última vez? Você não vai ouvir nossa voz, você não vai ver nosso rosto, mas você tem que sentir nosso coração. A taquicardia dessa paixão. Você tem que fazer algo a mais pra quem te vê como prioridade absoluta na vida. É uma questão de reciprocidade.

A gente quer chorar de alegria. A gente quer esmurrar a casa inteira, xingar o vizinho, quer amanhecer de peito estufado e farda na mão. A gente quer sonhar com a vitória. A gente quer celebrar a desgraça do rival. A gente quer descongelar o amor e sentir tudo, como sempre, como somos. Como se fosse o último.

Se for o meu último, que seja o melhor. Não precisa ser bonito. Não precisa ser perfeito. Precisa ser honroso. Precisa ter ódio. Respeito. Precisa dar orgulho. Precisa eliminar. Ganhar. Tripudiar. Rivalidades, em campo, são como guerra. Não há meios. Há conquistas. Você precisa entender. Precisa saber que pode ser último.

O último suspiro deles no Paulistão.