Será que ela tá no tobogã, na numerada ou na arquibancada?

Foto: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

O jogo começou. Palmeiras e Botafogo. Ela não viu minhas últimas mensagens. Quer dizer: viu e só respondeu uma. A que não me interessava. Perguntei se vinha pro Pacaembu, mas ignorou. Ela é muito palmeirense. Mais do que eu, até. Vai em todos os jogos. Eu não ia desde 2018, como torcedor. Vocês sabem que sou jornalista e não escondo meu time. Geralmente fico no estúdio. Canto e vibro de longe.

O Palmeiras quase fez o primeiro. O Deyverson errou. Vou dar mais uma olhadinha no celular. Nada de resposta. Será que ela tá no tobogã, na numerada ou aqui na organizada? Tem um tênis vermelho, parecido com um All Star. Mas são milhares de tênis aqui. Procuro cabelo, rosto, sorriso. O sorriso dela é completamente diferente. Não deve ser difícil. A gente nem se conhece direito, mas ela tem a cara do Palmeiras.

O Cavalieri defendeu. Eu não vi o lance. Só ouvi o "uhhhh" da torcida. Nunca vim num jogo e deixei de ver a bola rolando. O telefone vibrou. Deu frio na barriga. Era meu primo xingando o Deyverson. Na sequência o Dudu arranca e perde na hora de definir. O senhor que tá na minha frente boceja. O jogo está chato. E eu também.

Acabou o primeiro tempo. Sem sinal da internet. Ficou por isso mesmo. Ela não quer saber de me ver. Começou o segundo. Foi rápido demais. E, de repente, tudo ficou lento, partida lenta, preguiçosa. Espaçada. Tá com cara de zero a zero. Pior do que um empate é empatar duas vezes.

O senhor do bocejo comemora. O juiz apita. Dou mais uma espiada nas mensagens. Nada. Passo os olhos pelo Pacaembu todo: nada. Tento me consolar com um possível textoamanhã, uma justificativa, um oi.

Acabou. Mas será que ela tá na numerada, na arquibancada ou no tobogã?

Senhor, licença. Quanto foi o jogo mesmo?