Sobre São Marcos, coração e idolatria
Foto: Rogério Palatta
Quero contar uma coisa para vocês.
Eu sempre fui um péssimo jogador. A posição que eu mais me identificava era o gol. Até por não ter muita habilidade com a perna. Eu era gordinho. Era 1999.
Teve um pênalti no intervalo das aulas. Bola de plástico.
Um amigo meu chutou forte. Eu me joguei e a bola estourou na minha barriga.
Foi a primeira vez que eu gritei: MARCOS.
O Palmeiras ainda estava na campanha do título da Libertadores. Eu gostava mais do Paulo Nunes e do Alex. O Marcão era novidade para mim.
Não demorou para o Marcos ser o meu preferido. Também não demorou para eu começar a jogar no gol sempre.
Era sempre o mesmo berro: Marcos.
Eu era tão palmeirense quanto os meninos da minha idade. Ainda sou. Tenho repulsa por quem se julga mais do que o outro. Seja torcer mais, ser mais, ter mais. Não gosto.
O Marcos me fez acreditar que dava para sonhar. Se sou jornalista – hoje – é por conta do Marcos e de tantos outros craques que me construíram como profissional.
Porque antes de ser jornalista, eu sou torcedor.
Mas sou gente antes de ser torcedor. E antes de ser qualquer coisa.
Eu não concordo com o que o Marcos defende fora do campo. Acho que o melhor goleiro que vi jogar só pula para um lado. O lado que não está chutando. Não está apitando. Não está no governo.
Acho que gols contra estão entrando e meu goleiro preferido não liga.
Isso é extremamente pessoal. É um valor inegociável. Não discuto algumas coisas. É MEU ponto de vista.
Eu errei quando escrevi o seguinte:
“Com atraso de 18 anos: porra, Arsenal, insiste um pouco mais.”
O menino de 12 anos ficaria muito triste com a possibilidade de perder o seu jogador favorito. Os anos tristes seriam ainda mais difíceis.
É que escrevi com o coração. Coração às vezes descompassa.
Eu errei quando citei a goleada para o Vitória para escrever que minimizar a ditadura era como se ele tomasse 100 gols em 15 minutos.
Não deveria ter citado aquele jogo contra o Vitória.
O Marcos, inclusive, sempre foi coração. Fala o que pensa, age como acha que tem de agir, grita com quem quer.
Futebol – para mim – nunca foi número. É coração.
Não imagino futebol sem coração. Emoção. Vibração.
Eu não sou ninguém para dizer quem é maior na história do meu time. O que posso escrever é quem mais me representa.
Não existe briga entre Marcos e Prass. Existe – na minha visão – um gênio lunático e um craque inteligente. Prefiro o craque inteligente. Cada um escolhe quem quiser.
Ídolo é pessoal.
Eu prefiro o Fernando Prass, hoje. E daí?
Você prefere o Marcos? Tudo bem. A camisa é a mesma. Nenhum de nós merece pena de morte.
Ídolo, para mim, continua jogando mesmo fora do campo.
Ganha e perde com a boca.
Escrevi no meu Twitter pessoal. Sou apenas colaborador – com muito orgulho – do Nosso Palestra. Mas a página não pode responder pelo que coloco no meu perfil.
Escrevi com o meu coração.
O coração que pulou quando Zapata bateu.
O coração que chorou quando Prass chutou.
Meu coração é democracia pura.
E verde esperança por tempos melhores.