Somos! A concretização de um sonho

Eu tenho pouquíssimas memórias de antes de 2014, mas lembro perfeitamente do último jogo da campanha do quase descenso. Estava na sala do apartamento que minha família tem em Riviera de São Lourenço. Tenso. Olhando pra TV vidrado, amedrontado. Ouvi um grito de comemoração. Achei que era um Corinthiano feliz com o rebaixamento. Estar errado nunca foi tão bom. O alívio que senti ao saber que era gol do Santos é algo que não consigo explicar.

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Em 15 mudou tudo. Um time completamente novo. Comemorei a classificação pra final do Paulista no mesmo apartamento que outrora fora o palco do meu sofrimento (e alívio). A final não lembro onde vi, mas lembro que fiquei arrasado, seria o primeiro título que eu realmente comemoraria (em 2012 ainda não era tão ligado com futebol, coisas de criança).

O título da Copa do Brasil mudou minha perspectiva de vida. Achei, nas semis e nas finais, que infartaria – com 13 ou 14 anos. Comemorei a vitória correndo pelo apartamento que morava em São Paulo e falando mal do Ricardo Oliveira com meus avós no telefone (coisas de 2002).

Em 16 o sonho se tornou real. A Libertadores sempre fez meu olho brilhar diferente. Nesse ano, eu sabia que podíamos. Meu vô dizia, já na temporada anterior, que esse seria o ano verde. Foi. Fui campeão brasileiro pela primeira vez, coisa de louco. Mas eu queria que a América fosse alviverde. Fica pro ano que vem.

Em 17 me desiludi. Foi difícil. Acreditei, e muito, quando viramos aquele jogo maluco no Uruguai. Lágrimas escorreram dos olhos de uma criança de quase 16 anos que, no quarto dos pais agachado, quase aos prantos, não queria saber do próximo ano, enquanto era reconfortado pelo pai. Era o fundo do poço.

Em 18 comemorei, e muito. Fomos Deca! Mais ninguém é. O sonho da América, porém, parou nos pés de Benedetto. Aquele era pra ser o nosso ano. Campeão de tudo. Chorei mais uma vez, agora sozinho, deitado, socando a parede e com a única certeza de que não teria forças para ir pra aula no dia seguinte (não fui).

Em 19 um novo país, a mesma história. Agora em Portugal, passei madrugadas em claro torcendo e gritando (nem Deus sabe como ninguém nunca reclamou). O jogo contra o Grêmio estava ganho, conseguimos perder. O sonho da Libertadores, agora, parecia apenas uma ilusão. Algo inalcançável. Mais uma vez, a desilusão bateu forte – combinada com outras coisas.

Em 2020 foi diferente. Ainda em Portugal – graças a Deus – tinha o estranho pressentimento de que este era o ano. Mesmo com Luxemburgo. Esse sentimento diminuiu, diminuiu e precisei de um compatriota (ao menos no papel) pra voltar a acreditar. Comemorei cada gol como se fosse o título que eu sabia (ou não) que estava por vir. River Plate, 3 a 0. Eu jurava que perderíamos na Argentina. Fui gritar na janela, me segurei (eram mais de 02h).

A volta foi o pior dia da minha vida no futebol. Passei mal. Ainda não gosto de lembrar, me traz sentimentos muito ruins. Um jogo desesperador que credenciou aqueles meninos, alguns da minha idade, Veron ainda mais novo (como?), à conquista mais importante da vida de todos nós.

Na semana da final trabalhei. Trabalhei muito. Dormi mal. Ansiedade estava em patamares que nunca havia experienciado, portanto não sabia lidar. O jogo começou e passei 90′ de pé, ouvindo cânticos da Mancha na JBL e cantando junto. Quando saiu o gol… eu gritei. Gritei mais do que gritei em todos os outros dias da minha vida juntos. Corri pegar meu amplificador. Hino no máximo. Ninguém dorme na terra de Abel Ferreira. O sonho distante da Liberta se tornou realidade. Com heróis inesperados – jovens recém promovidos, um treinador recém chegado, um Breno Lopes que veio do Juventude, um Rony que no começo são eu acreditei que daria certo.

Nunca fui tão feliz. Não sei se um dia serei tão feliz.

Deus foi por nós, ontem.

Somos!

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