#SomosTodosFabiano: obrigado por tudo e até quando deu em nada

Fabiano foi emprestado ao Internacional até o final do ano.

Eu só quero dizer o que escrevi quando ganhamos do Peñarol por 3 a 2, na Libertadores-17, no Allianz Parque, na última bola.

“No jogo que encaminharia o título brasileiro de 2016, no final do aquecimento, o último palmeirense a deixar o gramado foi o lateral reserva Fabiano. Antes de ir para o vestiário, ele chutou a bola para a meta vazia do gol Sul do Allianz Parque. A mesma onde, no final daquele tarde, Dudu faria o gol da vitória no Botafogo. Fabiano deu aquele chute sem goleiro que qualquer torcedor adoraria mandar ver no palco dos nossos sonhos. Fabiano mandou meio de brincadeira. Meio que sério. Como no jogo seguinte em casa, na meta do Gol Norte, ele faria o gol do título contra a Chapecoense.

Herói improvável como o Betinho safra 2012.

Fabiano que foi o mais limitado titular do Palmeiras (enquanto Jean não voltava, em 2017). Do caro time montado para não sofrer o que vinha sofrendo contra o Peñarol que vive da história, não da fragilidade atual. Mas o clube charrúa sabe jogar a Libertadores que ganhou cinco vezes – a segunda na final no Pacaembu contra o Palmeiras, em 1961. Com Maidana na meta. O mesmo que seria Palmeiras de 1965 a 1968. O mesmo senhor que esteve na mágica noite no Allianz Parque, levado pelo Peñarol. Mas essa é história que conto outro dia.

Hoje é para falar que #SomosTodosFabiano. Até quem não é palmeirense. Até quem não tem essa felicidade de torcer por um clube. Até quem secou e não foi feliz. Até quem – com alguma razão e muita emoção – se irritou pelo gol aos 54min15s, 1min15 além do tempo indicado pelo árbitro. Tempo que também parecia pouco pela cera, catimba e antijogo carbonero. Se o árbitro quisesse mesmo ajudar o time da casa, não teria dado só um minuto de acréscimo no primeiro tempo (e terminado a etapa antes mesmo dos 60 segundos). Não teria expulsado Dudu (sacando o melhor palmeirense da dura volta no Uruguai) já no tempo extra concedido por tudo aquilo que o Peñarol fez e o árbitro não coibiu. Se fosse caseiro, o fraco assoprador teria expulsado por segundo amarelo quem empurrou Dudu no pênalti marcado. Quisesse ajudar o Palmeiras, ele poderia ter marcado pênalti (discutível) em Dudu no primeiro tempo, aos 16. Ele poderia também ter dado o gol (que não foi) que Tchê Tchê quase fez aos 28 finais, quando o zagueiro uruguaio salvou sobre a linha e mandou no travessão a primeira bola que o Palmeiras mandaria na trave. Quatro minutos antes de Willian limpar o goleiro e mandar nova bola inacreditável na noite que não parecia verde.

Afinal, Borja não perde os gols que desperdiçou. Não manda longe um pênalti que normalmente converte ao chutar no canto alto dos goleiros. Um time qualificado como o Palmeiras não perde tantas chances. Um forte candidato ao título faz o que fez nos cinco minutos iniciais do segundo tempo. Embalado e empurrado por uma torcida que quase nunca parou de berrar, empatou com William em lance em que a bola bateu (involuntariamente) nas mãos de Dracena e Borja, com 1 minuto de bola rolando. E virou com Dudu em bela arrancada de Guerra (em sua melhor partida) e falha defensiva uruguaia. Mas esse forte Palmeiras não pode errar tantos passes e cair nas provocações rivais. Não pode bobear nas bolas paradas como nos dois gols do bravo Peñarol. O segundo, o do 2 a 2, aos 30 finais, em falha rara de Mina. O primeiro, que abriu o placar, aos 32, em desatenção usual de Fabiano, que deixou livre Ramos Arias para cabecear.

Fabiano…

#SempreCritiquei.

Uns cinco minutos antes, ele pela meia direita, umas quatro ou cinco opções de passe melhores (ainda que muitas vezes a equipe tenha optado pela individualidade de um inspirado e isolado Dudu pela esquerda), Fabiano resolveu chutar de muito longe. E a bola foi ainda mais longe da meta rival.

Para quê?

Desnecessário. Como o calcanhar de Felipe Melo pouco antes, na intermediária, que gerou perigoso contragolpe carbonero.

Para quê?

Felipe Melo, com Dudu, era das melhores coisas em campo. Firme nas antecipações, cerebral nos passes, aturou as provocações que ele mesmo criou. Numa delas, sofreu a falta, foi atropelado pelo uruguaio, e só levantou e olhou feio e firme para o rival. Bastou. Intimidou e se impôs. Assim que se faz. “Com responsabilidade”, diria ele. Ou “ousadura”, só ele para dizer.

Libertadores não se ganha só no grito e na cara feia. É na bola. E, no frigir das bolas, esse Palmeiras tem mais potencial que qualquer outro. Mas precisa se ajeitar, se ajustar, e não assustar tanto. Não precisa de firula, mas da seriedade de quem sabe fazer a hora. Até mesmo além dela.

Só que não há palmeirense algum que, depois do apito final, não tenha dado graças ao Divino pelo que viu. Pelo que sobreviveu. Pelo que viveu por essa paixão que um dia ainda nos leva. Mas, até lá, nos leva mais vivos. Como Felipe Melo que a cada dias ganha mais fãs de verde. Como…

…Fabiano!?!

Sim, o lateral que ninguém dá bola. Só corneta. O limitado jogador que não tinha palmeirense que o quisesse ver nem pintado de verde. No final, ele se mandou para a área quando ninguém mais esperava nada além do apito final que já estava atrasado. Fabiano apareceu como centroavante e cabeceou a bola que o bom goleiro uruguaio espalmou para escanteio.

Aos 53min35s.

Não tinha mais jogo. Tempo esgotado como os times. Mas Fabiano não estava exausto. Ele seguiu na área, o Palmeiras tinha um a menos em campo, embora tivesse quase 38 mil que acreditavam no mesmo Palmeiras do gol no fim de Mina contra o Wilstermann.

(Mas, entre nós, quem acreditava mesmo em Fabiano?)

Ele seguiu na área. A bola seguiu ate ele no escanteio. O gigante Edu Dracena pareceu subir para fazer o tão aguardado e merecido primeiro gol dele pelo Palmeiras. Mas quem apareceu do nada, surgindo do nada, e quase que não querendo nada com tudo aquilo, fez um dos gols mais tudo de lindo e emocionante da história do Palmeiras.

Não pelo que representa na tabela. Mas pelo que nos representa pela vida.

A bola ainda bateu na trave antes de entrar. Como todos os lances dos nossos santos dias. Nós, seres limitados como Fabiano, somos como ele. Batemos ou raspamos a trave todos os dias dos diabos. Tudo parece que não vai dar. Mas tem uma hora que dá certo. De onde menos se espera, mais se deve esperar.

#NuncaCritiquei Fabiano.

#SomosTodosFabiano.

Gol de Fabiano. Depois de escanteio criado por Fabiano.

Quando eu parar de desfibrilar, eu volto para tentar contar um daqueles jogos que vamos contar aos nossos netos. E eles ainda não vão entender.

Amanhã a nossa jornada segue. Com vários Fabianos indo até a área rival em todos os campos para tentar o que só o Fabiano do Palmeiras parecia acreditar.

Obrigado, Fabiano, pela noite que não consegui dormir. Pela lição que o futebol mais uma vez nos dá.

Obrigado, Fabiano, por fazer a minha profissão ainda mais feliz. Não por ser Palmeiras. Mas por poder escrever que todo dia a gente sempre pode fazer alguma coisa por alguém.

É só aparecer lá do outro lado e acreditar que ainda dá.”

Não deu em 2017.

No último jogo de Fabiano, ele falhou no gol do São Caetano no SP-18. E foi vaiado e até xingado.

Talvez ele tenha tido chances demais no Palmeiras.

Mas os dois gols que ele fez nos fazem acreditar que ainda é sempre possível crer.

Boa sorte, Fabiano.