Tenho nojo de torcer para o mesmo time de quem passa pano para agressor

Foto de Djalma Vassão

Eu tenho vergonha de torcer para o mesmo time que vocês. Vocês que agrediram, xingaram e ameaçaram uma mulher. Esposa de um jogador, mas isso é o que menos importa. É uma mulher. Eu tenho nojo de gente covarde. Asco. Repulsa. Aversão.

Eu tenho vergonha de torcer por gente que responde pelo clube que amo. Sinto pena pela nota preguiçosa, pelas palavras vazias, pela falta de firmeza. A voz do Palmeiras não é essa. A voz palmeirense é Evair ficando. Prass encarando. Edmundo brigando. Ademir cadenciando. É tanta gente boa que não sai da memória. Perdemos a cabeça. Estamos nos esquecendo.

Tenho vergonha de torcer para o mesmo time de gente que passa pano para ditador. Que tem livro de cabeceira de torturador. Que defende a tortura. Quem faz pouco de nordestino. Que é preconceituosa, prega o ódio, é símbolo triste. Quero que jogadores levantem taças. Só jogadores. Tenho vergonha de quem veste a camisa de outros times para outros fins. Quem ama o Palmeiras precisa ter apenas um lado: o Palmeiras. Precisa entrar em campo com as pernas e o coração. Apenas. Deixar a boca pra lá.

Tenho vergonha de torcer para o mesmo time de idiotas que defendem gente tirana. Gente que acha que estádio não é lugar para mulher, que estádio é onde precisa ter pancadaria, que arena é coisa de rico. Tenho nojo de quem vira a cara para outra pessoa pela classe social, cor, preferência sexual.

Tenho vergonha do palmeirense que deseja a morte de quem pensa diferente. Tenho dó de ignorantes de alma pequena. De machistas, misóginos, racistas, preconceituosos em geral. Tenho vergonha de vibrar pelo mesmo gol, de cantar o mesmo hino, de repetir as mesmas palavras no estádio.

A diferença é que o Palmeiras é gigante. Eles são insignificantes.

Eles são o asco. O Palmeiras é a esperança.

As duas coisas não combinam.

Eu tenho lado.