Terceira camisa linda como o segundo nome

O terceiro uniforme do Palmeiras em 2017 é um dos mais bonitos da história do clube. Ainda mais linda a nova camisa por remeter à Arrancada Heroica de 1942, “quando o Palestra morreu líder, e o Palmeiras nasceu campeão” paulista de 1942, em jogo que não acabou contra o São Paulo. O rival tentou deixar o campo aos 20 do segundo tempo, por não concordar com a marcação do pênalti do tricolor Virgílio em Og Moreira. O zagueiro rival ainda foi expulso. As autoridades policiais não deixaram o São Paulo sair de campo em protesto contra a decisão do árbitro. O adversário então se colocou na própria área e não permitiu que o árbitro ordenasse a cobrança. Jaime Janeiro esperou o relógio chegar aos 45 minutos do segundo tempo e encerrou o Choque-Rei com a vitória palmeirense por 3 a 1 e a conquista do primeiro título do clube com o novo nome, na primeira partida disputada e vencida contra o clube que teve mais gente que apoiava a mudança de nome do nosso clube. A chamada “Palestrafobia”.

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O palmeirense e historiador Fernando Galuppo escreveu o livro “Morre líder, nasce campeão” a respeito da Arrancada Heróica e de todo o doloroso processo de trocas de nome do clube (de Palestra Italia para Palestra de São Paulo, em março, e de Palestra de São Paulo para Palmeiras, em setembro). “1942 foi um ano marcante. Não só na vida do então Palestra Italia, mas, sim, do mundo pelo acirramento da Segunda Grande Guerra. Num recorte específico da questão Palestra Italia, foi um momento em que o poder político constituído à época representado pelo Getúlio Vargas tinha um ideário da nacionalização do país. Da edificação de pilares que reforçassem o ideário de um Estado Novo, que representava um senso patriótico e nacionalista que vigia no mundo. A partir da política totalitária do governo Vargas, ele procurou dar uma ênfase nas instituições nacionais e, naquelas que de certo modo eram estrangeiras ou representavam alguma identidade e alguma ligação com nações estrangeiras, ele iniciou um processo de ‘nacionalização’. Foi um período muito duro no mundo, no qual o Palmeiras estava inserido justamente por suas raízes italianas. A partir disso o clube se viu obrigado a mudar alguns de seus princípios, mudar seu símbolo, mudar sua identidade sem perder as suas referências históricas de tradição e grandeza. As pessoas que conduziram essa transição tiveram muita inteligência para que hoje a gente possa se orgulhar daquele que é o maior campeão do século XX no país do futebol”.

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Mudaram o nome do clube, mas não sua essência. Para Galuppo, conhecer a história é essencial para evitar que se repita. “Nossas raízes e valores foram usurpados por regimes totalitários. Por isso é fundamental estar vigilante para evitar que tentem impor condições sem respeitar as raízes de maneira intransigente”.

O historiador gostou do terceiro uniforme, inspirado nos design e espírito de 1942. “Sou entusiasta de todas as ações que preservem e resgatem a memória, a história e a tradição da Sociedade Espotiva Palmeiras. Foi mais uma grande sacada do clube e de seus parceiros como a Adidas. A camisa do Palmeiras já é uma camisa linda que nos orgulha, que nos encanta”.

Galuppo conta mais do ano de 1942 em seu livro, lançado pela Maquinária Editora, em 2012. “Foi uma honra muito grande ter tido essa oportunidade de fazer uma obra que pudesse dar um pouco mais de detalhes e preservar a oralidade que foi construída em torno deste momento marcante na vida do clube. Foi uma alegria poder participar de um processo como esse, um livro que foi premiado no Prêmio Jabuti, e na Feira Internacional do Livro, em Frankfurt. A gente conseguiu colocar essa história de maneira internacional, ter esse reconhecimento, a força do clube, a força dessa história, a força dessa gente que lutou para que o Palestra de então pudesse ter continuidade no Palmeiras de hoje que a gente tem tanto orgulho. As ações tomadas por toda aquela gente em 1942 e tantos outros nomes importantes na história da Sociedade Esportiva Palmeiras foi vital. Se eles não tivessem tido a serenidade, a ideia de pacificação, de compreensão acima de qualquer vaidade, de unidade, para a manutenção da nossa instituição, talvez a gente não estivesse aqui falando desse sonho, desse amor, dessa chama viva e dessa luz infinita que é a Sociedade Esportiva Palmeiras”.