Todos os tons de verde: dizendo não ao preconceito

Por mero preconceito meu, não gosto do “Chaves”. Nunca vi e não gosto. Amo os “Três Patetas” dos EUA, mas não o Chapolin mexicano. Aliás, acho que não são a mesma coisa, Chapolin e Chaves. Ou são. Mas não quero saber. Só que não tenho raiva de quem sabe.

Se não curti o Silvio Santos importar a série de TV, sei que muita gente ama. Segue o jogo. Não me importo. Mas têm alguns assuntos importantes que não podem ser deixados de lado. Só não podem seguir incertos tipos de jogo. Como a mania besta que veio do mesmo México onde trouxemos a simpática ola das arquibancadas em 1986: a grosseria e estupidez de berrar “bicha” no tiro de meta do goleiro rival. Idiotice que nem todos absorveram a partir de 2014. Muitos nem gritam porque é apenas preconceito. Alguns “defendem” (SIC) que o grito “desestabiliza” o adversário… Meu diabo.

Palmeirenses mandaram bem quando em 2016 fizeram campanha para gritar “porco”, “Marcos”, qualquer coisa. Menos um berro homofóbico. Palmas para tantos.

O interessante de gritar “porco” é que até justamente 1986, e desde 1976, era o berro que nos baqueava. Bastava um torcedor rival gritar “porcoooooooooo” para nós ficarmos mudos. Loucos de raiva.

Até assumirmos a bronca. O apelido. E virarmos o jogo. Mais ou menos como os bosteros do Boca, os urubus do Flamengo.

Mas nem todos. Algumas torcidas ainda não assumiram os apelidos pejorativos dos rivais. E não são mesmo obrigadas. Nem por isso devem ser criticadas ou assim chamadas pela mídia sem modos. Por mais que alguns dos apelidos possam não ser assumidos também por preconceito de quem é a “vítima” deles.

Um torcedor do Palmeiras criticou a própria torcida no Twitter. Segue o texto:

“A torcida do Palmeiras, em sua homofobia típica, canta que ‘todo viado nessa terra é tricolor’. Parece que encontrei uma exceção a regra: eu mesmo, viado e palmeirense, e que cola no estádio em TODOS os jogos.”

Ele só exagera ao dizer que exista uma “homofobia típica”. Por mais que quase todo o estádio tenha cantado no Choque-Rei, nem todos pensam assim. E até os que cantam não acham isso. Ou não têm preconceito que, sim, o futebol, dentro e fora de campo, tem demais. Preconceito do tipo William Wack: fala bobagem e não assume a bronca. Insiste na “piada” e diz que os outros estão errados. E fala que todo mundo faz errado, menos ele.

A discussão é válida. Como foi demais de válida a iniciativa para não gritar “bicha” pro goleiro rival. Como outras atividades e ações são educativas e necessárias.

Combater a intolerância é dever do futebol que nos ensina – ou deveria – a ganhar, perder e empatar. Saber que existem outros cores e credos. A tolerar. A suportar. Em qualquer acepção.

O próprio autor do tuíte que ainda postou seu rosto diz que ele mesmo usa o termo “viado” como forma de afirmação. Para o UOL, ele disse que usa “porque acham que ofende, e eu quero mostrar que não ofende. Ser gay, viado, bicha é tão normal quanto ser hetero ou bi. O termo é usado como ofensa, então a gente subverte a lógica e usa como afirmação de orgulho”.

Mais ou menos como o grito de “porco” dos rivais acabou quando nós assumimos o que parece ser mas fácil assumir. Para nós e para todos.

A discussão levantada pelo palmeirense é válida. Para todos os clubes. Nós todos só temos de fato um ponto em comum no Allianz Parque. O Palmeiras. E mesmo assim já nos desentendemos como gente. Não vamos criar mais sarnas para coçar. Ou burros, antas, toupeiras, veados, pavões, porcos e periquitos.

Basta conviver. E bater em quem não sabe respeitar.