Troco pernambucano: Palmeiras 1 x 2 Náutico, Taça Brasil-67

Os gols do Náutico no Pacaembu, nas imagens da Bandeirantes

O Palmeiras só precisava do empate no jogo de volta em 27 de dezembro no Pacaembu para conquistar a segunda Taça Brasil do clube, e o segundo título nacional em 1967, depois do Robertão-67, em junho. Mas o Náutico quis mais jogo. Venceu por 2 a 1 em São Paulo, devolvendo a derrota por 3 a 1 em Pernambuco, e forçou o jogo-extra dois dias depois, no Maracanã.

 

O elenco palmeirense treinou na tarde de 25 de dezembro para a partida de volta. Os atletas haviam recebido 500 cruzeiros novos pela vitória no Recife. Se ganhassem o título, o bicho seria triplicado.

 

Nos poucos treinamentos da semana o Palmeiras teve o desfalque de Ademir da Guia. Em agosto, dois meses depois da conquista do Robertão-67, ele marcou o casamento com Ximena, sua noiva chilena. A cerimônia no civil foi em Santiago, domingo, antes do Natal. A religiosa seria no Rio. Quinta-feira ou sexta. Dependendo da possibilidade do terceiro jogo acontecer.

 

Rinaldo enfim estava com a situação regularizada e à disposição de Mário Travaglini. Servílio estava recuperado da lesão muscular. O goleador César seguia muito bem. Mas não sabia se continuaria no clube. O Flamengo queria o zagueiro Djalma Dias, sem contrato com o clube desde o primeiro semestre. Propunha a troca por César. Ele pretendia ficar. Mas queria ganhar “um dinheirinho” na negociação. Ou mesmo trocar de clube para receber mais.

 

O Náutico foi a campo com duas mudanças na equipe derrotada na partida anterior. Um time desgastado fisicamente como o Palmeiras pelo excesso de jogos. E pelo atraso de mais de seis seis horas para o avião decolar dois dias antes, do Recife.

 

Ademir da Guia chegou a tempo do Chile, ainda que atrasado no horário marcado. Mas Travaglini optou por começar com Servílio. Não era só questão tática ou física. O treinador não gostou muito de possível falta de foco ou interesse do Divino…

 

O pecado foi capital. Deu Náutico.

 

A charanga do Mingo comandou a festa com milhares de bandeiras no Pacaembu. Mas o time desandou. Nervoso, e sem Ademir para acalmar, a equipe sentiu o peso do título que parecia encaminhado. Mais ou menos como dias antes o São Paulo perdera um título “ganho” contra o Santos, no mesmo palco.

 

Travaglini trocou o Divino por Servílio, mantendo Zequinha e Dudu no meio-campo. Lula continuou na ponta-esquerda. Mas o time não andou. Errando passes desde o começo, com menos de cinco minutos a torcida já cornetava pedindo Ademir da Guia. Não que estivesse errada. Mas deu tudo ainda mais errado.

 

Aos 7, Ladeira arriscou da entrada da área e abriu o placar, acertando o ângulo direito de Pérez. O Palmeiras entrou em parafuso de novo. Servílio e Lula estavam muito mal. Tupã voltava para armar com Dudu e Zequinha mas não encontrava Servílio e nem César, que afunilava demais.

Ainda assim o Palmeiras chegava mais. Perdia gols imperdíveis até Servílio e Fraga perderam a cabeça e serem expulsos depois de troca de pontapés. Duque tirou o ponta-esquerda Lala e escalou Limeira na zaga, deixando o 4-2-4, e passando a adotar um 4-2-3. Semelhante ao do Verdão sem Servílio.

O problema é que César e Lula estavam mal tecnicamente. Tupãzinho já não tinha companhia para voltar, armar e ainda finalizar. Passou da hora de apostar no Divino. Ademir entrou ainda aos 41 do primeiro tempo no lugar de Lula (que também fraturou o dedo médio da mão direita). Zequinha guarnecia a área, Dudu começava o jogo e Ademir orquestrava, com César e Tupã na frente.

Mas não deu um minuto e o Náutico ampliou, em contragolpe. Miruca passou por Ademir, Ferrari e Minuca, serviu Nino, que driblou Baldocchi, e, de canhota, bateu cruzado no canto de Pérez. Náutico 2 x 0. Um golaço. Duas chances, dois gols. Dois belos gols.

Duque voltou para o segundo tempo isolando Nino na frente e todo o Náutico atrás da linha da bola. Travaglini respondeu segurando Zequinha, liberando Dudu para cair até pela ponta-esquerda (onde iniciara a carreira na Ferroviária, em 1959), com Ademir articulando e dando bolas para César e Tupã. O Palmeiras melhorou.

Aos 17, Arnaldo expulsou Baldocchi e Ladeira. O Náutico recuou até Nino para a área. O Verdão abusou dos chuveirinhos. Mas, num deles, aos 36, Dudu colocou Tupãzinho em condição de marcar.

O gol animou até a murcha torcida no Pacaembu. O Palmeiras cresceu e na base do bumba-meu-periquito teve a bola do jogo com Ademir da Guia, aos 44. Ele recebeu livre na pequena área, ajeitou e fuzilou em cima de Válter (que substituíra o lesionado Lula). O goleiro pernambucano fez grande defesa que levou o palmeirense a vaiar o Divino!?!?!?

Não era mesmo noite de Palmeiras.

Ademir, Dudu e Tupãzinho foram os melhores pameirenses. Mas abaixo da média habitual.

A derrota no Pacaembu levava a decisão da Taça Brasil para o Maracanã, 48 horas depois.

24 horas depois do casamento de Ademir da Guia no Rio de Janeiro

 

PALMEIRAS 1 X 2 NÁUTICO, segundo jogo final da Taça Brasil-67

Data: quarta-feira, 27/dezembro (noite)

Estádio: Pacaembu

Juiz: Arnaldo César Coelho (RJ)

Renda: NCr$ 98 632 00

Público: não disponível

PALMEIRAS: Pérez; Geraldo Escalera, Baldocchi, Minuca e Ferrari; Dudu e Zequinha; César, Servílio, Tupãzinho e Lula (Ademir da Guia). Técnico: Mário Travaglini

NÁUTICO: Lula (Válter); Gena, Mauro, Fraga e Clóvis; Rafael e Ivã; Miruca, Ladeira, Nino e Lala (Limeira). Técnico: Duque.

Gols: Ladeira 7 e Nino 42 do 1º; Tupãzinho 36 do 2º

Expulsões: Servílio e Fraga 31 do 1º; Baldocchi e Ladeira 17 do 2º