Uma defesa para que Egídio não vire o Denys do século

por RODRIGO DUTRA VIANNA

Mauro,

Me solidarizo a você, meu amigo. Mas lhe faço um pedido: não deixem crucificar os que têm coragem, mas, sim, os que não enfrentam a batalha!

Ontem, assistindo ao jogo do Palmeiras, me lembro como se fosse hoje daquele fatídico Palmeiras x Corinthians em 2000. De tantas imagens daquela noite que não me saem da cabeça, não tem como esquecer o 4º pênalti do Corinthians. Num time cheio de estrelas, jogadores consagrados, muitos deles que seriam Campeões do Mundo pela seleção em 2002, saiu do meio do campo um lateral — franzino, tímido, de poucas palavras. Um salário que podíamos chamar de mínimo no futebol, criado por índios e que realizou o sonho de ser jogador de futebol. Ali no meio de cobras criadas, ele saiu do meio do campo e entre 70.000 pessoas além de milhões na Televisão e um mundo em suas costas, converteu seu pênalti num dos maiores goleiros que vi jogar: São Marcos, o mesmo que habitou meus pesadelos quando pensava em futebol até o penta em 2002 me lembrando daquela cena minutos depois.

Ontem, não diferente disso, após um combalido Moisés caminhar mancando até a marca do pênalti e assumindo a responsabilidade que um Camisa 10 com a história do Palmeiras o fez, bateu com dor… mas bateu. E fez a alegria até dos rivais, pois foi um Guerreiro Craque de Bola.  Minutos depois, sai do meio campo o jogador com um estádio nas costas: 9 MM de torcedores em cima daquele pé esquerdo. A todos os secadores, uma alegria, pois estava escrito – assim como Marcelinho em 2000 contra Marcos — que seria o momento derradeiro do jogo.

Assim o fez. E para alegria de muitos, e tristeza de milhões… Ele errou…

É impossível não comparar ao que aconteceu ontem o que ocorreu com a gente em 2000: crucificar aquele que se colocou à frente de outros, que segundo seu próprio comandante, não se sentiam confiantes para bater; seria uma grande injustiça. Se atletas como Borja, Michel Bastos e outros não estavam em campo — por que Deyverson, recém-chegado de uma temporada na Europa como um jogador diferenciado, alegou “um peso na coxa”? —, como não apostar num momento difícil do jogo naqueles que poderiam criar algo diferente? Como não pensar numa disputa de pênaltis, em ter aqueles que TÊM QUE DAR A CARA A TAPA?

Como corinthiano, já vivi grandes e inúmeros traumas no futebol — nem preciso descrever aqui, pois já perdi a conta —, bem como das glórias também. Por isso, sei exatamente o sentimento que deve passar nos meus amigos palmeirenses. Sinto pelo jogador, que tomou a coragem de partir pra bola pelo erro, pois dificilmente terá uma nova chance no time alviverde — eternamente marcado pela derrota, como Marcelinho em 2000, Coelho em 2006, Roger em 2003, etc.. Mas a vida segue. Espero que aqueles mais conscientes como você possam dar um futuro digno aos que têm coragem, mesmo com a dor de uma derrota e de um erro que impactou a vida de milhões. Mas lembrar que aquele chute de pé esquerdo vai impactar de verdade a vida de um corajoso.

Um abraço, meu amigo.