Uma história de criança

Logo eu que nasci campeão. Era um amanhecer de chuva, de frio, das águas de Maio aquecendo o inverno. Era aquele time que fez do meu pai, um torcedor de almanaque. Campeão que tinha a certeza da vida que o bi viria. Eu, um Gabriel cujo apelido é o mesmo de um título repetido, vim ao mundo de mãos no país, já era o oitavo do meu Palmeiras.

Logo eu que fui pra escolinha e me criei em meio aos sucessos do time dos outros. Tinha 6 recém completos e como letra de música, minha mãe dizia: “você precisa fazer amigos e esquecer um pouco do Palmeiras. Você vai viver sozinho”. Errada, não estava, pelas leis do mundo. Mal sabia que o coração torcedor de uma criança é o cartão de visitas para o mundo retribuir com uma família de milhões. De alma.

Campeão da América. A memória ficou pelos ares desse tempo, não escrevo hoje com elas sob as mãos, mas com a noção do que foi aquele ano. Pelo pai, pelo avô, pelos tios, pelos vídeos, pelas fotos, por toda a cultura que uma evolução genética de uma paixão é capaz de proporcionar naturalmente em uma criança. Nela que fui eu, que foi você, que foi cada verdinho por aí.

Em 2000, eu tinha 7. Um hiato de oito anos.
Nada.
Rebaixado.
Humilhação.
Desacreditado.
Talvez tenha saída.
Um fiozinho de esperança.
Talvez no ano que vem possa dar.

Foi uma evolução que entre descrenças e mais amor por aquela tarefa de torcer. Não fazia muito sentido lógico pra um coração infantil entender porque seguir dedicando tanto afeto, tempo, nervoso e emoção para algo que parecia apenas impossível de frutificar em alegria plena.

Pensei:

“Nunca serei campeão”.

A inocência é uma benção que escolhe os pequenos por saber que lá terão abrigo. Mal soube que aquela mão do Imperador era o caminho das pedras pra sala de troféus. No gol de Valdivia, chorei pela primeira vez. Engasguei naquela confusão de sentimentos. Escorreu pelos olhos a gratidão de ver meu pai chorando. Meu padrinho, também. No de Alex Mineiro, era criança correndo pro carro para colocar no rádio o CD de hinos do Brasil e achar a faixa 4, o hino do meu Palmeiras campeão.

Beirando a adolescência, vi meu sonho de criança se tornar as dores de um pré adulto. Um título e um rebaixamento. Espírito ainda moleque que sentiu de tristeza e de alegria num espaço de tempo menor do que a capacidade de perceber a distância do infância. Em 2015 e 2016, um projeto de homem que regrediu uns 20 anos e sentiu que o mundo era mais bonito, era mais legal, era mais feliz, era perfeito, era cosplay de ser criança por ser Palmeiras vencedor.

São crianças como você que ainda dão forças para fazer do futebol o maior espaço de caráter e divertimento do mundo. Que nos fazem encher estádio e te evidenciar que aquilo vale a pena. Eu fui um sonho de moleque por um Palmeiras campeão e vi.

Que todos vocês, sob as bênçãos de Nossa Senhora, tenham uma história linda de criança para contar sobre suas glórias de verde e de branco.