Carta para o torcedor de 2014

Palmeirense de 2014,

Eu sei que você está sofrendo. E muito. É seu centenário. Quase que o terceiro rebaixamento aconteceu. O que, obviamente, seria um desastre do tamanho do seu belo e novo estádio. Eu estive nele no primeiro treino – aí em 2014 – com Dorival Júnior como técnico. Foi linda a festa. O elenco entrou com o hino. E a beleza não se refletiu em campo. Não foi recíproco. Você se desesperou. Cantou e vibrou, mas com gol do Santos. Quando ninguém mais acreditava, você permaneceu.

Você foi Mendieta, Eguren, Diogo. Foi Mouche, Wesley e Lúcio. Foi tanta gente que não foi você. Não por falta de vontade, mas por falta de técnica. Não por falta de esforço, mas por falta de habilidade. Faltou Palmeiras nessa temporada que você acabou de ver. Sobrou sofrimento e angústia. Você foi Fernando Prass. E, mesmo assim, durante metade do campeonato. E foi Valdívia. Mas já te aviso, no entanto: Valdívia vai sair do Palmeiras no ano que vem.

Calma. Eu sei que a notícia não é animadora. O chileno sobra em campo diante de tantos que entortam e maltratam a bola. Entendo sua relação de amor e ódio – mais ódio do que amor – com o meia. Há vida sem ele, porém. Há bola, chuteira e bons jogadores chegando. No ano que vem – em 2015 – você vai receber uma bela surpresa num domingo cedo. Seus rivais Corinthians e São Paulo estarão perto de um tal de Dudu, destaque do Grêmio. Mas você que vai contratar.

O Valdívia vai arrebentar na Copa América. E vai destruir o Corinthians em um jogo isolado. Viverá de repentes, de lapsos, de dribles e passes impensáveis. E – como os amores que vêm e vão – continuará indo e vindo para o departamento médico. Até seguir – de vez – para o futebol dos Emirados Árabes. Uma parte de você vai adorar. E outra vai detestar. Valdívia – você sabe – não é unanimidade. Ninguém é.

Mas te juro, palmeirense de 2014

Lá para outubro de 2018, Valdívia voltará ao Allianz. Quartas de final da Libertadores – sim, depois de tudo haverá Libertadores. Alguns gritarão seu nome. Seu nome ainda dividirá sentimentos. O futebol do talentoso chileno continuará de ótimo nível, aos 34 anos. Neste dia, no entanto, o Dudu receberá uma bola no meio de campo e levará três adversários ao desespero. Até acertar um belo chute de esquerda. E cravará – de vez – o nome na curta lista de ídolos do clube. A torcida cantará e vibrará.

Sua lágrima de desespero será substituída pelo sorriso do alívio. Você será semifinalista da Libertadores. Você e Dudu. Valdívia ficará pelo caminho. Assim como 2014 ficou.

Caro palmeirense de 2014,

Hoje você depende do Valdívia. Você sofre com Juninho, Tobio, Victorino. Você se entristece com as bolas nas canelas de Felipe Menezes, Marcelo Oliveira e Bruno César. Você mais lamenta do que comemora.

Mas amanhã você vai eliminar o Valdívia. Da sua lista de necessidades e da principal competição do continente. Os chutes no vácuo, as frases polêmicas, as declarações de amor. Ele ficará na história não só como o craque ausente, mas como o herói e o vilão. O ídolo e o preguiçoso. O habilidoso e o lesionado. Tudo ao mesmo tempo. Na mesma frase. No mesmo coração palmeirense. Que ainda baterá por ele.

Há futuro, amigo de 2014. Há futuro e ele é verde. Feliz é o time que tem a esperança como cor.