Vamos, Chapê

Placar de 1 a 4 em Chapecó depois da heróica vitória na Copa do Brasil-15, no 3 a 2 contra o Inter, no Allianz Parque. Aquela da cabeçada do Andrei Girotto (hoje na Chapecoense).

Ananias vai pro jogo na Arena Condá no returno do BR-15. Aparece a imagem dele pronto para entrar. O Ananiesta da Barcelusa de Jorginho e do agora palmeirense Moisés. Ananias que marcou o primeiro gol da nova arena palmeirense, em 2014: o Ananias Parque. Meme ambulante. Mimimi automático palestrino: esse cara vai aprontar de novo.

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O palmeirense preferia que Messi entrasse em Chapecó naquele instante. As chances de possível gol do argentino eram menores que as de mais um tento de Ananias, mais um lamento do Palmeiras.

Não é exagero. Eu estava acabando uma transmissão do Italiano no Fox Sports e trocando de camisa para voltar ao ar para comentar o Central Fox. Deu tempo de olhar o minuto a minuto do UOL. A troca de não lembro quem por Ananias.

— F#€£u! (Pensei. E Dalai Lama não teria pensando diferente).

Como a escalação inesperada um ano antes do colorado Taiberson, na penúltima partida do BR-14. Ele ainda não havia marcado pelo Inter. Não preciso escrever que fez um dos gols do 1 a 3 no Beira-Rio.

Não basta ser ex-atleta do Palmeiras. Se tiver nome bizarro, podemos nos preparar.

Estava escrito nas entranhas: o fecho com chave de chumbo daquele 1 a 5 seria gol do algoz do Allianz Parque. Ananias. Ele que foi nosso em 2013. Ele que foi mais um entre tantos nomes comuns incomuns. Nomes próprios impróprios para o maior campeão nacional.

Quando piscou na tela do celular o gol da Chapecoense no BR-15, a reação foi a mesma que eu teria se já houvesse internet no SP-96 com o ataque dos 102 gols do Palmeiras: gol do Verdão. Normal. Gol de Ananias. Mais ainda.

Pelo ‘menos’ acabou 1 a 5.

Ananias que depois do Sport em 2014 foi defender a ótima Chapecoense de Caio Júnior (de bom trabalho no Palmeiras em 2007) na melhor semana da história do clube, em novembro de 2016. Finalista na quarta-feira da Copa Sul-Americana. Protagonista da decisão do Brasileiro no domingo. Contra o Palmeiras. No Allianz Parque. Palmeiras que nesta década só havia vencido uma vez o rival de verde também inspirador em nossas cores e amores. Empatou duas e perdeu outras duas partidas.

Bastava um ponto no BR-16 para o Palmeiras ser o que Cuca prometera quando eliminado no Paulista. O que o time dele prometia desde a primeira rodada. O que fora em 27 das 36 rodadas. Mas havia a Chapecoense pela frente. Ananias por trás. E o receio respeitoso do palmeirense.

Torcedor que não cheirou nada em momento algum em 2016. Não gritou “é campeão” em nenhum jogo da campanha. Não berrou o zicado e zoado “o campeão voltou” em nenhuma vitória. Não entoou o mantra do “eu acredito” que só uma vez deu certo pra valer – com Cuca, no Galo, em 2013.

Até porque o palmeirense meio que não acredita que acredita no Palmeiras.

Detestamos ser pessimistas. Palmeiristas pessimistas como dizia minha avó que morava na Pompeia e quase queimava o bairro de tanta vela que acendia pelos meninos de verde.

Nós não gostamos de sofrer. Não achamos graça nisso. Não temos orgulho de sofrer. Não dizemos que para nós “tudo é mais sofrido” como se fosse um troféu que a gente tem mais brasileiro que qualquer um. Mas nós sofremos. Não em silêncio, que somos barulhentos. Mas sofremos. Contritos. Convictos. Confusos. Comprimidos numa camisa-de-força verde com um P de pancada. Porrada. Pinel. Pavor. “Paùra”, em italiano: medo de que algo pior possa aparecer. Preferimos enfrentar o Barcelona de Messi a um time de menor investimento. Um Barcelona do Equador. Todo adversário vira o Bayern de Munique para o palmeirense.

Não necessariamente para o Palmeiras. Ainda mais aquele elenco que ganhou os jogos grandes em 2015. E seguiu assim em 2016. E também ganhando as partidas menores. Muitas vezes mais se aliviando que celebrando as vitórias. A expressão correta de cada corneta ao final do campeonato não era “é campeão!” Foi lá no fundo da alma “acabou!” Como o tetra mundial do Brasil do Galvão Bueno nos Estados Unidos – e ele narrou o título do maior campeão do mundo. Como o enea do Palmeiras em 2016 – e estamos falando do maior campeão nacional do país mais vezes campeão mundial. E assim foi. Só gritamos “campeão” aos 39 minutos do segundo tempo contra a Chape. Só perdemos o ar no abraço entre Jailson e Prass.

Mas não esqueço Ananias. Ainda lembro o gol no Allianz em 2014. O gol em Chapecó em 2015. O gol do Fabiano do jogo do título em 2016. Os titulares da Chape esperando acabar a festa do Palmeiras pelo enea no gramado para começar o treino para a decisão da Sul-Americana três dias depois, em Medellín. O Caio Júnior passando na zona mista do vestiário e eu não conseguindo falar com ele com o microfone da Jovem Pan numa mão e o do Esporte Interativo na outra. A torcida do Palmeiras aplaudindo a saída do ônibus da Chapecoense do estádio e a delegação lá dentro aplaudindo o aplauso palmeirense. O voo para a Colômbia no dia seguinte. O telefonema da minha mulher na manhã de terça. A dor de amigos perdidos. A linda história da Chape partida.

Domingo tem a volta do jogo dos campeões de 2016. E eu agora só querendo sofrer um gol de Ananias para entender que pesadelo, mesmo, não é aquilo que a gente teme e imagina em um campo. É a dor e tristeza inimagináveis para as famílias.

Vamos, Chapê.