Arquivos BR-13 - Nosso Palestra https://nossopalestra.com.br/assunto/br-13/ Palmeirenses que escrevem, analisam, gravam, opinam e noticiam o Palmeiras. Paixão e honestidade. Fri, 25 Oct 2019 16:47:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.2 A vida dela é você https://nossopalestra.com.br/palmeiras/noticias/a-vida-dela-e-voce/ https://nossopalestra.com.br/palmeiras/noticias/a-vida-dela-e-voce/#respond Fri, 25 Oct 2019 16:47:00 +0000 https://nossopalestra.com.br/2019/10/25/a-vida-dela-e-voce/

O texto que publiquei depois de o Palmeiras voltar para a Série A, em 2013. Me chamo Vitória. RelacionadasEm tom de despedida, Endrick festeja último título pelo Palmeiras: ‘Time que confiou em mim quando não tinha nada’Alicia Klein cita ‘Era Abel’ e coloca técnico como maior da história do Palmeiras: ‘Sem dúvidas’Qual jogo realmente ganha […]

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O texto que publiquei depois de o Palmeiras voltar para a Série A, em 2013.

Me chamo Vitória.

Nasci em 6 de junho de 2000. Terça-feira à noite. Se fosse menino, seria Marcos. Segundo meu bisavô, que escolheu Vitória, ele queria um nome de santo. Especialmente naquela noite. Não sei porquê. Só sei que minha bisavó, que torce pelo maior rival do time do meu bisa, queria Marcelinho se eu fosse menino. De raiva, ela falou que eu me chamaria Darinta se fosse menina e ela pudesse ter a chance de escolher. Também não sei o que significa esse nome. Mas sei que meu bisavô não quis nem saber.
Ele é beeeem velhinho. Tem mais de 90 anos. Moramos juntos em Perdizes. Ele diz que não tem lugar melhor. Cheio de altos e baixos. Parece a vida dele e da maior paixão dele. Mais que eu, os filhos e a minha bisavó. Amor que ele vive de
perto. Sempre.
Em 18 de novembro de 2012 ele caiu. Quebrou um monte de osso. Foi no final de uma tarde de domingo. Só sei que ele estava vendo TV, deu um monte de grito durante horas, mas só se machucou feio quase de noite. Quando daí eu não entendi nada. Ele não gritou e nem xingou. Nem chorou. Ficou quieto. E quebrado.
Foram meses este ano de 2013 em que ele ficou de cama. Mas sempre gritando. Principalmente de terça e de sábado. Quando ninguém podia entrar no quarto dele. Ninguém. Muitas vezes ele me chamava depois e contava muitas histórias de muitos amigos que ele diz ter. Mas acho que algumas são mentiras. Coisas incríveis. De super heróis.
Alguns nomes ele fala sempre. Outros ele não quer nem falar. Mas sempre ele fala deles. Como velhos conhecidos.
Nas últimas semanas ele começou a sair de casa. Passeou pelas ruas de cadeira de rodas. Toda hora passava alguém dIzendo que ele estava bem, voltando, retornando ao lugar dele. Ele abria o sorriso e dizia que isso era normal. Anormal era a queda que ele teve no ano
passado. Quando ele se quebrou todo.
E muita gente achou que ele já era. Que não iria mais se levantar. Era muito chato tudo isso.
Mas, neste sábado, exatamente 16h20, ele pediu para sair comigo. Estava um sol lindo em Perdizes. Eu fui empurrando a cadeira de rodas dele. Ele me falou de muitas coisas que viveu. Disse que vira na televisão um monte de amigos que ele gosta. Valdir, Edu, Rosemiro, Alfredo, Dudu, Ademir, Leivinha, César, Evair, Amaral, Edmundo, Marcos. Falou um monte de coisas deles. Tudo deve ser invenção. Mas eu quase acreditava nele. O brilho nos olhos do meu bisavô me fazia achar que tudo aquilo era possível.
Eu reparei que quando ia caindo o sol ele ficava mais inquieto. Não parava. Toda hora perguntava que horas eram. Eu respondia. Ele parava fazendo contas com os dedos. E toda hora que ouvia um rádio ligado ele pedia para eu ficar quieta.
Eu ficava. Mas ele não.
Quando era 18h11, meu bisavô pediu a hora. No mesmo momento a gente ouviu gritos, aplausos, palavrões. E logo aquela música que meu bisavô sempre canta todo dia. E ele sempre me disse que teve alguns anos quando ele cantou mais ainda. Eu até lembro quando foram. Em 1951. Em 1959. Um monte de vezes nos anos 60 e 70. Depois ele disse que durante uns anos essa música ele cantava sempre. Mas só ele.
Ele sempre me fala que ficou semanas seguidas em 1993 cantando e ouvindo. Só que, desde que eu nasci, em 2000, ele ouviu pouco.
Mas não importava. Porque essa era uma canção que sempre estava com ele. E ele disse que queria muito estar comigo nesta tarde.
Acho que entendi o porquê quando ouvi alguns carros buzinando. Não muitos. Um velho amigo dele veio abraçá-lo na padaria.

  • Parabéns, meu grande amigo!
    Meu avô não disse nada. Apenas sorriu.
  • Ufa! Agora vai! Estamos de volta!
    Meu avô mal olhou para ele. Apenas ficou olhando pra frente. Segurou firme na cadeira de rodas. Levantou a cabeça. Se apoiou no braço da cadeira. E se levantou sozinho pela primeira vez desde que ele tinha caído e se quebrado todo em 2012.
    Eu e o amigo dele não acreditamos. Ninguém imaginava que com mais de 90 anos ele ainda pudesse se levantar. Sozinho. Com a força das próprias pernas e braços.
    Eu corri para ajudar. Como acho que todo mais jovem precisa ajudar quem nos ajudou a vida toda. Mas meu bisavô disse que não precisava.
  • Eu caí sozinho. Eu me ergo sozinho.
    E ele se levantou. Quem estava por perto ficou meio sem graça de aplaudir. Mas todos se emocionaram com ele. Até os que achavam que nada mais aconteceria com ele.
    Meu bisavô foi até o balcão da padaria e pediu a mesma coisa que toda vez ele pede:
  • Um cafezinho e um pouco de água pro meu São Marcos.
    Eu não aguentei e falei:
  • Bivovô, você estava fingindo, estava com preguiça, ou estava sem vontade de andar?
  • Vitória. Nunca duvide das minhas histórias. Nem das minhas vontades. Eu posso já não ser o mesmo de antes. Mas eu ainda sou a nossa família. Eu acredito. Eu me supero.
    Eu chorei. Tenho amiga que não tem bisavós, nem avós. Algumas nem pai. Eu sei que um dia eles não vão estar aqui. Morro de medo disso. E disse chorando pra ele:
  • Bivovô, eu morro de medo de te perder!
  • Vitória. Eu só morro se não lutar. Nunca perco amando. Só deixo de ganhar algumas vezes. Eu não sou eterno. Mas o meu amor é pra sempre.
    E meu bisavô abriu um sorriso, gritou alguma coisa em italiano que parecia algo como cópia, escópia, sei lá. Berrou Palestra e só então sentou.
    Chorando. Mas, desta vez, não de dor.
    Acho que é isso que meus pais chamam de amor incondicional.

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A volta do Palmeiras em 2013 https://nossopalestra.com.br/palmeiras/noticias/a-volta-do-palmeiras-em-2013/ https://nossopalestra.com.br/palmeiras/noticias/a-volta-do-palmeiras-em-2013/#respond Fri, 25 Oct 2019 16:18:58 +0000 https://nossopalestra.com.br/2019/10/25/a-volta-do-palmeiras-em-2013/

Foto: Marcos Riboli/Globoesporte.com Faz cinco anos que escrevi este texto para o LANCE!Depois do retorno da equipe à Série A do Brasileiro. O que escrevi há seis anos: RelacionadasPedro Lima tem futuro indefinido na Inglaterra e tendência é retorno ao PalmeirasAlicia Klein cita ‘Era Abel’ e coloca técnico como maior da história do Palmeiras: ‘Sem […]

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Foto: Marcos Riboli/Globoesporte.com
Faz cinco anos que escrevi este texto para o LANCE!Depois do retorno da equipe à Série A do Brasileiro.

O que escrevi há seis anos:

Eu não vou para a Paulista comemorar como fui pela primeira vez em 12 de junho de 1993. Eu não retorno à avenida que foi palmeirense pela última vez em 2012, na Copa do Brasil, quando fui com meus filhos celebrar o mais inesperado título palestrino – se é que existe inesperado campeão quando esse vencedor é o Palmeiras.
Eu celebro comedido o retorno ao lugar do campeão do século (passado) como celebrei o SP-76. Ergo o braço, beijo a família, abraço os amigos de credo e de verde, e volto a dormir. Sem muita graça. Sem desgraça. Na raça. Sem pirraça. Sem troço. Sem troco para algo que não tem dinheiro que pague na Segundona dos infernos reloaded. Esse treco onde insistimos em meter os pés tortos pelas mãos de alface.
Comemoro o Verdão com um sorriso meio amarelo – e não da pátria amada, Palmeiras. É obrigação subir para um grande que cai – mas que não se rebaixa. Só que agora chega. Já deu. 2013. 2003. Sem contar as Taças de Prata de 1981 e 1982. É muito ferro para muito Palmeiras. Mesmo quando pouco de espírito de porco se viu nesses anos de chumbo.
Tem ainda muito Palmeiras a ser replantado e repensado. Festejo não por ser campeão, mas por ser palmeirense. De primeira ou de segunda. Amor que multiplica. Que não tem divisão. Tudo que já escrevi pra nós e pros outros. Tudo que espero não escrever de novo.
Basta de celebrar o que também não podemos ter vergonha. Mas, sim, grandeza para saber quanto pensamos e quando jogamos pequeno. Quanto nos apequenamos em vez de ser apenas Palmeiras.
Mais uma vez o Verdão expiou pecados e projetos não pagos. O palmeirense, mais uma vez, vestiu a camisa e carregou no colo o time limitado com um amor ilimitado pelo Brasil da B com classe A.
Não fomos a academia de futebol que somos. Mas soubemos de novo honrar o que nos faz viver. O Palmeiras. Não jogamos como tal. Mas nos portamos com a mesma seriedade e humildade. Encarando a segunda com alma de primeira. Cruzando cada rio como se fosse o de Janeiro na Copa Rio de 1951. Vencendo cada partida como se fosse uma Libertadores de 1999. Reconquistando o Brasil como se fosse na Taça e na Copa do Brasil. Como se fosse Robertão e Brasileirão. Como nessa fossa em que nos metemos saímos de alma lavada.
Aprendemos pouco de futebol na Segundona. Mas, uma vez mais, ensinamos mais que Palmeiras. Demos uma lição de amor. Aquilo que aprendemos nas vitórias que ninguém ganhou mais vezes no Brasil. Naquilo que aprendemos nas derrotas que já doeram demais.
Parabéns, palmeirense. Você é um sujeito de primeira. Você não precisa ser campeão para celebrar nosso Palmeiras. Só precisa do nosso Palmeiras para ser o que é. Campeão.

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