A vitória do Palmeiras diante do Red Bull Bragantino, por 2 a 1, não foi importante só para as intenções do clube no Brasileirão. O jogo, apesar de não parecer, foi histórico. Talvez não para todos os mais de 30 mil palestrinos que cantam e vibram nas arquibancadas do Allianz Parque, mas certamente para Leonor Calió, de 92 anos.
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A palmeirense desenvolveu a paixão pelo Verdão nos últimos anos. Sempre palmeirense, foi depois do falecimento do seu marido, Saverino, que a torcedora se tornou fanática. No entanto, pela idade, ela não havia tido uma oportunidade de conhecer o Allianz Parque, até que foi convidada por Bruno, seu neto.
Jornalista formado pela Cásper Líbero, Bruno tem uma forte relação com o Palmeiras. Acompanhado do pai e do avô, cresceu acompanhando o Maior Campeão Nacional e viu crescer o amor pelo clube em Leonor. Conversando com o NOSSO PALESTRA, ele contou sobre o seu sentimento acerca do Alviverde.
– Minha relação com o Palmeiras veio do meu pai e do meu avô. Nós sempre assistimos os jogos, a gente frequentava o Palestra (Itália). Era um evento todo jogo do Palmeiras. O Palmeiras me deu muito. Não dá pra dizer que me deu tudo, mas me deu muito. Muito do meu laço familiar, meu sustento, direta e indiretamente, porque sou jornalista e resolvi cursar jornalismo para trabalhar com esporte por causa do Palmeiras. A escolha da profissão se deu pela paixão pelo Palmeiras. E eu fui repórter setorista do clube pela Gazeta Esportiva durante quase três anos.
– A gente frequentava muito o Palestra (Itália), mas, depois da inauguração do Allianz, conseguimos levar ele (avô) apenas uma vez. Era muito difícil a mobilidade, por conta da idade dele. Ele não gostava de usar cadeira de rodas, então era complicado. Ele já com alguns problemas de saúde e a gente levou ele em um jogo no Allianz Parque, Palmeiras ganhou de 1 a 0. Levamos eu, meu pai e ele. Depois a gente já não conseguia mais levar no estádio e, depois de um tempo, ele faleceu. Antes de ele morrer, a gente só assistia aos jogos pela TV, sempre na casa dele.
– A minha vó não tinha tanto esse interesse. Ela ficava mais preocupada em servir o chocolate para a gente comer na hora do jogo do que assistir, ela não dava muita bola. Só que, depois que meu avô morreu, ela, com o tempo, foi assumindo esse papel. Não sei se foi consciente ou não, mas ela foi assumindo o papel dele no nosso trio de torcedores. Ela passou a querer assistir a um jogo, e outro, e outro. E hoje em dia ela assiste todos. É num nível que, apesar da idade dela, ela acompanha o time no nível de perguntar: “O Veron ainda não voltou? Está machucado?”, que é uma coisa que pode surpreender, pela idade dela. A gente não havia levado ela antes no estádio, primeiro porque isso foi se desenvolvendo com o tempo, apesar dela torcer e tudo, a proximidade com o clube foi acontecendo mais depois da morte do meu avô. E, pelo mesmo motivo do meu avô, a gente tinha muito receio de levar ela. Quem frequenta estádio sabe, é muvuca, não tem jeito. É bagunça, por mais que seja arena. É futebol, não é ópera. A gente tinha esse receio, mas a gente resolveu encarar o desafio.
Bruno, então, teve uma ideia. Motivado pelo fanatismo da palmeirense de 92 anos, resolveu fazer uma surpresa. Com a ajuda do pai, iria realizar o sonho de levá-la ao Allianz Parque para um jogo do Maior Campeão Nacional.
– Ela fez aniversário na semana anterior e a gente resolveu juntar aniversário, dia das mães. A ideia foi minha, falei com o meu pai, ele topou. Eu liguei para ela e, quando ligo, ela sempre pergunta: “O que você achou do último jogo?”. Conversei um pouco com ela e ela falou: “Depois é o Red Bull (Bragantino), né? Você vem aqui assistir?”, e eu falei assim: “Não vou porque nós três vamos no estádio”. Aí ela deu risada no telefone. Eu falei assim: “Por que você está rindo? Eu estou falando sério”, e ela riu de novo. Eu falei: “É verdade. Já comprei o ingresso, vamos os três assistir, levar você de cadeira de rodas”. Ela se assustou e falou: “Você está brincando comigo ou está falando sério?”. Respondi: “Não, vó, eu estou falando sério. O meu pai não tá aí? Pergunta para ele se é brincadeira”. Aí ela perguntou e meu pai confirmou. Ela ficou louca de contente. Senti que na hora ela ficou um misto de emocionada com muita ansiedade.
– Chegou o dia do jogo. Eles passaram aqui e fomos para o estádio. Fomos cedo para não ter problema, por conta dela. Paramos o carro no Shopping Bourbon e fomos empurrando a cadeira. Entramos sem maiores problemas. Foi meio difícil para achar o lugar, aquela área da cadeira de rodas é diferente. Apanhamos um pouco para isso, mas conseguimos. O curioso é que o jogo estava para começar, estava todo mundo sentado nos lugares e, quando estava para começar, o pessoal desceu no Gol Sul e foi para a grade, o vidro. Minha vó na cadeira não conseguia enxergar nada. Aí pensei: “Puta que pariu, fudeu, né? Não vai conseguiu ver o jogo”. Só que aí os caras da frente abriram um espaço. Só que aquele espaço lá só dava para ver a linha reta. Nisso veio o segurança do Allianz, botou todo mundo nos lugares, deu um puta de um esculacho na galera. Inclusive, a equipe foi 100%, todo mundo tratou ela muito bem, ajudou a gente.
– Com a bola rolando, tava torcendo para o Palmeiras fazer pelo menos um gol no Gol Sul, porque na primeira fileira, para ver o gol do lado oposto, é muito complicado. Você acaba tendo que assistir no telão. Demos sorte porque saíram três gols no primeiro tempo, o do Dudu, que ficou a bola entrou ou não entrou, o anulado do Rony e o do Danilo. Falei para ela: “Só valeu um, mas você viu três gols”. Ela ficou encantada, não tinha nem noção do tamanho do gramado. Uma hora durante o jogo ela virou para mim e falou: “O campo é tão grande que os jogadores parecem pequenininhos”. Ela ficou encantada, principalmente no Gol Sul.
– No segundo tempo, que o ritmo do Palmeiras caiu, ela também viu a maior parte da ação de frente ali. O gol, por ser de pênalti, acabou não precisar ver no telão. No intervalo, foi legal que teve o sósia do Dudu, que tirei uma foto dele com ela. Ela morreu de dar risada, adorou.
– Depois, esperamos o estádio dar uma esvaziada. Hoje, quando fui falar com ela, ela me ligou para agradecer e foi curioso porque ela virou para mim e falou: “Se você tiverem paciência, a próxima vez que tiver um jogo que vocês acharem que dá para a gente ir, me levem de novo, viu? Eu gostei muito”.
E sob os olhares de mais de 30 mil torcedores, contando com Leonor, o Palmeiras saiu do Allianz Parque com a vitória, por 2 a 1. O time entra em campo novamente na quarta-feira (18), às 19h (de Brasília), diante do Emelec.
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