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Danilo: persistência, título como goleiro, fuga em caminhão e 'murro' do treinador

Uma década depois de começar a jogar bola e superar dificuldades, volante do Palmeiras vai da periferia de Salvador para a disputa da final do Mundial de Clubes, em Abu Dhabi

Danilo com troféu de campeão durante o período que fez parte do projeto (Foto: Arquivo Pessoal)
Danilo com troféu de campeão durante o período que fez parte do projeto (Foto: Arquivo Pessoal)

Danilo é uma das referências de Abel Ferreira e titular absoluto do Palmeiras que entra em campo na final do Mundial de Clubes contra o Chelsea, neste sábado (12) em Abu Dhabi, às 13h30 (horário de Brasília). A chance de estar no topo mundo acontece quase uma década depois dele começar a jogar bola em um projeto na periferia de Salvador.

Danilo foi acolhido pelo Projeto Ensinar Educar e Viver Os Deguinho da Bola, comandando por Adenílson de Jesus Freitas. Mais do que ser o primeiro técnico, Dego, como é conhecido, reforçou a educação rígida que o volante do Palmeiras tinha em casa e deu apoio nos momentos de dificuldade e quase desistência do futebol.

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– O Danilo pensou em desistir em vários momentos. Eu sentava com ele numa esquina daqui e falava: !Você vai jogar o sonho do seu pai e o seu de dar uma vida melhor para a família?”. Daí ele chorava, refletia e partia para outra oportunidade. Foi assim em várias oportunidades – relembra Dego, em entrevista por telefone ao NOSSO PALESTRA.

Dego e Danilo no campo onde a Cria da Academia nasceu para o futebol (Foto: Arquivo Pessoal)

– Teve uma vez que ele me ligou, quando já estava na base do Palmeiras, e disse que voltaria para cá. Estava desanimado por ter oportunidade aí. Eu falei para ele ter paciência, que a hora iria chegar e ele aproveitaria, porém ele estava certo que voltaria. Daí eu disse: “Tu pode voltar, mas quando chegar aqui eu vou dar um murro nos seus olhos para você aprender”. Ele começou a chorar no telefone e, daquele jeito dele, disse: “Tá bom, vou tentar mais um pouquinho”. Deu certo, ele teve a chance que tanto esperou e agora vai disputar uma final de Mundial de Clubes.

A capacidade técnica de Danilo chamou a atenção logo na chegada ao projeto e Dego percebeu que tinha nas mãos um garoto de futuro. A qualidade também se mostrou presente em outras posições, como recorda o treinador:

– Aqui na várzea, a gente coloca o goleiro com dois anos mais velho do que a categoria que vai jogar e uma vez o Danilo disputou um campeonato no gol. Nós fomos campeões invictos. Fizemos 19 gols e ele não levou nenhum.

Danlo em ação durante jogo disputado na várzea de Salvador (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar da boa desenvoltura no gol, a posição no meio é o local em que a Cria da Academia sempre se destacou e, em alguns momentos, a qualidade causou até confusão, tanto que o time precisou fugir depois de uma goleada.

– Fomos jogar em Cajazeiras e saímos perdendo. O Danilo estava no banco e eu o coloquei. Ele mudou a partida: fez gol, deu assistência e goleamos por 6 a 1. O time deles ficou tão bravo que prometeu pegar a gente na porrada e quem nos salvou foi o Danilo. Ele entrou na frente de um caminhão, pediu ajuda e todo mundo subiu para escapar. Ele era tão diferenciado que hoje as camisas 10 dos uniformes estão rasgadas de tanto que o pessoal puxava (risos).

As boas recordações de Dego mudam o tom de voz quando o assunto passa a ser a dificuldade para tocar o projeto por ele. Operador de produção, a empresa em que trabalha está fechada por conta da pandemia e o orçamento em casa depende de bicos e da ajuda da esposa, costureira. O pouco que entra é destinado também para ajudar a manter as 227 crianças atualmente Projeto Ensinar Educar e Viver Os Deguinho da Bola.

Segundo ele, o custo mensal fica próximo a R$ 2 mil e a ajuda recebida gira em torno de 25% dos gastos, algo que o faz pensar muitas vezes em desistir, porém o exemplo e Danilo é um dos motivos a seguir com os ensinamentos.

– O meu primeiro objetivo aqui é formar cidadão. Eu sei que é muito difícil virar jogador de futebol, mas eu também tenho ciência de como é viver na periferia e quanto a vida pode ser mais fácil se um garoto aqui escolher outro caminho. Não posso deixar isso acontecer. Tem menino aqui que não consegue treinar porque chega cinco horas da tarde e ele não comeu nada. Como é que vou deixar de acolher, não tem como? – diz Dego, pedindo desculpa por ficar emocionado.

A persistência de Dego e Danilo os fizeram acreditar que é tudo é possível. Com a Cria em campo, o Palmeiras de Abel Ferreira tem o maior desafio desde a chegada do português neste sábado (12) e, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, o Alviverde está a um passo do topo do mundo. Depois de tanto obstáculo superado, alguém tem coragem de dizer para Danilo que algo é impossível? É claro que não!

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