(Foto: Cesar Greco)
São seis anos sem o Palmeiras utilizar o Pacaembu na Copa Libertadores e o reencontro será nesta terça-feira (27), contra o Grêmio às 21h30 pelo jogo de volta das quartas de final. A última vez não teve final feliz e sofrimento duplo de um torcedor que estava no campo na derrota e eliminação para o Tijuana, por 2 a 1.
As equipes tinham empatado sem gols no México e o jogo estava truncado até uma bola fácil chutada por Riascos chegar ao gol de Bruno, aos 26 minutos do primeiro tempo. A falha do arqueiro abriu caminho para a vaga mexicana e acabou com o desejo palmeirense de tentar algo em uma temporada que seria dura por conta da disputa da Série B.
Desde então, as vidas de Palmeiras e Bruno mudaram bastante. O clube se reergueu, ganhou títulos na nova casa e tenta pelo segundo ano consecutivo avançar à semifinal da Libertadores, algo que não acontece desde 2000/2001, quando o ex-goleiro era apenas um torcedor alviverde buscando chegar um dia ao profissional no clube do coração.
Do outro lado, Bruno vive nos Estados Unidos e trabalha como preparador de goleiros e auxiliar técnico em uma universidade e em um clube de futebol feminino. O objetivo é se aperfeiçoar para ser técnico no país em que está desde 2016.
Sem qualquer problema em falar sobre o pior erro da carreira, ele relembrou o difícil momento vivido na noite de 14 de maio de 2013:
“Na hora a gente tenta mostrar uma postura. Fiquei sem dormir noites e a responsabilidade foi muito minha. Erro besta. Pior erro da minha carreira. Jogo com poucas chances e aquele gol decidiu”, afirma ao NOSSO PALESTRA, dizendo que o fato de ser torcedor também pesa:
“É um sofrimento dobrado como jogador e torcedor. Tem aquela coisa de desapontar a sua família, pais. Meu pai nunca foi mais em um jogo meu depois daquele dia. Nunca falei com ele sobre isso. Eu bloquei isso e ele também”, completa o ex-goleiro palmeirense.
Bruno era titular da equipe porque Fernando Prass se machucou pouco tempo depois de chegar ao clube. Ele tinha sido eleito o melhor goleiro da Copa do Brasil do ano anterior, quando o Palmeiras ficou com o título sob o comando de Felipão.
“Vivia um momento particular muito bom antes daquele jogo. Na ida contra o Tijuana
lá no México fui bem e entrei na seleção da Libertadores daquela semana. Antes, o Palmeiras tinha sido eliminado nos pênaltis contra o Santos e fiz uma das melhores partidas da minha carreira. Naquele jogo o Pacaembu estava lotado, a chegada no estádio tinha sido impressionante. Geralmente, quando se erra é porque está confiante demais. Errei ali porque já estava pensando na segunda bola antes de pegar a primeira”, relembra.
Bruno diz que apesar da falha e eliminação, não acredita que o jogo tenha sido determinante para o fim da passagem dele no Palmeiras, tanto que iniciou a caminhada na Série B até o retorno de Prass ao posto de titular.
“Não considero que aquilo foi o fim da minha passagem no Palmeiras. Eu atuei nos oito primeiros jogos da Série B e não foi fácil. Ainda renovei meu contrato por mais dois anos no fim da temporada quando a gente voltou para a primeira divisão”, comenta.
À distância, ele acompanha o Palmeiras pela Libertadores na TV e mantêm contato com pessoas do clube, especialmente Fernando Prass.
“A Libertadores passa aqui e consigo ver. Não dá para acompanhar os demais jogos e as vezes ouço no rádio. Voltei a acompanhar bastante em dezembro do ano passado”, finaliza.
Nesta terça-feira será a vez de Bruno ligar a TV para acompanhar o clube do coração que o acompanha há 35 anos e que teve o privilégio de defender por mais de uma década, com a certeza de ter vivido mais momentos bons do que ruins.
No ano passado eu fui para o Brasil com os meninos daqui. Os levei no Allianz Parque para o tour e eles viram a minha foto de campeão. É muito gratificante
Bate-Bola com Bruno:
Você e o Deola foram os responsáveis por substituir o Marcos. Isso pesou muito?
Responsabilidade de substituir o Marcos não é ruim. Isso é a melhor coisa do mundo, porque quem está preparado vai lá e joga. Nada melhor poderia ter acontecido, tanto que fomos campeão logo no primeiro semestre após a saída do Marcos.
Acredita que o jogo contra o Tijuana fez com que o torcedor perdesse a confiança, mesmo que depois você tenha atuado em mais jogos?
Quem está fora não tem como medir essa confiança. Eu tinha 14 e 15 anos do Palmeiras e jogar em time grande não aumenta a pressão, aumenta a responsabilidade. Não acredito que tenha encerrado o ciclo após aquela partida, tanto que iniciei a Série B como titular e depois o Palmeiras renovou meu contrato por mais dois anos. Se tivesse acabado, não teriam renovado.
Foram muitos anos de Palmeiras. Como vê a situação atual do clube?
Passei por tudo o que você pode imaginar. Quando fui no ano passado lá, conheci o CT e está lindo, coisa de primeiro mundo. Até brinquei com o (Carlos) Pracidelli, "imagina o que a gente não iria fazer se tivesse isso". O Palmeiras tinha uma das priores estruturas do país e hoje é uma das melhores, se não for a melhor. Tenho amizade com o (Paulo) Nobre e a passagem dele foi marcante. Merece os parabéns
Como foi a ida para os Estados Unidos?
Vim para jogar no Fort Lauderdale Strikers em 2016 com contrato era de dois anos, mas após o primeiro o time faliu. Até hoje tenho dinheiro para receber dos donos. Tive proposta para voltar ao Brasil, mas minha família se adaptou bem. Eu dei entrada no meu green card para seguir atuando em algum time por aqui, mas demorou para sair e então encerrei a carreira.
O que tem feito atualmente?
Tirei a licença B para trabalhar como preparador de goleiros e estou na Lynn University. Também trabalho no Sunrise Prime FC, time de base feminino e lá estou como diretor e treinador de goleiros.
Pretende seguir estudando para se aperfeiçoar?
A licença de treinador de goleiro e técnico nos Estados Unidos é chancelada pela Fifa. Os cursos do US Soccer são licença B. Quero tirar a A e vou para Escócia fazer a licença da Uefa de goleiro em novembro e dezembro deste ano.
Como tem sido a experiência de comentarista na DAZN?
Nunca pensei em fazer na minha vida, mas que me conhece falava que eu me expressava bem, que era inteligente e poderia pensar em fazer isso um dia. Foi paixão à primeira vista. No início era muito travado, mas com o tempo comecei a me soltar. É bem legal porque já vi o jogo de três ângulos diferente: de trás quando era goleiro, do lado quando estou no banco e agora por cima como comentarista.