Opinião

JG Falcade: 'Um troféu e uma Estrelinha'

(Foto: Reprodução/Instagram)
(Foto: Reprodução/Instagram)

Acredito que um dos piores erros que cometemos é verbalizar no passado a vida de alguém que apenas mudou de plano. A inexistência de vida física não determina o fim, pelo menos pra mim. Canta, torce, compõe, produz, encanta, convence e emociona. Nada no passado, tudo no presente. Eu nunca fui um consumidor empolgado do gênero que Marília assinava, mas eu sei de sua obra e, mais que isso, a sua importância e genialidade. Ninguém intitula uma sonoridade à toa.

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Soube, ainda ontem, que seu coração, tão cheio de amor e dor, é flamenguista. Soube também que já usou uma camisa palmeirense. Descobri, horas depois, que eu gostava muito de uma música cantada pelo vozeirão sútil e rouco, imponente e tocante: ‘Estrelinha’. Letra singela, simples, de rimas padrão e arranjo de cordas, nada suntuoso – ainda bem. Quanto sentimento há nas poucas linhas que completam o hit. Curioso que eu conhecesse justamente esses versos. ‘Olhe aqui pra cima”, diz a canção.

Nos meus melhores dias de torcedor, por dor ou por amor, sempre olhei pra cima. Nem sempre soube a quem direcionava o olhar e a prece, mas sabia que alguém me ouvia. De lá, fazendo o possível pra me ajudar, esse mesmo alguém era um conforto nas horas difíceis. Sagrado ou profano, era importante pra mim. Aliás, é. Sempre será. Veja só que a próxima vez que meu time me fará mirar a oração será quando enfrentar o Flamengo, dono das cores que aceleravam o torcer de Marília.

Vivo de textos, das coisas que sinto e tento verbalizar. Falo pra meia dúzia de amantes de futebol, mas sei que eles entendem o que penso. Ela, fala para milhões, expondo suas vivências, sensibilizando histórias, mostrando vulnerabilidades e mostrando que há solução, mesmo com alguma sofrência. Sempre vi incontáveis semelhanças entre o esporte e a arte, a música e o futebol. Hoje, mais do que nunca. Somos feitos de uma mesma matéria prima, que é amor – ainda que derivado em raiva, êxtase ou fossa. É tudo amor.

Amor esse que vai nos levar ao dia 27, quando imagino que Léo, o pequeno de Marília, um jovem rubro-negro, vai torcer com a mamãe pelo seu time. Quando eu, um tanto mais velho, torcerei pelo meu. No final do dia, vou correr pra esse mesmo teclado e contar minha história, de lágrimas por alegria ou de goles por aborrecimento. É disso que vivemos, ora bolas. Sim, vivemos. Sem passado. As pessoas trocam de plano, como times trocam de lados, mas a imortalidade é a melhor forma de viver.

Nos vemos na final, valendo um troféu, Estrelinha.

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