O inimigo do futebol tem uma característica inevitável: ele é clubista. Daqueles incuráveis, doentes, que passam mal quando alguma coisa não funciona como ele gostaria que fosse. Desses que criam rotas argumentativas das mais tenebrosas para que o time do seu coração sempre seja acariciado, no amor ou na dor. Não importa se ele vai esquecer a coerência ou a honestidade intelectual, o foco é torcer, seja com a caneta, o teclado ou mesmo a televisão em suas mãos. Armas à parte, o inimigo do futebol pensa em ser feliz, que se dane a razão.
De forma alguma essa figura não vai trabalhar com o respeito à história. Se alguém for campeão do mundo, do mundo mesmo, do maior torneio da terra, o que faz países pararem para assistir, o que movimenta bilhões, o que escreve a história, faz heróis e cria inimigos, o que gera idolatria eterna, esse mesmo que entre todos é o número 1. Copa do Mundo, se chama. Se alguém for campeão da Copa, e tiver história no time do inimigo do futebol, ele é Jesus Cristo na Terra, mas se ele for doutra camisa, ele é o câncer do esporte bretão.
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Cancerígeno. Você sabe o que significa isso? Em linhas gerais, me diz um amigo médico, é quando uma substância ou prática causam uma doença, e ela acaba por levar alguém às piores consequências, numa morte lenta e tantas vezes dolorosa. Costumo pensar que o inimigo do futebol tem práticas um pouco cancerígenas ao futebol. Ele parece querer minar o esforço alheio, usar de termos pesados, duros, por um prazer meio diabólico. E esse direcionamento crítico é sempre quando o sujeito atacado venceu ou atrapalhou os planos do time para quem o inimigo do futebol torce, ou apenas gosta, talvez simpatize. Se não é bom pra mim, ele merece a fogueira – diziam na caça às bruxas.
Fundo de Quintal é um dos maiores grupos de pagode do universo, gênios com instrumentos e palavras, sempre doces, às vezes doloridas de amor, mas sempre amáveis. Faz um tempo, eles compuseram uma letra belíssima, da canção ‘A Amizade’. Vocês já ouviram? É tipo assim: “A amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir…”. Poesia em estado puro, e uma lição de vida. O tempo não destrói grandes amizades, não desfaz parcerias, não perde sua essência. Mesmo aos 70, 80, uma relação de amor entre um campeão e o esporte que o consagrou jamais se abala. Ela se fortalece. São bodas de diamante nesse causo tão forte, tão verdadeiro. Imagine ser inimigo do sucesso.
Talvez a gente saiba bem quem é o inimigo do futebol e como funciona sua operação. Sem espelho em casa, ele procura depositar noutro alguém sua própria identidade, seu estilo mal-amado, sua angústia depois de uma noite que acabou sem um grito de gol. Torcer é lindo, distorcer é tão triste que nem cabe nesse textinho. Coisa pequena demais para merecer um argumento. O inimigo do futebol é essencialmente amargo, e me lembra bastante um cavalo. Entre coices e relinchadas, ele vai caminhando pro aí. Sempre com seu antolho, com a visão curtinha e pobre.
O campeão segue sendo… campeão.
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