Giuliano Formoso: ‘Cabeça fria, coração quente – na pele, no futebol e na vida’
Façam suas promessas. O mundo precisa do privilégio de ser pintado em verde e branco mais uma vez
Não há um palmeirense sequer que não tenha viajado aos Emirados Árabes para o Mundial com as promessas e superstições sanadas. Seja a tatuagem antes impensável, a loucura financeira, a privação de hábitos alimentares, ou mesmo a certificação de que a camisa, o boné ou a cueca da sorte estão na bagagem. Ou ainda tudo isso junto e misturado. Cada um que faça a sua parte. De cabeça fria e coração quente, sempre.
No meu caso, sempre gostei de tatuagens, mas relutava em fazer uma pelo medo de agulhas (não tem nada a ver, agora eu sei), ou pelo receio de um eventual arrependimento. Só o Palmeiras mesmo para quebrar esse tabu. A promessa pelo bi da Libertadores foi cumprida prontamente, com mais coração quente do que cabeça fria: o dia 30/01/2021 discretamente na pele. Cortesia de Breno Lopes no minuto 99 quando o John ficou parado. Não me arrependeria de ter isso para sempre em mim nem que fosse no meio da testa. Essa é a verdade.
A final contra o Santos era o então melhor dia da minha vida e estava convencido de que um próximo não viria tão cedo. Pois o futuro tratou de me desmentir em menos de um ano. O 27/11/2021 foi, talvez, a maior partida entre clubes brasileiros em todos os tempos. O Palmeiras venceu o Flamengo, em outro país, na prorrogação, em menor número, conquistando o tri com gol do Deyverson. Essa sequência segue inacreditável depois de meses, mesmo assistindo ao lance pelo menos uma vez por semana até hoje.
E tive o privilégio de estar no Centenario. Foi o sonho dos sonhos se realizando. Com promessas e superstições cumpridas, obviamente. Como disse neste outro texto, escrito no avião retornando ao Brasil após longa jornada solitária, nada seria capaz de se igualar àquele momento. Deyverson recebeu o presente de Andreas e dos ventos, invadiu a área cara a cara e levou uma eternidade, em meio ao silêncio mais absoluto, para chutar todo torto e fazer o gol mais importante da história da humanidade.
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O Palmeiras já me provou errado tantas vezes que, enquanto escrevo este relato novamente no avião, mas desta vez no interminável caminho de ida e muito bem acompanhado, já não me sinto capaz de duvidar de nada. As promessas e superstições estão religiosamente cumpridas mais uma vez: na mala, a camisa verde que esteve presente na final da Copa do Brasil de 2015, em Montevidéu e à distância quando a pandemia nos impediu. Não importa se o corpo ganhou bons quilos a mais e não comporta mais a velha camisa. Tem que ser ela.
Na pele, uma nova e merecida homenagem. Deyverson fez o gol do tri, mas o grande responsável pela maior alegria da minha vida (por enquanto!) não estava dentro das quatro linhas. Abel Ferreira é o maior que vi – no comando do meu time ou em qualquer outra área. Um palmeirense nascido do outro lado do Atlântico. A saudade dele já é pesada antes mesmo do inevitável retorno para sua terra natal. Desfrutemos enquanto é tempo.
Cabeça fria e coração quente, diz Abel sempre que pode. Pois levamos no braço o lema que virou lei no Palmeiras, em forma de desenho como na capa do tão aguardado livro. Cabeça tranquila e calma para raciocinar e tomar a melhor decisão. Coração intenso e forte para sentir as emoções que nos permitem amar. O equilíbrio perfeito no futebol e na vida.
O que vier em Abu Dhabi é lucro. O palmeirense está atravessando o mundo para celebrar seu amor e sua alegria junto com os seus, como não foi possível da última vez. Com clima e preparação bem melhores. Com menos tensão e mais experiência.
Não é a eventual ausência da cereja que estragaria o delicioso bolo que tem sido a vida do palmeirense, mas só nós sabemos como merecemos muito a tal cereja.
Façam suas promessas. O mundo precisa do privilégio de ser pintado em verde e branco mais uma vez.
Todos somos um.
Avanti, Palestra!
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