O Rony me comove em muitos sentidos. É uma história que me serve como exemplo para muito além do esporte. Não somos, nem ele, nem eu, abençoados com grande talento. Não somos privilegiados com alguma capacidade especial, mas ele me mostrou que é possível vencer à base de insistência. Rony passou fome, jogava pra sobreviver e tinha o mundo inteirinho como obstáculo. Eu só tinha problemas com meu vídeo game.
Rony tem poucos anos de Palmeiras, mas já fez e viveu coisas que fazem o período valer por uma vida. Estamos e somos marcados por sua existência, por sua passagem com a camisa do nosso time. Usando a 7, a 11 e a 10, desfazendo a maldição de uma camisa santificada e que era carente de dono há pelo menos uma década. Rony foi piada desde que pisou na Academia de Futebol.
Rony é feio. Rony chuta mal. Rony se veste mal. Ronielson? Que nome é esse? Ele é bagre. Como pode usar a 7 do Dudu? Dar a 10 pra ele é uma ofensa. Não podemos ter um centroavante como Rony. Ele nunca jogou em paz. Nem campeão, nem bicampeão. Nem mesmo sendo o melhor em campo. O caminho pra Rony é sempre mais tortuoso e desafiador. Ele parecia precisar provar sua trajetória a cada vez que pisava em campo. Reafirmando seu valor. Seu custo, seu salário, sua não-venda.
Conheça o canal do Nosso Palestra no Youtube! Clique aqui.
Siga o Nosso Palestra no Twitter e no Instagram / Ouça o NPCast!
Conheça e comente no Fórum do Nosso Palestra
Eu não julgaria Rony se ele tivesse falado verdades quando foi criticado por má-vontade. Mas ele é muito melhor que eu – que já falei sobre sua pouca química com a bola. Rony nunca levantou a voz além das quatro linhas. Nela, é um incansável. Fora, só um trabalhador silencioso. No banco, no time, na ponta, na lateral, de costas, em velocidade, no peixinho ou no gol de bicicleta. Ele seguia seu próprio roteiro.
Nem Al Pacino teria histórias tao gentis pra Rony do que a vida ofereceu. Entre tanta entrega, que eu mesmo penso ser além do humano, além do razoável – ele corre mais do que um ser humano deveria pensar em correr, ele conquistou. Além de títulos, a simpatia da mais desconfiada torcida do mundo. Hoje, o palmeirense torce e comemora a bicicleta de Rony com muito mais amor do que o próprio avanço da equipe. Isso é raríssimo. É poesia e romance.
Rony quebrou a vidraça. Sua entrega está premiada. Ele venceu as piadas, venceu o preço e venceu a própria missão impossível que criou pra si, como um fantasma. Rony se desafiou ao impossível e entregou o resultado na gaveta do Gol Sul na noite em que superou marcas de Pelé e de Zico. Na competição que deu a ele um sobrenome e uma mística absolutamente histórica e eterna.
Rústico não é codinome de super-herói, nem identidade secreta. Até porque, Rony nunca se escondeu. Superou. Deu a cara a tapa mesmo quando a mão do outro lado parecia muito mais forte do que ele parecia aguentar. Não precisou de poção mágica, nem de poderes. Passou por cima com o que tinha de fé. Nem todos que tentaram na mesma jornada conseguiram o mesmo. Mas Rony é o motivo de muitos não pararem de tentar.
Ele teve de andar a pé, descalço, muitos quilômetros antes de peladar. Caiu e se ralou, com bicicletas sem guidão, marcha ou freio. E hoje não há quem consiga pará-lo, nem mesmo o Rei. Então, da próxima vez que ousar desacreditar de Rony, fique tranquilo. Ele jamais o fará. Porque acreditar é o que faz de Rony tão Rony.
LEIA MAIS: