JG Falcade: ‘As horas e a eternidade’

Pelé vive, sem tempo pra acabar

O tempo é o único adversário realmente implacável. Os outros, para ele, foi possível driblar, superar, reverter, enganar, golear e vencer. Ninguém nunca foi capaz de combater suas qualidades na profissão que o escolheu como seu grande executor. Invencível até nas derrotas, que foram pouquíssimas. 

Pecou, o ser humano, errático como qualquer outro, mas foi sublime com as chuteiras pretas sobre a grama. Fez inimigos imortais, já que eles nunca foram bons o suficiente para vencê-lo. Seu mais leal perseguidor tentou até o último suspiro, mas nem uma mãozinha de Deus foi capaz. Entre os outros, Diego foi o maior, mas só entre os outros. 

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Nunca houve competição contra suas pernas esguias e ágeis, nem contra o sorriso fácil que fez questão de surgir para as milhares de máquinas fotográficas que o cercavam em seu milésimo encontro com sua verdadeira casa, a de barbante branco e que lembrava um sútil véu de noiva. Eles foram íntimos, um casal como ninguém seria capaz de ser. 

Não tivesse nascido homem, seria bola, como bem escreveu o Pelé dos textos. Ser o Pelé das coisas é tão sintomático quanto as 1281 vezes que ele fez aquilo que nunca haverá outro ser humano capaz de fazer melhor. Roger foi o Pelé do tênis, como Senna foi o Pelé do automobilismo, Jordan, o do basquete, Bolt, o das pistas ou Phelps, com as piscinas. Os melhores em suas funções, ainda que ser Pelé signifique ser o estado da arte de viver.

Os Pelés da música foram contemporâneos do Rei. Em 1967, Paul, John, Ringo e George tocaram pela primeira vez “All You Need Is Love”. Os primeiros acordes da canção são cornetas que abrem alas para a abertura de um grande espetáculo. Hoje, lá no céu, elas tocam para receber o homem que discursou pro mundo com três palavras mais importantes do que qualquer recital: 

Love, Love, Love.

Quem afinal pode viver sem amor? Nem mesmo ele, que foi imbatível. Já se vão mais de 40 anos desde que a entidade dos gramados não pôde mais ser super-herói, porque o tempo aplacou a força física que nem mesmo a ciência explica, diminuiu o poder do chute que ninguém era capaz de impedir, e foi dando humanidade para Edson, que fez, em vida, Pelé ser imortal. 

O maior esporte da Terra sempre coube nesses pouco mais de 1,73. Ele foi maior que os títulos que venceu, que a Tríplice Coroa que sonhava em ter o menino de Três Corações. Ainda assim, o tempo foi invencível e tomou Edson Arantes para que ele fosse Nascimento em outro plano. Ele vai ver florescer a Lenda ao lado de Diego, de Mané, Capita, Jair e todos aqueles que foram súditos de sua majestade. 

E bater aquela bolinha que prometeu ao hermano, quando Diego se mudou pro céu.

Mas o tempo, tão poderoso, não pode controlar alma e coração – a nossa existência não terrena. Pelé agora é emoção, inspiração, lembrança, carinho, amor, talento e memória. É a vitória encarnada em uma palavra. É o único ser vivo que não precisou de sobrenome. Seu nome é Pelé e ponto final. O maior que já pisou neste mundo e que agora segue noutro. 

Para sempre, no coração de todos nós. 

Pelé vive, sem hora pra acabar.

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