JG Falcade: ‘Como Palmeiras e Santos já não são os mesmos desde aquela final’

O preço que o Santos pagou foi muito maior do que ele poderia merecer pela zoeirinha das danças e da careta

É muito impressionante pensar no que aconteceu desde aquela final. Engana-se você que pensou na decisão da Libertadores 2020. Me refiro à final do Paulistão 2015, cuja taça de vice-campeão foi carregada por Zé Roberto e Vitor Hugo após derrota nos pênaltis, com gol decisivo de Lucas Lima. Naquele momento, o Santos parecia tripudiar sobre o Palmeiras, dolorido e tentando se reerguer depois de tanto sofrimento – sofrendo mais. Seria um calvário eterno de uma gente que já tinha dor demais?

Memórias póstumas de um sonho vivo.

Ao palmeirense, 2015 reservava um verdadeiro roteiro de Al Pacino, com final de Scorsese, tal qual uma taça de mousse de chocolate belga. Depois de uma dor de estômago memorável, é claro. Quem viveu a redenção da Copa do Brasil não tira da cabeça o gol perdido de Nilson, as palavras de Cereto, Neto, Milton Neves, Juca Kfouri, entre muitos outros. E nem a careta de Ricardo Oliveira, que teve da vida a devida retribuição. O 2/12/15 é um dia além da vida. Quem viu, quem sentiu, sabe.

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Ressurgimento de quem nunca morreu.

O Verdão voltou à cena no início daquele mesmo ano porque o Peixe havia sido incapaz de perder para o Vitória. Nós, me somando ao palmeirense que evidentemente sou, sobrevivemos com a ajuda de aparelhos, num meio cá, meio lá, vendo Deus sem querer ver. Não à toa, esse cronista só acordou minutos depois da não-queda, sendo avisado de que havia desmaiado. O rito de passagem de 2014 foi a volta por cima em menos de um minuto. Tudo poderia acabar, mas restartou. E abriu caminho para uma supremacia.

O Maior Campeão do Brasil, de volta ao seu posto.

No meu ano favorito dessa metade de década, o país voltou a ter as cores que meu coração sempre teve, ainda que desbotadas pelos insucessos recentes. À época, com 22 anos, vi e vivi o Palmeiras superar os mesmos 22 anos de tabu para ser dono do Brasil, agora nos pontos corridos. Parecia uma luta inglória contra todos os chefões de Elden Ring, mas acabou numa tarde nublada de novembro, com o estádio cheio de nós, de lágrimas abobalhadas e um sentimento de plenitude que ainda não conhecia. Na Copa, o êxtase do orgulho resgatado. No campeonato, o alívio de ser quem sempre fomos.

E o Santos, vice de novo. Mais uma vez. Again.

Em 2018, o Santos foi o propulsor da glória. Ansioso para tentar vencer o Brasil, foi ao Allianz Parque para tentar parar o time de Felipão, que ditava o ritmo da competição. Vivendo grande fase, poderia impedir o avanço do Verdão e se colocar na briga, devolvendo o golpe de 16. Aquela noite de muita chuva foi redentora. Borja, o horroroso, fez o dele. Edu, que nunca fazia, ídolo do Peixe, também. E Victor Luis, que não se relaciona bem com as redes, bateu uma falta que Vanderlei aceitou. Pela terceira vez, a camisa alvinegra foi o combustível para que a verde fosse condecorada com seu décimo nacional.

Obrigado, Peixe. Mas não por Lucas Lima, ok?

Vou só passar pelo assunto porque foi engraçado tirar do Santos aquele que tanto significava ao torcedor. ‘Nem se vender o Allianz’; ‘Só na outra vida’; ‘Ele jamais jogaria com Prass’. Tal qual Neymar, que se declarou palmeirense (sorrisos), Lucas veio, viu e venceu. Precisou mudar de camisa para conhecer o sabor dos troféus, e tocou em todos. Até NAQUELE, do qual falaremos ainda nessa linha do tempo completamente anacrônica. Ele foi uma passagem bíblica no Palmeiras, afinal, ensinou ao palmeirense que é preciso ter a maior paciência do mundo e saber perdoar.

Poderia ser o grand finale, mas tinha um fatallity logo na esquina.

Vencer a Libertadores sobre o Santos é uma delícia. Mais um tabu de duas décadas, mais uma quebra de paradigma, mais uma noite sem precedentes, de paraíso na Terra, a zombaria eterna, o selo premium de cliente VIP, a carteira assinada como filho da Sociedade Esportiva, o elemento Cuca como bônus. Não poderia ser melhor. Era o último ato de um duelo que tinha Popó pra cá e Whindersson pra lá. Mas faltava uma certa dose de maldade. De crueldade. De cinismo. Como se fosse um careta depois de um gol importante. Ou uma dancinha.

Meninos da Vila? Crias da Academia.

Depois de ser superior em TUDO, o palmeirense tinha a chance de tripudiar sobre aquele que sempre foi o maior tesouro do rival: seus jovens talentos. Eles sempre recorrem à base, que tanto venceu. A nossa, que não tinha Copinha. Pois passou a ter, com 4 a 0, um chocolate nababesco com um finalzinho de amargor para o santista que provou. Nada resta. O preço que o Santos pagou foi muito maior do que ele poderia merecer pela zoeirinha das danças e da careta. Ele pagou com juros, correção, crueldade e penitência.

Era, sim, um calvário. Mas lá pertinho do mar. Canal 2. Urbano Caldeira.

Amanhã tem mais?

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