Luan vai do ataque de ódio da torcida à redenção da glória do tri da América

De vilão a herói, zagueiro dá a volta por cima, supera trauma contra o Flamengo e escreve o nome na história do Verdão

11 de abril de 2021. Luan teve a oportunidade de garantir a glória, encerrar a última série de cobranças de penalidades e dar o título inédito ao Palmeiras na Supercopa do Brasil, disputada no Mané Garrincha, em Brasília. O atleta só precisava marcar, mas pecou na finalização. Por este lance, o ‘culpado’ pela derrota foi identificado pela torcida e deu-se início ao roteiro de ‘vilão’, com um massacre avassalador pela sociedade na qual vivemos. O mundo sobre ele caiu como uma tempestade.

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Assim que errou o pênalti, o zagueiro foi alvo de enxurradas intermináveis nas redes sociais. Os ataques de ódio tomaram conta dos torcedores alviverdes. A fúria foi tão grande que até a família do jogador chegou a sofrer com isso. Imediatamente, o clube buscou proteger a integridade física do ‘beque’ e de seus familiares. Uma das principais torcidas organizadas, a Mancha Alviverde, exigiu a saída do camisa 13 no elenco.

Mesmo contrariando a ‘exigência’ da ‘facção’ alviverde, a diretoria do Verdão e o técnico Abel Ferreira bancaram de vez a permanência do jogador. Tanto o treinador, quanto a cúpula, confiam no potencial dele. O fato irritou a torcida e, até hoje, os torcedores não esquecem o lance desperdiçado. Querido pelos companheiros, o defensor procurou apoio na família e na fé de Deus para driblar as desconfianças e incertezas que vêm das arquibancadas.

Nascido em Vitória-ES, Luan sabe o tamanho do significado do poder da palavra “vitória”. Para o jogador que já conviveu com altos e baixos na carreira, o dia após aquele 11 de abril talvez tenha sido o mais difícil desde que subiu para o profissional do Vasco da Gama, lá em 2012. O zagueiro nunca escondeu seu sentimento de frustração pelo pênalti perdido. Nenhum atleta quer perder um título, ainda mais numa disputa de penalidades. A derrota é sempre um exercício para o amadurecimento.

Luan lida com uma pressão absurda de 16 milhões de palmeirenses nas suas costas e passou a ser considerado o maior vilão na história do clube. O ‘beque’ é praticamente vaiado em quase todos os jogos no Allianz Parque após o governo estadual autorizar a retomada da torcida nos estádios. Por mais que o clima tenha chegado a um nível extremo, o camisa 13 não se abalou, nunca desrespeitou a torcida e o clube, ainda trabalha quieto fazendo o seu melhor, mesmo sabendo do momento que enfrenta com o passado recente.

Mas o futebol sempre proporciona uma reviravolta nos caminhos da vida. Algumas leis seguem intactas no futebol. Como eu sou bem supersticioso, venha comigo quem acredita em acontecimentos impossíveis, milagres e feitos inacreditáveis. E é por isso que o zagueiro palmeirense Luan é o personagem central desse texto. Mesmo com esse acontecimento em 2021, o zagueiro segue firme e titular incontestável no time de Abel. Ele viveu uma onda atrás da outra.

O defensor carrega um peso enorme e uma relação de amor e ódio com a torcida, porém a sua história é de muita luta e superação por tudo o que já conviveu dentro e fora de campo. Sabe aquele ditado popular que diz assim: “Quem bate esquece. Quem apanha, não!” Então, sempre tem o momento certo para calar os críticos e dar a volta por cima.

Sete meses e dezesseis dias depois de errar o pênalti diante da equipe carioca, Luan pôs tudo à prova e encontrou o mesmo adversário que quase decretou a sua saída do Palmeiras. A lei do retorno contra o algoz Flamengo fez valer para o lado alviverde. Já diria o ex-técnico Zagallo, o número 13 é o número da sorte.

Do ataque de ódio sofrido pelos torcedores nas redes sociais à redenção com a glória conquistada pelo Tri da América, Luan procurou trabalhar em silêncio e deu a melhor resposta para todos. EM CAMPO. E amadureceu muito durante todo esse período. Foi o resultado de muita luta e sacrifício que o zagueiro se tornou histórico na tarde do Uruguai. Decisivo e participativo na final, o defensor passa a estar marcado para sempre e agora vai poder respirar aliviado após o trauma que o assombrou. Vale ressaltar que foi o segundo título dele na principal competição Sul-Americana pela camisa alviverde. E no mesmo ano. É muita coincidência!!

Quis o destino que reservasse o dia 27 para Luan reescrever a sua história com o Palmeiras no Estádio Centenário, palco da decisão. O futebol é tão mágico que permite ao jogador que foi humilhado, perseguido e esculachado ser aplaudido de pé pelos próprios torcedores rebeldes que o atacaram covardemente na internet. O ‘espírito de Porco’ esteve presente do lado do defensor e demonstrou com alma e coração como um zagueiro de fibra e raça deve se impor dentro de campo. A nós, palmeirenses, só resta agradecer o feito do zagueiro.

Como diz o lema do comandante Abel Ferreira: “Todos somos um”. Sem exceção. Sem julgamentos. Todos somos Luan. Quem já conviveu com situações semelhantes à do zagueiro sabe a oportunidade certa para virar a página. Somos humanos e é normal errar. Aprendemos com os erros que a vida ensina. Mas sempre tem um final feliz reservado.

Com o título, Luan tem seu nome marcado na glória na história dos 107 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras. O zagueiro entra para o seleto e se junta aos defensores históricos como Luís Pereira, Junqueira, Valdemar Carabina, Bianco Gambini, Clebão e Roque Júnior. Obrigado por tudo, Luan!

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