Opinião: ‘A mística de um estádio comum’

Fui, vi e não venci, mas posso atestar que não é como te contaram a vida toda.

Passei 29 anos ouvindo a evangelho de que La Bombonera era o estádio mais hostil da América. Considerei como verdade, afinal, uma mentira contada milhões de vezes se fortalece como realidade. Quase completando a trigésima primavera, fui agraciado com a chance de viver uma semifinal de Libertadores com o Palmeiras nesse charmoso espaço de concreto.

Concreto que realmente chacoalha, mas nada que uma arquitetura arcaica, fora de moda e longe dos padrões básicos de segurança não explique. Fosse minimamente moderno, o mal feito não teria tanto glamour.

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Torcedores do Boca fazem gestos racistas para a torcida do Palmeiras em La Bombonera

Tal qual em Montevidéu, os efeitos do clima poderiam ser um fator preponderante, mas fazia muito sol em Buenos Aires, seguido por uma linda noite. Ainda assim, senti que ventou em 3/4 da caixinha de doces que é o “místico” estádio. No último quarto dele, uma resistente parcela cantava sem pausa, ainda que repetisse as mesmas falas duzentas e trinta vezes.

A grande verdade é que o Boca Juniors é um grande clube, por sua história, e tem um torcedor bastante apaixonado, como acontece com outros tantos clubes por aí. As pessoas amam muito as cores que vestem, chega a ser tocante, a entrega, o afeto, o orgulho, mas esses fatores não fazem da cancha, como dizem, um espaço tão inegociável assim.

O recebimento, tão característico, é bastante comovente. Fogos, fumaça, sinalizadores, os trejeitos espalhafatosos, mãos para cima, pulos, isso tudo é legal e impressiona, mas acaba quando o juíz inicia a partida. Com bola rolando, que é onde importa, só os mais exaltados membros de La 12 cantam. O resto vive de lampejos, crescem em escanteios ou divididas – e só. Fazem o óbvio.

Fui, vi e não venci, mas posso atestar que não é como te contaram a vida toda. Esse é o maior jogo disponível para o clube jogar, não há mais final em casa, essa é a melhor versão disponível, e não é tão assustador assim. Foi possível conversar durante todo o jogo, sem sustos. Acabei ouvindo em alto e bom tom as vozes dos palmeirenses, que deram um seminário de torcer.

Menos um mito para se acreditar.
Torcida boa veste verde e mora em São Paulo, com todo o respeito.