Opinião

Patrick de Paula e a pária acima de tudo

Mauro Beting desabafa após um comentário preconceituoso de torcedor palmeirense com Patrick de Paula.

Assédio de clubes europeus por Patrick de Paula não preocupa o Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
Assédio de clubes europeus por Patrick de Paula não preocupa o Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Um leitor que eu não conheço (mas que é cada vez mais reconhecível) disse a respeito (respeito?) de Patrick de Paula que “aquele MOLEQUE que até um dia desse morria de fome e cheirava pó na favela, agora fez dois ou três bons jogos, tá num salto alto do caralho, empresta pra Série C, pra viajar mil km de ônibus pra jogar que ele aprende”.

O tipo que escreveu esse comentário acima na postagem do NOSSO PALESTRA é cada vez mais reconhecido ( E TEVE 32 CURTIDAS…). Ele deixa a impressão digital de suas patas, como pessoa do bem e de bens, um ser que ama a sua pária. (Não está faltando letra alguma na palavra anterior).

O comentário que ele fez a respeito de Patrick de Paula (que de uma comunidade no Rio veio para São Paulo para bater no ângulo o pênalti decisivo do Paulistão contra o maior rival, dando aos 20 anos um título que o Palmeiras não ganhava desde 2008, quando ele tinha 8 anos), surpreende zero (como o comentarista) nestes dias de polarizações. E de livre “pensamento” (SIC) de quem banaliza e bundaliza a opinião.

O indigitado que comentou é dessa pretensa “maioria silenciosa” pretensiosa que está zurrando seus coliformes mentais. Aposto que se ele tivesse uma parente estuprada, provável que ele diria algo do tipo: ” se a minha filha chegar em casa e disser: ‘Fui estuprada’. Eu vou pedir para ela me dar as circunstâncias. Se ela disser que foi numa festinha que tinha 18 homens, ela bebeu muito, ficou com dois caras, e acabou abusada, ela vai ficar de castigo feio e eu não vou denunciar um cara desses pra polícia, eu vou dar esporro na minha filha. E que nenhuma feminista venha me encher o saco. Porque feminista é tudo recalcada, ressentida e, normalmente, mocreia, vadia, odeia homem, odeia união estável, casamento”.

O “palmeirense” que escreveu o que falou de Patrick é o tipo de cara que falaria isso. Mas é claro que é apenas uma suposição leviana. Já que isso a gente não fala nem pro travesseiro. Imagine! Se ele fala uma barbárie dessa, não precisa nem hiena e nem chacal para perseguir uma desumanidade dessa.