Opinião

Uma temporada foda pra caralho

Uma opinião sincera sobre uma realidade quase mágica

Em busca do bi-campeonato continental, Verdão encara o River Plate por uma vaga na final
Em busca do bi-campeonato continental, Verdão encara o River Plate por uma vaga na final

Talvez a hipérbole seja incrivelmente necessária em tempos dedicados a esconder méritos. Então, sejamos grosseiros nas constatações. A primeira delas: é uma temporada foda pra caralho. Começou no ano passado, com um técnico do passado e um elenco que nunca passou tanta confiança. Reforços? Quase nenhum. Olhar pros meninos e fé. Foi assim que a jornada começou.

Algumas semanas mais tarde, Rony e Viña, conquistas pontuais de reforços disputados, ainda que não fosse unânimes. O primeiro teve o começo mais terrível possível. Virou piada sem ter balançado a rede. O segundo cavou rapidamente sua vaga e foi cultivando o carinho do palmeirense, que, àquele ponto, celebrava seus meninos em campo e se animava com o lateral novo. E só.

Como se não fosse o suficiente, acabava a era Dudu. O que sobraria do Palmeiras sem seu maior pilar? Faltava dinheiro, faltavam ídolos, faltava quase tudo. Tinha a esperança, verde como o Palmeiras.

Baseado em seu bem maior, que é sua história, o Palmeiras exorcizou fantasmas, espancou a má sorte, desbancou o retrospecto recente e despachou o arquirrival na final do estadual. Em casa. Doze anos depois. Contra quem mais odeia as cores. Era um cenário glorioso. Era como colocar ordem no mundo. E era só o começo.

Mas não achávamos que aquilo tudo era ‘só’. Era muito. Dissemos até que o ano estava ganho. Meninos alçados ao céu, treinador na glória. Quem poderia imaginar que a eterna estava reservada para este time, mas que para tal seria preciso conviver num calvário. Perseverou, o palmeirense. A coisa degringolou rápido, o time perdeu pontos e perdeu seu comandante. Era um nau à deriva.

E não é hiperbólico, desta vez.

Miguel Angel Ramirez, com seu cavalo branco alado, era a salvação. Vinha da Espanha o Rubens Minelli da nova geração. Não veio. Incompetência dessa diretoria amadora, que vai destruir o Palmeiras, que vai falir nosso time, que vai.. Que vai trazer o Heinze! Esse sim tem o sangue verde, é o Felipão com 30 anos a menos e falando espanhol. Gênio. Diretoria foi bem. Não vem mais? Eu já sabia, Palmeiras nunca mais terá um técnico.

Eu, o autor da crônica.

– Abel? Só pode ser palhaçada. Ele e esse Ferreira aí, pelo amor de Deus, o Palmeiras está de brincadeira – eles dissemos.

– Abel Ferreira? Não é o Guto? Nem o Braga? Ah, ele veio do Braga? Mas não é aquele antigo, né? 40 anos? Ele não dura um dia por aqui? O Felipe Melo não vai obedecer esse rapaz, não tem a menor condição. Contratou porque é português, tá achando que vai ganhar tudo igual ao Jesus – eles dissemos.

O Palmeiras tinha treinador. Bonito. Fala bem. Estudioso. Bonito. Primeira coletiva e encantamento pleno de torcedores pela sopa de letrinhas do Portuga(to).

Ele e Andrey Cebola tocavam uma retomada importante. Com o auxiliar, que é titular no coração do palmeirense, vitória, classificação, baile no Sampaoli. O clima já era diferente. Abel faz seu primeiro treino, chama todos os membros do clube e emociona a parte verde do mundo. Começava ali uma jornada foda pra caralho.

Ele não tinha tempo pra treinar. Segue sem ter. Teve o poder da palavra. De colocar ordem por meio da oratória, do conhecimento e do convencimento. Perdeu todo seu elenco pro vírus mais letal do mundo. Treinou de casa, pelas telas. Perdeu nomes pro DM. Perdeu apoio da mídia (ou nunca teve?), mas jamais se perdeu.

Não perdeu um clássico que fosse. Esse jogo cuja mais vitória é a moral. A dele e de seus torcedores está ilibada. Linda e bela. Seu primeiro título como treinador foi o maior sonho do palmeirense. Vencer a América. Sabe sobre quem? O maior rival da década. Sabe com quem? Com o Rony, o escanteado. Com os meninos, os predestinados. Com aquele elenco que foi desacreditado.

Nesse meio de caminho, o dementador de verde e branco havia feito quizomba no estádio de Itaquera. Roteiro padrão com murro na porta, batuque e rojão.

E o Peixe, o simpático clube que conquistou, em 2020, o troféu ‘Apoio no Neymar’. Merecia mais, Cuca fez um belo trabalho, montou um ótimo time, mas criou todo um contexto de cinema para que o palmeirense vivesse uma noite memorável, hollywoodiana, Shakespeareana, Abelizada. Breno Lopesada. Tão Verde que a esperança desconfia. Ainda parece sonho e que discordar, mentiu.

Vice de novo.

Riu em 2015? Tal qual nos anos seguintes. Quando o Palmeiras venceu estado, o país, a copa e a América. Mesmo apequenado. Pelo menos dizia-se isso na alta cúpula daquele que passou assistindo a década passar. Talvez a gargalhada passe em 2021, né, São Paulo? Ficam os votos de quem viveu uma, não sei se foi dito aqui, uma temporada foda pra caralho.

Vai uma banana aí?

Sabe o que é pior? Foram revelados uns 8456 grandes talentos. Danilo, Patrick, Menino, Wesley, Gabriel, Renan. Só pra ser mais sucinto nesta bíblia que chamo de texto. Todos eles fazendo uma puta temporada e conquistando taça e valor de mercado. Os renegados fazendo história, taça e glória. O errado dando certo. Os rivais passando.. raiva. Como criticar esse ano?

Sabe o que é AINDA pior? Pode pintar mais uma Copa do Brasil aí. Preparam os hospitais e os botões de mute. Vem muita inveja e infarto por aí. Não disse de quem. Nem disse como.

Só sei de uma coisa: que temporada foda pra caralho!