Amarcord: Palmeiras 1 x 0 Novorizontino, SP-90

Eu não tinha dois meses como colunista esportivo da FOLHA DA TARDE. Ainda era repórter de política do jornal, produzia um programa de entrevistas políticas e econômicas na Band, e fazia um programa de rock com o Kid Vinil na Brasil 2000 FM. Não sabia sabendo se seguiria no jornalismo esportivo. Não tinha nem credencial de imprensa. Nem conseguia ajustar direito a escala como repórter de política com a de colunista de esporte.

Por isso não consegui chegar a tempo ao Palestra em 8 de agosto de 1990 para ver o jogo complicado contra o bom Novorizontino do promissor treinador Nelsinho Batista. Na zaga deles o ótimo e jovem Márcio Santos (titular quatro anos depois do Brasil tetra nos EUA). Paulo Sérgio voltaria depois ao Corinthians e foi outro tetra em 1994. Goiano ganhou Libertadores e Mundial de Clubes. O lateral Odair logo depois viria ao Palmeiras e serviria a Seleção que Falcão estava assumindo naquele agosto de 1990.

Eu cheguei com a bola rolando no segundo tempo. Só para esperar os portões abrirem e assistir aos últimos minutos. Nem isso deu. Estava cheio o Palestra. Mais de 25 mil pagantes. Portões não abriram. E, se foram abertos, não vi. Já estava grudado na grade da Turiaçu. Naquele espaço que era possível ver parte do lado do campo próximo ao então gol das piscinas. O atual Gol Sul.

O Palmeiras estava sem perder em casa desde 1986. Eram 65 jogos. Valia a liderança do grupo da fase semifinal do SP-90. Se vencesse, seguiríamos na ponta, com o Novorizontino na cola. O time que mesmo perdendo aquele jogo, iria se classificar para a decisão que perderia para o Bragantino de Luxemburgo, no final daquele agosto aziago.

Esse jogo eu vi a partir dos 15 da segunda etapa. Vi menos da metade da partida. Talvez um terço do campo. Nem isso. Mas não o “primeiro terço” ou o “último” da desnecessária nomenclatura moderna. Mas era o que dava para ver. E onde não deu para ver o gol de Careca Bianchezi, aos 18. Em belo lance de Edson Abobrão que ele definiu em tiro indefensável para o bom goleiro Maurício. O mesmo que, 9 anos depois, estaria na meta corintiana no processo de beatificação de São Marcos, na Libertadores.

O Palmeiras, pelo que ouvia na Jovem Pan a caminho do Palestra saindo do jornal, era só ataque desde o começo. O time de Telê estava sendo, de fato, o do ponta-direita da base. Serginho. Baixinho e driblador, foi o destaque do jogo. Mas tão franzino era que parecia sub-15. Por isso ganhou o apelido do meu chefe, editor de esportes da FOLHA DA TARDE. O grande José Roberto Malia que, em mais uma de suas sacadas, criou o apelido que pegou. Como Paulinho McLaren. Como Serginho que virou Serginho Fraldinha. Ponta que acabou não virando e já em junho de 1991 foi parar no Santos, com Ranielli, trocado por César Sampaio e mais 350 mil dólares pagos pelo Palmeiras.

Mas isso era futuro. Aquele presente jamais esqueci. Ainda me ajeitava pendurado na grade quando NÃO vi o gol de Careca, que só veria mais tarde na Gazeta, com a narração do meu futuro colega Fernando Solera.

Eu celebrei o gol com a comemoração da torcida. Não tinha radinho de pilha. Ninguém ali na grade tinha. A gente não viu o gol. Não vimos nem a jogada que acabou em gol na antiga meta do placar, hoje o Gol Norte. Nós só vimos a celebração da nossa torcida. Comemoramos o gol da vitória por causa da comemoração da torcida. Nem o banco de reservas do Palmeiras nós conseguíamos ver.

Esse é o Palmeiras x Novorizontino que não esqueço. O que só vi a nossa torcida celebrando. O que comemorei só de ver a nossa gente celebrando.

No fundo, muitas vezes, o que nós fazemos mesmo nos desentendendo. Nós nós celebramos. Simples assim.