Anunciação palmeirense em Assunção

Gustavo Roquini foi campeão pela primeira vez em 2008. Paulista. Tinha 10 anos. Aos 20, foi até a Bombonera ver o Palmeiras de Keno e Lucas Lima ganhar por 2 a 0. Animado pelo pai que o fez verde: “Ninguém vai tirar de você seu estudo e suas viagens. Vai lá!”

Gustavo foi. Voltou com a vitória. E com as fotos com o elenco no aeroporto de Ezeiza como se fosse da delegação. E eram todos mesmos delegados do Palmeiras, atletas e torcedores. Ele que dormiu na fila no Allianz Parque pra comprar os ingressos pra Argentina.

Ele ligou chorando pro pai para dizer a emoção que foi a vitória e o encontro com os atletas. Prometeu fazer o mesmo em outros jogos da Libertadores-18 como o pai o incentivara a viajar e estudar Jornalismo.

“Meu pai falou pra todo mundo que ‘meu filho foi pra Bombonera’. Ele era muito orgulhoso dele e do meu irmão palmeirense como o pai”.

Um mês depois dos 2 a 0 alviverdes na Bombonera, seu Augusto partiu. Gustavo perdeu o pai e o chão. Mas não a esperança. Muito menos o Palmeiras do Augusto:

“Oitavas da Liberta. Estava de férias. Minha família me apoiou como fazia meu pai. Passei a madrugada na fila pra comprar ingresso de madrugada. Dez vezes no cartão para ir para Assunção. Consegui e fui sozinho. Aquela tensão, na cara e na coragem. Minha única felicidade é a família e o Palmeiras que me dá força e me ajuda demais para não ter tanta saudade do meu pai”.

No Paraguai, bola rola no primeiro tempo horrível.

No segundo tempo, duas chances, dois gols do Borja.

“Não tem como explicar o que aconteceu. Dois lances e dois gols. Eu só pensava no meu pai. No segundo só vinha meu pai. Nessa hora, foi coisa de Deus. Não tem como explicar”.

Saiu o segundo gol, a torcida do Cerro Porteño chamada La Plaza y Comando começa uma versão de um clássico da MPB dos anos 80, que ela adaptou em 2017: “Ciclon, ciclon, ponga mas huevos y corazón”. Livremente: Cerro, jogue com mais raça.

Do lado verde da força-tarefa no Paraguai, Gustavo não segura a emoção. A canção parodiada é ANUNCIAÇÃO, de Alceu Valença, composta em 1983. A que Augusto cantava desde 1998 para o seu filho Gustavo:

“Na bruma leve das paixões
Que vêm de dentro
Tu vens chegando
Prá brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal…(2x)
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais…
A voz do anjo
Sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das catedrais…
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais…
Ah! ah! ah! ah! ah! ah!
Ah! ah! ah! ah! ah! ah!…
Na bruma leve das paixões
Que vem de dentro
Tu vens chegando
Prá brincar no meu quintal
No teu cavalo
Peito nu, cabelo ao vento
E o sol quarando
Nossas roupas no varal…
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais…
A voz do anjo
Sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das catedrais…
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais…”

Gustavo, na arquibancada de Assunção: “Eu tinha certeza que ali meu pai estava do meu lado. Foi um recado. ‘Eu estou com você’.
Foi um milagre aquela vitória. Foi coisa do meu pai assim que chegou lá em cima. O Palmeiras arrumou um jeito de eu meu comunicar com meu pai”