Bom descanso, tia

Por Thiago Rocha

Vila Guilherme ou Carandiru, não importa, era na Rua Marcelo de Menezes. Almoço de domingo. Chama toda a família, combina horário, ou chega sem avisar. Quintal grande para a garotada correr e brincar. Na cozinha tem duas tias que discutem quem deixou o arroz queimar. Os homens conversam, enchem seus copos de cerveja, contam umas e outras e ficam medindo o batente da porta pra ver se dá para aumentar.


O vizinho conhece todos que ali estão, sempre lembra com gestos indicando que as crianças já não são tão pequenas como antes.

Comida na mesa, primeiros os primos a sentar. A pergunta que não cala: quando é que o Palmeiras vai jogar? Todas as ultimas vezes que falei com minha tia, uma coisa não faltava: e o teu Palmeiras, hein? Não melhora? Só faz a gente sofrer.


Refrigerantes pela mesa, molecada quer terminar logo a refeição para voltar a algazarra. Deixaram massinha de modelar pelo chão da sala. Agora, as pessoas mais velhas, tios e tias, país e mães, as vezes a avó, vão todos almoçar e ao mesmo tempo conversar querendo saber notícias de gente que eu nem sei quem é.


Lembranças que ficam. Permanecem inertes na memória, gravadas no tempo. Esse tempo que nos leva para outra dimensão, guarda agora mais uma vida de dedicação à família, exemplo de mulher que eu nunca vi reclamar das coisas que acontecem ao redor. Talvez chorasse por dentro, para ninguém notar. Afinal, em almoço de família, não existe coisa ruim para contar. Tenha um bom descanso, tia.