EXCLUSIVO: Esposa relembra paixão de Gustavo Magliocca pelo Palmeiras: ‘Era seu lugar no mundo’

Coordenador médico do Verdão faleceu em maio de 2023 aos 42 anos; Juliane Magliocca falou com exclusividade ao NOSSO PALESTRA

Ela ficou muitos meses sem falar, mesmo comunicando com perfeição cada uma de suas emoções ao longo desse tempo. Os olhos marejados e o sorriso suave, num misto de gratidão e tristeza, ficaram na memória de cada palmeirense que conheceu ela e sua família no dia que o Palmeiras celebrou a vida de Gustavo, seu marido e amigo. Juliane carrega consigo a história de uma família que dedicou tudo à missão de salvar vidas.

Sustentando o legado imensurável de amor e de cura do marido, ela agora cuida de dois pequenos palmeirenses que moram em sua casa e que sentem falta do pai – com orgulho de saberem que ele foi um super-herói que protegia os outros. Forte, resistente, com o amor estampado no rosto e nas palavras, ela agora abre suas lembranças para compartilhar com sua nova família, a Palmeiras, mais daquele que é um querido médico, amigo e torcedor.

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Gustavo Magliocca chegou ao Palmeiras em 2013 para as categorias de base do clube. Em 2015, foi transferido para os profissionais, onde permaneceu por quase oito anos. Vítima de um câncer no cérebro, o ex-coordenador médico do Verdão faleceu no dia 3 de maio de 2023. Em entrevista exclusiva ao NOSSO PALESTRA, sua esposa, Juliane Magliocca, afirmou que o marido era palmeirense de coração e sempre sonhou em trabalhar no clube.

O Palmeiras sempre foi um sonho antigo. Sempre Palmeirense e amante do futebol, se imaginava um dia lá. Chegou devagar e com seu jeitinho foi conquistando a todos. Quando o Alexandre Mattos ligou o convidando para subir ao profissional, foi uma alegria imensa. Ele era incansável neste trabalho e vi essa metodologia se formar ainda quando ele foi convidado a coordenar o Núcleo Médico do Botafogo.

Ele ja tinha uma visão muito clara do que acreditava ser este diferencial no futebol e foi até o fim com esta ideia. Nunca poupou esforços e tempo. Mais do que trabalho, ele considerava o Palmeiras realmente uma família. Lá era o seu lugar no mundo. Eu sempre tive muito orgulho dele e sempre o apoiei neste sonho, mesmo tendo que ficar longe em alguns momentos.

VEJA NO NOSSO PALESTRA
Palmeiras homenageia o Dr. Gustavo Magliocca

Formado na Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Magliocca foi, também, entre anos de 2008 e 2016, diretor médico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Apaixonado pelos filhos – Paolla e Lucca – ele, segundo sua esposa, era muito cuidadoso com todos ao seu redor.

Gustavo era a pessoa mais responsável, proativa, trabalhadora que eu conheci. E olha que na minha família tenho exemplos grandes de trabalho e dedicação. Ele era incapaz de ficar sem responder alguém. Era cuidadoso com todos ao seu redor, e tratava todos com muito respeito, independente de quem. Amava demais seu trabalho, treinar, assistir um filme, sair pra jantar com amigos e apenas nós dois (tínhamos um dia de semana pra nós dois, que eu amava). Era maluco pelos nossos filhos, umas das poucas coisas que o faziam chorar. Era lindo de ver e viver. – revelou

Foto: Arquivo pessoal

Diagnosticado com um tumor no cérebro no início de 2020, Dr. Magliocca passou por uma cirurgia e posteriormente realizou tratamentos de radioterapia e quimioterapia. Juliane afirma que Gustavo não deixou de ir ao trabalho um dia sequer. Além disso, agradece aos jogadores e à comissão técnica do Palmeiras que, durante todo o processo, realizaram visitas.

Foto: Arquivo pessoal

Descobrimos tudo em março de 2020, bem no começo da pandemia. Foi um soco no estômago, mas nunca vou esquecer do que ele me disse no dia que descobrimos: “Ju, eu não sei se vou viver um mês, um ano, dez anos, mas eu te prometo que vou lutar muito”. Eu também prometi que cuidaria dele com todo meu amor e ele respondeu que não tinha dúvidas disso. Na noite anterior à cirurgia, dormimos os dois naquela cama de hospital, abraçados, com muito medo, mas esperançosos. Ele fez todo o ciclo de radioterapia e quimioterapia e ficou muito bem. Nunca reclamou de nada. Sempre foi em frente e com muita vontade de vencer. Ele era um cara muito incrível. Sempre de cabeça erguida e subindo um degrau por vez.

Luta pra viver

Ele ficou bem por dois anos, nunca parou de trabalhar, apenas no período da radioterapia. Mesmo durante a quimioterapia, jamais deixou de ir um dia sequer. Ele trabalhou até a semana quando foi internado. Já estava bem fraco e com dificuldade. Depois daquela internação, ele já foi piorando drasticamente. Durante todo o processo, jamais deixou de assistir aos jogos, vibrar muito e ser cuidadoso com todos. A comissão do Palmeiras veio aqui algumas vezes, inclusive. Alguns jogadores vieram, também. Confesso que minha paixão pelo Palmeiras aumentou exponencialmente. Que família abençoada.

Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo estando muito debilitado, Gustavo foi até o Allianz Parque, juntamente com a esposa, filhos e os pais, Joécia e Gilberto Magliocca, ver – e principalmente sentir – o Palmeiras vencer o Água Santa por 4 a 0 e se sagrar Campeão Paulista de 2023. Juliane afirma que a ideia era permanecer apenas no primeiro tempo, porém tudo mudou com o clima do estádio e, apesar das dificuldades, não se arrepende de nada.

Esse dia foi demais. Nos programamos para aquele dia durante toda a semana. Fisioterapeuta, oxigênio, táxi especial, tudo controlado para que desse o mais certo possível e não me arrependo de nada. A ideia era ficar apenas o primeiro tempo, mas vendo ele lá, tão feliz e vibrando naquele lugar, resolvemos ficar até o fim. Para as crianças, tenho certeza que foi inesquecível também. Tenho certeza de que ele sentiu todo o amor e felicidade em estar lá. Foi demais.

Juliane Magliocca e sua filha, Paolla, na homenagem ao Dr. Gustavo Magliocca (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Dias após o título paulista, a família do ex-coordenador médico do Verdão foi convidada à Academia de Futebol do Palmeiras para uma homenagem. O médico que acompanhava Gustavo não liberou a ida dele ao CT. Juliane revelou que não sabia que, naquele dia, o Núcleo de Saúde e Performance ganharia o nome de seu marido.

O Pedro (médico do Palmeiras) me ligou dizendo que iam fazem uma homenagem pra ele. Quando me ligou pra falar o dia, o médico acabou não o liberando pra ir. Ficamos bem chateados com isso, mas foi logo depois da final que havíamos levado ele, e realmente seria muito pra ele. Até cheguei a perguntar se não daria pra fazer na minha casa pra ele poder participar, mas então falaram que a Leila também estaria e que, por isso, não daria. Então fomos apenas a família, mas jamais imaginaríamos que seria naquela proporção. Já fiquei emocionada só de chegar lá, mas conforme foi acontecendo e a ficha foi caindo, foi uma das maiores emoções da minha vida.

Um misto de sentimentos de tristeza, amor e orgulho. Tudo junto e misturado. Mas levar nossos filhos naquele momento foi realmente maravilhoso porque sempre foi uma questão muito grande para mim de como mostraria o tamanho do pai deles pra eles. Acho que ali, naquele dia, eles puderem sentir, pelo menos um pouco, a grandeza desse papai tão especial.

A SE Palmeiras e sua presidente Leila Pereira batizam o Núcleo de Saúde e Performance com o nome do Dr. Gustavo Magliocca, na Academia de Futebol. (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Especial, querido e fora da curva. Esses são apenas alguns adjetivos que Juliane, que conheceu Gustavo quando tinha 17 anos, caracteriza o marido. Apesar de sua morte, o Dr. Magliocca jamais será esquecido por quem viveu e conviveu ao seu lado, seja pessoalmente ou profissionalmente.

É isso que ficará marcado para sempre na minha vida, o seu legado. Ninguém jamais vai tirar isso dele, da gente e dos nossos filhos. Eu já sabia o quanto ele era especial, mas não tinha a real proporção disso tudo. É realmente muito emocionante. Quanta gente veio me contar histórias de como ele mudou a vida das pessoas.

De como o olho dele iluminava ao falar da família dele. Do quanto ele era querido e uma pessoa fora da curva. Do quanto ele fez a diferença na vida das pessoas. Só sei que ele fez muita diferença na minha vida desde que tenho 17 anos. Uma vida inteira aprendendo e vivendo ao lado dele. Isso jamais morrerá. Isso ficará marcado em meu coração para sempre. E tenho certeza de que em cada um que fez parte da vida dele, também. É isso que importa. É duro, sinto falta dele todos os dias, mas sinto muito orgulho da pessoa que ele era e que tive o prazer de dividir a vida. – finalizou

Foto: Arquivo Pessoal

Ao NP, os pais de Gustavo, Gilberto e Joécia Magliocca, e a irmã, Renata Magliocca, relembraram os momentos que o médico vivenciou ao lado da avó Gilda e a paixão pelo Palmeiras, que carregou desde a infância.

O Palmeiras, jogos de domingo sempre estiveram na nossa infância e no nosso desenvolvimento. Era no almoço da vovó Gilda e depois ir pro campo. Quando meu pai não poderia levar o Gustavo para o jogo ele ficava muito mal. Quantas vezes eu e minha mãe levamos ele só para o Gustavo ter um domingo feliz. Gustavo feliz era o Gustavo no campo. Quando minha mãe levava a gente, íamos embora 15 minutos antes para evitar confusão na saída e o Gustavo ficava muito bravo. Quantas vezes o Gustavo faltou na aula segunda-feira porque estava com dor de barriga porque o Palmeiras tinha perdido. Era visceral, era do corpo dele – contou Renata.

A nossa Vó Gilda falava que ele era o neto preferido dela. Então acho que parte dessa paixão e identificação com Palmeiras vem do legado que a gente recebeu da Vó Gilda e ele quis passar pra frente. Mas não só fazendo com que seus filhos torçam para o Palmeiras, como ele realmente fez uma transformação no Palmeiras. Ele levava isso como uma grande família, isso é muito bonito. Essa história vem lá do berço. Gustavo realmente nasceu com a camiseta do Palmeiras. Ele tinha muita vontade de continuar esse legado que a gente recebeu dessa vó. Essa avó faleceu em 2011 e não viu a entrada dele no Palmeiras, mas eu tenho certeza que eles estão lá juntos assistindo aos jogos e torcendo juntos pelo Palmeiras e pela família palmeirense – completou

Foto: Arquivo pessoal

Palmeirenses assim como Gustavo, os pais do ex-coordenador médico do Verdão recordaram a infância e o sonho do filho de deixar um legado. Para eles, as homenagens realizadas, ainda em vida, deram “uma autorização” para ele partir, mesmo no auge da carreira.

Sentimos que todo esse movimento do Palmeiras que aconteceu, trouxe uma completude desse legado. A gente como família percebia que ele, desde criança, era diferenciado, acima de média, fora da curva. Quando o Palmeiras e a torcida viu nele o que a gente via, deu muita força pra gente. É como se realmente a existência dele, por mais curta que foi, mas é que tivesse valido a pena. A gente não tem dúvida que a vida do Gustavo valeu a pena – afirmaram

Quando ele adoeceu e começou a receber homenagens em vida foi muito bonito e forte. Acho que deu uma autorização para ele partir, estava muito difícil no final. Quando você percebe que construiu um legado, você consegue entender que a vida valeu a pena, que você fez o melhor que pôde. Somos muito gratos de termos visto o movimento que o Palmeiras fez. Isso trouxe uma concretude desse legado. Ele morreu no auge da carreira dele, no auge da contribuição dele no esporte e isso vale muito. Queremos agradecer! Porque isso nos deu muita força, isso nos deu certeza da história dele – finalizaram

O NOSSO PALESTRA, em nome de toda sua equipe, agradece à família por celebrarem conosco a memória e o legado de Gustavo, que mudou a vida de tanta gente e o futuro do clube que une todos nós. Pessoas especiais que vão viver para sempre no coração de cada um que pertence à essa Famiglia, que agora tem, também, o sobrenome Magliocca.