Luís Pereira chora ao relembrar duelos com Pelé: ‘Jogador de outro mundo’

Em entrevista exclusiva ao NOSSO PALESTRA, ídolo do Palmeiras comentou passagem pelo clube, injustiça com Ademir na Seleção e Copa de 1974

Ao longo das décadas de 60 e 70, o Palmeiras viveu a época das Academias, vencendo seis Brasileiros e cinco paulistas. Nestes anos, contou com jogadores que entraram para a história do Palmeiras, como é o caso de Luís Pereira, zagueiro multicampeão pelo clube que concedeu entrevista ao NOSSO PALESTRA na última terça-feira (10).

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Inicialmente, o ex-jogador foi questionado sobre o significado do Verdão em sua vida. Luís passou, no total, 12 temporadas pelo clube, conquistando títulos estaduais, nacionais e internacionais. O ídolo palestrino foi categórico: ‘O Palmeiras significa tudo’.

– O Palmeiras representa tudo. Me deu a tranquilidade de demonstrar o meu trabalho e, depois, a minha vinda para a Espanha foi pelo Palmeiras. Pelos troféus Carranza que ganhamos, pelos espetáculos que demos na Espanha. Sempre vinculado ao Palmeiras. Tive a sorte de vir para cá, eu e Leivinha. E depois de alguns anos me trazerem aqui para fazer um trabalho de base. Isso é muito bom, aqui dão um valor maior (aos ex-jogadores) que no Brasil. Vim para cá, já estou há 21 anos aqui e fazendo meu trabalho. Acompanhando a base do Atlético de Madrid como a segunda equipe, juvenil. Vejo a segunda divisão, vejo praticamente a equipe profissional, que tem grandes jogadores e tem grandes brasileiros.

Além disso, Luís Pereira relembrou os duelos diante de Pelé. Como uma homenagem ao amigo, que faleceu no fim de 2022 em decorrência de um câncer, o ex-atleta se emocionou e exaltou a figura do Rei.

– Antes de tudo, muita tristeza porque Edson Arantes do Nascimento foi uma pessoa que nos deu um conhecimento muito grande, uma pessoa que representou muito bem o Brasil. Uma das pessoas que mais representou, um jogador que conseguiu parar uma guerra na África, que foi jogar num país onde distribuíram cartazes dizendo que era feriado porque queriam ver o Pelé. Uma pessoa dessa sempre vai ficar na lembrança. É um ídolo, mas acho que o trabalho que ele fez perante a nós vai ser sempre agradecido. Roberto Dinamite também tive uma pequena passagem com ele no Rio de Janeiro, jogou no Vasco e eu no Flamengo. Era um jogador maravilhoso, risonho, alegre. Era triste, porque são pessoas que marcaram, que se destacaram, que deixaram uma marca, um vídeo para que nós possamos ver quando estamos com saudade. Desde Garrincha, que tive o prazer de ir na despedida no Maracanã. São coisas que sempre vão ficar marcadas. É triste a gente ficar lembrando a todo momento. É a vida, vamos seguindo, rezando para que lá em cima eles possam ter a tranquilidade. É triste, a gente se emociona. Ainda ontem estive no consulado brasileiro para escrever uma lembrança para o Pelé que vão entregar ao Edinho. A gente não sabe o que dizer. A gente deve dizer: “Obrigado, Pelé, por tudo o que você fez por nós”.

– Era impossível (parar o Pelé). Eu tive a felicidade no ano de 66, no São Bento de Sorocaba, jogar contra o Pelé. Meu primeiro jogo como profissional foi Santos e São Bento de Sorocaba na Vila. Para a gente foi bonito. Eu via o Pelé na minha frente. Fechava os olhos, quando abria, ele estava fazendo gol. Ele foi uma pessoa difícil de ser marcada, apesar do Santos ter uma equipe forte. Era praticamente uma Seleção. E nós estávamos ali jogando. Claro que nós tínhamos uma equipe que era forte, fomos campeões paulistas, brasileiros. Era difícil para eles ganharem de nós. Pelé era de outro mundo. Como pessoa, que era humilde. Um dia, na despedida do Ademir da Guia, a gente estava conversando com o Pelé para ver se ele poderia jogar, mas foi uma pessoa que deu força para nós, arrumou patrocínio. Para mim, independentemente de tudo, era uma pessoa que ajudava todo mundo.

Luís Pereira jogou no Palmeiras entre 1968-1975 e 1981-1984. O ex-atleta conquistou o Paulistão em duas oportunidades (1972 e 1974) e do Brasileirão três vezes (1969, 1972 e 1973).

Confira o bate-papo completo no canal do NOSSO PALESTRA:

Outros tópicos da entrevista de Luís Pereira:

Campeonato Paulista de 1974

– 74 foi um ano em que jogamos um Campeonato Paulista e jogamos contra o Corinthians em um Morumbi completo. Nessa época, a equipe do Palmeiras era superior à do Corinthians. Nós tínhamos uma equipe de respeito. É difícil, se você tem uma equipe que está indo certinho, trabalhando bem, o treinador preparava psicologicamente, você vê a partida que jogamos contra o Corinthians. O treinador não falou nada, ele só falou: “Vocês vão jogar, mas se perderem vão falar mal de vocês, porque vocês são melhores”. O primeiro jogo foi 1 a 0. No segundo, começamos ganhando, metemos o gol. Eles tiveram um pouco de respeito e a equipe do Palmeiras era superior. Nesse dia, jogou Jair Gonçalves, um jogador que jogava no meio, de volante. O Brandão sacou o Eurico que vinha jogando todas as partidas e colocou o Jair Gonçalves. Isso porque o Adãozinho era um jogador de meio-campo, então era mais fácil para o Jair Gonçalves marcar. Isso tudo é do treinador. Nós tínhamos um treinador fora de série. O que vinha nós levávamos. É claro, um jogo principal foi um jogo contra o Internacional. Eu tive a felicidade de marcar o segundo gol e fomos para a final contra o Botafogo. Fomos campeões brasileiros. Para mim, foi um dos principais jogos. Mas acredito que a maior parte dos jogos foram fundamentais, para mim, principalmente. Peguei grandes jogadores na minha frente. O Dario foi um dos mais difíceis de marcar, ou o Serginho Chulapa. E nessa época, tinham jogadores ‘boníssimos’.

Copa do Mundo de 1974

– O Brasil foi muito convencido, é o que aconteceu com a própria Espanha, saiu daqui dizendo que seria finalista. No Brasil igual. Vamos ser humildes, a humildade é a principal causa no futebol mundial. Ser humilde representa o respeito que você tem. Para mim, quem surpreendeu foi o Marrocos, apesar de ser um Mundial fraco. Vamos ver o que vai acontecer, a própria Argentina que chegou desacreditada e ganhou o Mundial, pela união que tinha o plantel. O principal jogador fazia a união, não queria ser destaque. Para ele era importante ganhar essa Copa. Foi muito importante, juntou com os jogadores e conseguiram.

Ademir injustiçado na Seleção?

– Eu não gosto de comentar de treinador, eu entendo que o treinador tem um pouco de culpa, que era o Zagallo. Nós tivemos o Leão, eu, o Alfredo, o Leivinha e o César. Nessa época existia uma rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo. Digo uma rivalidade jornalística. Tinha esse confronto. “Vamos colocar mais jogadores do Rio, menos de São Paulo”. Havia essa rivalidade. Apesar de que o Ademir jogou uma partida, e ele não fumava mais. Acabou o almoço, o Zagallo passou por ele e falou: “Você vai jogar”. Ele começou: “Me dá um cigarrinho”. Ele não jogava, mas tinha capacidade. É opção de treinador. Tem o Edu, que jogou no Santos, foi para três Copas do Mundo e praticamente não jogou. Em 66 era novo, em 70 era o esquema de jogo e 74 ele falou: “Eu não sei”. É questão de opção, dos treinadores que têm os esquemas deles.

Diferença entre jogadores da década de 70 e os atuais

– Eu acho o seguinte, eles (jogadores atuais) param porque querem. Acho que têm condições de jogar mais tempo. Os jogadores são diferentes de antigamente. Nós respeitávamos, fazíamos, trabalhávamos. Não tinha essa frescura de ir para cá, ir para lá. Nessa época, éramos muito profissionais. Antigamente também tinham (muitos jogos), os mesmos campeonatos, mesmos torneios. Não vou dizer que a gente não saía, a gente saía, tomava uma cervejinha, mas hoje é muito cheio de frescura. Acho que os jogadores, hoje chega um tempo que dificilmente jogadores ficam mais de dez anos na mesma equipe. Antigamente, ficavam 20, dez anos. Hoje, dois ou três e já quer ir para o outro. A cabeça dos jogadores mudou. Os caras têm de pensar, principalmente, os garotos novos que estão vindo para cá (Europa). Aqui é um lugar que podem ganhar muito bem, mas tem de ter cabeça. Gastar aquilo que pode, porque você sabe, jogador de futebol, quando começa a ganhar muito, compra Mercedes, Lamborghinni. Apesar de que, aqui, o jogador tem um bom carro, o clube para para ele. Na minha época eu tinha de comprar. Única coisa: é para eles serem humildes. Para mim, a coisa principal na vida é a humildade. Uma pessoa que tinha condições de ser acima de tudo e era humilde era o Pelé. Se pensar mil e uma coisas, mostrar a língua para um lado, careta, isso não. É normal marcar um gol, vibrar, fazer o seu. De vez em quando dancinha, mas nem tanto, ‘vale’?

Ida para a Espanha e trajetória no Atlético de Madrid

– A minha vinda para a Espanha veio na parte de torneios. Acabou o torneio aqui, o Carranza, creio que fomos campeões. Fomos fazer uma despedida de um jogador do Atlético de Madrid e ele era casado com uma brasileira, fala português tranquilamente. Fizemos este jogo de homenagem. Acabou o jogo, nós embarcamos. O vice-presidente do Atlético e o médico do Atlético estavam indo para o Brasil para contratar o Ivo e o Sena. Nisso, nós estávamos indo para o Brasil. Em dado momento, chamaram a gente na primeira classe para conversar. Fui eu e o Leivinha e perguntaram se a gente queria jogar na Espanha. Falamos: “Tudo bem”. Quando chegamos no Brasil, Brandão deu folga para nós e no outro dia nós fomos treinar, porque domingo tinha campeonato. Na quarta à noite, o Palmeiras chamou eu e o Leivinha e falou: “Vocês foram vendidos para o Atlético de Madrid”. Para mim foi uma surpresa. Na quinta de manhã, fomos fazer exames médicos. Acabou o exame à tarde, tivemos que pegar um vôo para a Espanha para assinar o contrato. Na sexta-feira, terminaria a janela para contratações. Nós viemos para cá assinar o contrato. Aí ficamos. Para gente, foi importante porque fomos bem recebidos. A torcida do Atlético de Madrid foi como a do Palmeiras. O próprio Leivinha se adaptou bem. Ele se lesionou, foi para o São Paulo e depois parou de jogar. Assim mesmo, é bonito.

Idolatria em Madrid e no Palmeiras

– Para mim, é muito importante. É um significado muito grande, eu vindo de fora, cheguei aqui e fui bem recebido. Talvez por minha maneira de ser. É tudo questão de humildade, você chegar no país e dialogar com o cara que pega o lixo e o empresário. É a mesma coisa, somos gente. Graças a Deus, minha vida toda procurei triunfar. Eu sou uma pessoa normal, sento, vou tomar uma cerveja contigo, como com outros amigos aí, e não passa nada. E conversar de futebol que a gente gosta.

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