Mauro Beting: ‘Visão de criança – Palmeiras 3 x 0 São Paulo’
Eu nunca tinha visto o Palmeiras ganhar do São Paulo em Libertadores em 9 jogos. Em cinco deles eu estava na cabine do estádio. No 1 a 1 na semana passada no Morumbi eu trabalhava na televisão. Comentando pelo SBT. Vendo por ela.
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Com os meus 7 graus de miopia no olho esquerdo. Nesta manhã seguinte, eu operei a catarata. No Day After do Choque-Rei do Allianz Parque. Para evitar o descolamento de retina que eu tive no olho direito em 2017.
O 3 a 0 palmeirense na volta (e que volta de Dudu) no Allianz Parque foi a última visão míope da minha vida. Embaçada. Meia turva. Comprometida. Sem enxergar longe. Sem distinguir direito. Vendo muito menos no escuro.
Mas podendo enxergar mais de perto as coisas.
A compensação.
Não dá para ter Ademir da Guia a vida toda. Mas dá para ter Dudu sempre. Não só o leal companheiro do Divino de 1964 a 1976, uma das seis estátuas do Palestra. Também o Dudu Baixola que em 2015 chegou como chapéu nos rivais. E teve outra atuação de tirar o chapéu na casa onde é quem mais jogou, mais gols marcou, e mais passes para gol deu.
Onde Dudu só não jogou melhor em mais um 3 a 0 contra o adversário que mais perdeu e mais gols levou no Allianz por Raphael Veiga ter feito o primeiro (o terceiro dele de pé direito em 35 gols alviverdes), em grande arrancada de Zé Rafael (de notável atuação na função que Luxemburgo criou para ele). Dudu faria o segundo golaço em lance do não menos talentoso Danilo, no momento em que o São Paulo enfim se encontrava. Até se perder de vez no terceiro, com Patrick de Paula mais uma vez enchendo o pé em clássico, superando o Volpi que dá bandeirinhas nos grandes jogos.
Foi a primeira vitória de Abel contra Crespo. Na melhor atuação do time do português desde que ele chegou para não só treinar bem a equipa. Agora também preparar a torcida e a imprensa. Desta vez sem perder a cabeça com a arbitragem. E aproveitando as infelizes escolhas do argentino.
Se Benítez não tinha condição de jogo, PARA QUE IR AO BANCO? Para Crespo ser mais criticado ainda por o deixar de fora como também fez com Reinaldo? Luciano e Marquinhos fizeram tanta falta no ataque como a presença de Pablo para isolar no segundo tempo a bola do empate servida por Rigoni. Na única falha defensiva de Gómez que voltou a ser o zagueiro GGG que é. Como o jovem Renan parece ter 18 anos como titular da zaga esquerda verde.
Todo o Palmeiras foi bem. Wesley como ala, Marcos Rocha eficiente, Luan em ótimo nível, Rony um tanto isolado – mas ainda muito importante para o desafogo de uma equipe que marcou bem e quis atacar e jogar ainda melhor.
Foi uma grande vitória que desensarilha as cornetas dos bestas do aporcalipse. Com o espírito do mosaico de Oberdan, Jair e Nestor no Paulista do Ano Santo de 1950. O Jogo da Lama. Lema para vencer o rival. E para abrir e ver com outros olhos o ótimo trabalho que Abel realiza. Agora com mais tempo para treinar. Para que talvez os que não gostam dele, do Palmeiras, das vitórias do Palmeiras e do futebol possam apreciar ou ao menos respeitar o que ele faz.
E nem sempre querem enxergar.
Hoje estarei enxergando com meu olho esquerdo o que não vejo bem desde 1982. Quando voa sem crer o Palmeiras de Suca e Darinta sucateado como chumbo na Taça de Prata. Desde então não enxergo bem de longe. Só de perto. E poucas vezes vi de perto pelo SBT uma vitória que mas faz enxergar coisas tão boas lá longe.
Meus olhos voltaram a ver para Palmeiras como eu quando jovem. Mas eles rejuvenesceram antes mesmo de operar. Não é a medicina avançada. É o velho Palmeiras avançando. É a vontade de querer rever o mundo como criança.
Algo que a medicina nem sempre consegue. Mas vitórias como a desta terça nos levam pela mão. Como se fôssemos crianças.
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