Da minha mais tenra lembrança de torcedor Verde, consta o sofrimento no ano da graça de 1981, quando o time de todo mundo só tinha craque e o meu, pobre e velho Alviverde que outrora havia sido imponente, só tinha ele: Baroninho.
Em meio a todas as dragas de Darinta, Toni Gato, Benazzi, Sena, Deda da vida, Baroninho jogava muito com sua perna esquerda e sua impávida camisa 11. O quanto podia. No afã dos 11 anos, eu o xingava como se fosse do mesmo tacho dos caneleiros, naquele velho ímpeto de menino torcedor. Aí passou o tempo…
Veio o futuro e agora, pasmem, eu cuido da saúde.
Correndo ali pelo Campo do Nacional perto de minha casa, eu vi Baroninho treinando o sub-alguma coisa do Santo André no campo ao lado, do Nacional. Ele então é o técnico da molecada e por ali, passava treinos de fundamento para seus atacantes imberbes. Então, lá pelas tantas, cansado de tanto ver coisa ruim, ele resolveu bater na bola.
Com a velha canhota, dos 10 chutes que deu, guardou oito no ângulo, no trinco mesmo. Deu bronca no seu atacante, riu do seu goleiro e como que se soubesse de meu passado de seu difamador, me lançou um sorriso e um desafio ao me ver sozinho na arquibancada do campo do Nacional, onde acontecia o treino.
“Viu como faz, Barbudo? Gosta disso? Dá uns chutes aqui com a gente…”
Desafiado como quem guarda um milhão de amores perdidos, lá fui eu. Junto dele bati na bola. Dos cinco chutes que o músculo da minha coxa deixou dar, guardei quatro. No final, ele comentou.
“Olha que para o tamanho da sua barba e da sua pança, até que você manja da coisa”.
Sorri. Era o fim do treino. Ele pegou uma garrafinha de Gatorade e me ofereceu um gole. Aceitei. Saímos do campo, conversando, caminhando juntos como se fossemos amigos, que as coisas da ludopédia não nos deixou ter sido.
Ao me despedir, ele me deu a mão. Eu apertei e como que por impulso, disse a ele.
“Me desculpa, Baroninho”.
Sem entender nada, ele me desculpou…