Na velocidade do filho do vento. Parabéns, Euller

Me lembro exatamente da minha rotina naquela Libertadores de 1999. Estava cursando o segundo ano do ensino médio em uma escola estadual de Santo André. Nunca quis largar os estudos no ensino público porque não queria largar o esporte que eu tanto praticava lá.

Pois bem. Quando havia jogo do Palmeiras já preparava meu kit: blusa, walkman ou radinho de pilha e silêncio. Na sala de aula, minuciosamente eu guardava o walkman no bolso da calça, passava o fone de ouvido por dentro da blusa por meio de uma das mangas até chegar à minha mão na qual eu recostava a cabeça apoiando o cotovelo na mesa é encaixava o fone em um dos ouvidos.

Enquanto a aula rolava eu ia no meu silêncio consciente dando mais atenção ao jogo do que à aula. Naquele dia não era Libertadores. Era Copa do Brasil. 21/05/1999. Palmeiras e Flamengo. Ainda menor de idade eu não tinha autorização para sair da escola sem a permissão dos pais ou responsáveis legais, tinha 17 anos.

Entrei em um acordo com minha mãe: “ligue na escola e autorize a minha saída. Quero ver pelo menos uma parte do segundo tempo da partida.”. Minha mãe aceitou, pois ela sabia que eu iria para casa mesmo (matava aula somente para ir assistir alguma partida de handebol).

Apita o árbitro, Palmeiras precisava da vitória por um gol de diferença para classificar. Flamengo abre o marcador, Palmeiras empata, Flamengo amplia. O meu silêncio era só por fora porque por dentro, na sala de aula, a vontade era de pular a janela e ir para a quadra, uns 3 metros de altura que muitos tinham coragem de fazer. Chega a inspetora: “Thiago, sua mãe pediu para ir embora”.

Ufa! Lá vou eu nos meus passos desengonçados rumo ao Parque Antártica, quer dizer, pra casa, meu quarto, minha TV. No caminho, empate do Palmeiras. O percurso era em torno de 25 minutos, devo ter feito em 15, sei lá, tipo Filho do Vento. Já estava pensando: já era, vamos ser eliminados, não vai valer de nada essa correria. Burro, perdeu a aula. Também, foi pra escola pensando em futebol, isso que dá.

Restava um raio cair no Jardim Suspenso na mesma velocidade que uma virada por dois gols de diferença que eram necessárias.

Já em casa, Euller, 3 x 2. E na mesma velocidade do dono do jogo, a minha explosão de alegria foi toda derrubada em cima da minha cama. Quebrei a coitada quando Euller, iluminado mais do que minha ideia junto a minha mãe, faz o quarto gol.

Hoje, é dia de agradecer ao homem que me fez aprender a consertar uma cama na mesma velocidade que ele corria pela beirada do campo, na segunda etapa, e por diversas vezes nos fazia comemorar e balançar a arquibancada do Palestra. (E olha que tremia aquela arquibancada, ainda mais em 1999).

Parabéns Euller!

*Por Thiago Rocha