Não ajudamos Mococa

Mococa morreu na noite de sexta-feira atropelado numa rodovia. E eu não fiz nada. Um conhecido dele tentou dar uma força pela fraqueza dos últimos tempos do ex-volante que estreou no Palmeiras em 1978, jogou demais no segundo semestre de 1979 no timaço que levou Telê à Seleção, e sucumbiu no então pior Palmeiras da história, em 1980.

Entrei em contato com quem poderia no futebol e na mídia. Ele pretendia só uma ajudazinha. Tinha perdido a mãe havia pouco. Tinha perdido tudo que ganhara na carreira curta. Ele se perdia tomando o que a vida lhe tomara. E eu não fiz por ele o que ele fez naquele time ao lado de Pires, liberando Jorge Mendonça para criar por dentro, com Jorginho flutuando a partir da direita, Baroninho espetado à esquerda, César ou Seixas no comando de ataque. Era um 4-2-3-1 em 1979 que inspiraria o Flamengo de Carpegiani em 1981-82. O mesmo desenho tático do Brasil de Telê em 1981-82. Tudo iniciado naquele Palmeiras que tanto entregou mas não conquistou.

Como eu que não ajudei Mococa quando ele não pediu nada além de respeito e consideração.

Na célebre manchete do JORNAL DA TARDE “Mococa ou Falcão?” antes da semifinal do BR-79 contra o Internacional, o volante que tinha dinâmica para chegar como meia foi elevado a uma categoria que não era dele. E deu “Falcão, é claro!”, no jogo daquela noite, e na manchete seguinte do JT. Na fabulosa partida do Falcão que não se compara. Como também vi traços de Mococa no que jogou Tchê Tchê em 2016 e no que não jogou desde então. Como Mococa quando foi perambular por outros clubes depois de deixar o Palestra.

Tchê Tchê não é Mococa. Nem Mococa

era o Gilmar Justino Dias que morreu ainda sem se saber como. Vida não se compara – se ampara. Eu não ajudei Mococa. E parto um pouco com ele pelo que não fiz.