O nosso Felipão. Ou melhor: o meu

Felipe, você vai ser sempre o treinador não só que nos deu a América em 1999. Mas o que correu para abraçar primeiro os gandulas que jogavam bolas para atrasar seus jogos quando Zapata chutou fora. Pra mim você vai ser sempre o tiozão que roubava os brigadeiros antes de cortar o bolo para as crianças. O cara que nem sempre faz as coisas corretas. Mas sempre na intenção de ajudar quem é da casa. Quem é nosso e não aparece. Mas faz parte do jogo. Ainda mais o seu.

O paizão que mandava ter raiva do rival. O que treinou time, diretoria, imprensa e torcida. O que injetava sangue pra virar contra o Flamengo faltando 5 minutos em 1999. O que xingava o Oséas por fazer aquele gol no último chute doido contra o Cruzeiro em 1998. O que virou contra o River. O que não era favorito contra o Corinthians duas vezes e contra o Vasco. Na segunda vinda não era contra o Grêmio em 2012. O que poucos queriam em 2018 e quebraram a cara, queimaram a língua, ou não respeitaram o cara.

E que cara! Feia, bronca, emburrada, impaciente, mal humorada. Um monte de coisa. Tanta careta como tantos canecos.

E que cara! Leal como um cão, bravo como cachorro, amigo demais dos amigos, duro contra quem considera inimigo. Até quando é só adversário. Até quando só pensa diferente. Até quando discorda vez e outra de você. E você vira a mesma cara tão cara.

Obrigado por tudo, Felipão. Não só por tudo que ganhou. Mas por tudo que me ensinou, me acolheu, pela preleção que pediu pro meu pai na decisão da Mercosul de 1998, pelos cafés na sua salinha, pelas dicas que trocamos, pelas discussões, pelas entrevistas que deu, também pelas que não quis dar.

Tenho um quadro em casa que é o da foto. Explicar para quem não torce é desnecessário. Para quem teve a alegria em 1997 a 2000, 2010 a 2012, 2018 até o dia do meu aniversário em 2019, impossível.

Discuto muito suas ideias e práticas. Discordo de muitas posições e posicionamentos. Mas discordo muito mais de quem diverge de você só olhando o seu lado ruim. Porque quem é da família pode falar mal. Mas vai defender até o indefensável contra quem torce contra.

Perdoai-os, Ademir da Guia. Eles não sabem como é bom ter um cara como você ao nosso lado.

Boa sorte que você sempre fez por merecer. E obrigado por virar um dos nossos. Com todos os nossos defeitos com que nascemos. E com todos os que você nos trouxe e aprendeu a ter.

Um abraço de gandula de 1999 para você. Obrigado pelos doces e taças que você pegou antes da hora na mesa pra tanta gente.